15 de Setembro de 2024

VARIEDADES Segunda-feira, 07 de Novembro de 2022, 08:46 - A | A

ÚTERO DIDELFO

Advogada faz sucesso com "críticas" a restaurantes em Cuiabá

Perfil no Instagram foi criado pela advogada Natália Ferreira e tem mais de 5 mil seguidores

Angélica Callejas - Midia News

advogada

 advogada Natalia Ferreira

O perfil no Instagram Provei Cuiabá tem feito sucesso com avaliações de pratos da alta gastronomia e das comidas de rua em Cuiabá. A página apresenta o que de melhor a Capital tem a oferecer aos amantes de uma boa comida, e não perdoa os “pesadelos da cozinha”.

 Entre as diversas avaliações, algumas geraram burburinho, como as detonadas que ela deu em casas “queridinhas” de Cuiabá: o renomado Mahalo, o japonês Haru e o recém-aberto Aragon. 

 O perfil, que atualmente tem 5,7 mil seguidores, foi criado em 2019 pela advogada Natalia Ferreira, de 32 anos, como um hobby, por incentivo dos amigos.

 Segundo ela, outro motivo que a fez começar o perfil foi porque não encontrava nenhuma página na rede social que tivesse como foco falar sobre comida em Cuiabá.

“Eu sempre saí muito. Antes da pandemia, principalmente, todo dia era um restaurante, bar... E eu falava: “Ah, está ruim” no meu perfil pessoal ou para os meus amigos. E com o tempo, eu acabei virando uma referência para eles”, conta.

 “Não sou crítica. Sou advogada, sou mergulhadora, e nas horas vagas falo o que penso. Quando eu vi que o perfil começou a crescer, vi que tinha uma responsabilidade muito maior”.

 A advogada relata que seu conhecimento sobre culinária e gastronomia foi herdado de sua mãe, que, segundo ela, sempre teve senso crítico e cozinhou muito bem e depois acabou por cursar Gastronomia.

 “E aí, com o perfil, passei a estudar mais. Além do que ela já havia ensinado, fui estudar mais na internet, buscar livros, textos, sobre a gastronomia. Hoje na maioria das vezes eu não me dou o luxo de simplesmente comer. Eu presto atenção em tