19 de Maio de 2024

OPINIÃO Sexta-feira, 31 de Maio de 2019, 15:11 - A | A

As Asvolinsque em Cuiabá -

Por Neila Barreto

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O imigrante, conforme Jorge Amado, saiu “das montanhas da Síria e do Líbano, desceram com o seu agudo perfil, sua capacidade de trabalho e de sonho, sua ânsia de viver, sua áspera coragem. Atravessaram o mar oceano e desembarcaram no Brasil. No dia seguinte todos eles eram brasileiros, brasileiros dos mais autênticos, dos mais característicos, nacionalíssimos. Em nossa democracia racial – nossa contribuição à cultura universal, ao humanismo – o sangue árabe desempenha um papel da maior importância”.

Assim como os árabes, os Wolinsky vieram do Império da Rússia, do gueto Horkhov, a 487 quilômetros de Kiev, hoje Ucrânia, sob o reinado do último Czar da Rússia Nicolas II, que nasceu em 1868 e, reinou de 1894-1917 e, chegaram até Cuiabá. A expulsão dos judeus da Rússia começou no reinado do Czar Alexandre III (1881-1894).

A família Wolinsk foi expulsa da Rússia em 1909 junto a outras famílias judias. Das famílias expulsas, um tronco foi viver em New York, outro em Santa Fé, na Argentina e a família de Leib Wolinski fixou residência no Brasil e, depois Mato Grosso, na bela Cuiabá, muito antes do grande processo migratório, para Mato Grosso, conforme testemunha Nétie Asvolinsque.

  

A história das mulheres Wolinsky inicia no Brasil com Leib Wolinsky, naturalizado brasileiro com o nome de Leão Asvolinsque, nascido a 25 de maio de 1907 e falecido a 19 de outubro de 1996, em Cuiabá. Adentrou a América do Sul pela Argentina, passou pelo Paraguai e, depois, Cuiabá, em 1925, acompanhado de seus pais Mocha Wolinsky, depois aportuguesado para Maurício Asvolinsque e Hanna Schejtman, para Joana Asvolinsque e, de seus irmãos João, Jacob, Roberto e Bernardo, todos carpinteiros.

Na Rússia, a família Wolinsky tinha como tradição de profissão, a carpintaria. Leão cresceu vendo o seu pai exercer com maestria, o domínio da madeira, aprendia com os olhos e ficava maravilhado com a facilidade com que seu pai manejava a arte de fazer os trabalhos com a madeira. Fascinado pela profissão do pai, aprendeu com rapidez a identificar os diversos tipos de madeiras existentes em Mato Grosso. Ouvido primoroso passou a decorar o barulho da serra no ato do corte da madeira e, por meio do olfato privilegiado, pelo cheiro forte da serragem que inundava o local, Leão, ainda jovem, conseguia identificar se a madeira estava verde e, qual o tipo de madeira estava sendo trabalhada no momento. Não teve dúvidas. Seguiu a profissão paterna. Em Cuiabá nasceram mais quatro irmãos: Rosita, Eufrosina, Esther e Daniel.

A história das mulheres “Wolinsky” se confunde com a história da Carpintaria Leão, fundada por Leão Asvolinsque, antes localizada na Avenida Fernando Corrêa da Costa, n° 420 e desativada em 1984, em Cuiabá. Leão iniciou os seus trabalhos, em 1937, com uma serra circular para cortar a madeira, nascendo assim, a primeira indústria madeireira de Mato Grosso. Visionário, à época, investiu em propagandas no rádio e, muitas obras em Cuiabá, ainda, possuem móveis e artefatos em madeira produzidos por Leão.

Aos 13 anos de idade Leão já trabalhava, como arrimo de família para sustentar a mãe e 8 irmãos. Um judeu ucraniano de pele clara, olhos castanhos, cabelos ruivos, diferente dos “tipos mato-grossenses”, logo se apaixonou por uma linda cuiabana.

Em Cuiabá, Leão Asvolinsque casou-se com Eurydice Gomes Asvolinsque (Petita), nascida a 15 de janeiro de 1910, em Cuiabá, filha de Flaviano Gomes de Barros e Celestina Corrêa de Barros, falecida a 16 de maio de 1995, em Cuiabá.

Foi com essa companheira que Leão encontrou abrigo e construiu parcerias sólidas. Após o casamento, Petita assumiu com o marido a família dele e, com muitos sacrifícios sustentaram sua mãe, oito irmãos e, criaram as filhas que conceberam durante o casamento, as “Mulheres Asvolinsque”: Nétie, Nize, Nizete e Nélza. Todas chegaram ao mundo pelas mãos da parteira Francolina.

Nétie Asvolinsque deixou a cidade natal em 1959 para estudar Terapia Ocupacional na Escola de Reabilitação do Rio de Janeiro.  Após formada, em 1963, retornou para a capital mato-grossense onde tornou-se a primeira Terapeuta Ocupacional do estado. Em 1975, foi convidada pelo governador do Estado para planejar e montar o primeiro Centro de Reabilitação no Norte Oeste do Brasil, o Centro de Reabilitação Dom Aquino Corrêa, em companhia de Maria Ligya de Borges Garcia. Em 1979, por ocasião dos Jogos Olímpicos para os deficientes físicos no Rio de Janeiro, ela formou uma equipe de profissionais que levou 15 pacientes do Centro de Reabilitação Dom Aquino Corrêa e trouxeram para Mato Grosso sete medalhas de ouro, foi a primeira vez que o nosso Estado participou de uma Olimpíadas como esta.

Nétie Asvolinsque, casada com Albert Riley Howard, pais de Inda Lucille Howard, Albert Riley Howard Junior, avós de Aaron, Jonathan, Logan e Collin; Nize Asvolinsque Peixoto, casada com Walter Cavalcanti Peixoto, pais de Walter Leão Asvolinsque; Esther Asvolinsque Peixoto; Flávio Marcus Asvolinsque Peixoto, avós de Leonardo e Tiago. Nétie e Nize nasceram no bairro Beco Quente, no Porto, em Cuiabá; Neizil Asvolinsque, divorciada; Nizete Asvolinsque, divorciada, a primeira tabeliã concursada, em 1º de maio de 1969, em Mato Grosso; Nelza Luci Asvolinsque Faria, casada com Diogo de Faria, pais de Gláucia Asvolinsque Faria; Cesar Asvolinsque Faria; Etiene Asvolinsque Faria, avós de Rebeca, Ana Gabrielly e Davi. Nizete e Nelza nasceram no casarão do médico Rubens Tavares, na maternidade do Hospital Geral, pelas mãos do médico Luiz Alves Corrêa.

O menino judeu, uma sementinha que Deus plantou em Israel, cresceu como um cuiabano, plantou suas profundas raízes em uma Cuiabá, do século XIX. Conseguiu transformar um tronco frondoso em árvores frutíferas, em famílias e, contribuiu para a história de Cuiabá, com a bela arte de fazer com as mãos. Oh! Que mãos! Que belas mãos! Né Leão”. Espalhadas pela cidade, ainda, podemos encontrar suas belas obras de artes, nas residências e nos comércios da cidade verde.

Hoje, suas “Belas Asvolinsque” contribuem, assim como, você contribuiu, para uma Cuiabá, em pleno 300 anos, deixando aqui plantadas as suas ramificações traduzidas em famílias Asvolinsque; Asvolinsque Peixoto; Leão Asvolinsque, Asvolinsque Faria; Howard, Albert Riley Howard Junior.

Leão Asvolinsque recebeu o Mérito Industrial Júlio Müller, outorgado pela Fiemt, após uma avaliação do Conselho de Representantes composta da Fiemt, Universidade Federal de Mato Grosso, Academia Mato-grossense de Letras, Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e Federação do comércio do Estado de Mato Grosso e Federação da Agricultura do Estado de Mato Grosso.

Na atual Cuiabá, após participar de concurso para Tabeliã, em Mato Grosso, em 01 de maio de 1969, Nizete Asvolinsque e as irmãs “Asvolinsque”, administram um cartório em Cuiabá.

Entre outros feitos, a dra. Netié também participou da criação e montagem do primeiro Ambulatório para Tratamento dos Dependentes de Álcool e outras Drogas em Várzea Grande. Com 83 anos de idade, ela atualmente trabalha na área de prevenção ao uso das drogas e no tratamento dos dependentes químicos e, também, exerce as suas funções junto ao cartório, na cidade.

(*) NEILA BARRETO SOUZA BARRETO é jornalista, escritora, historiadora e Mestre em História e escreve às sextas-feiras para HiperNotícias. E-mail: [email protected]



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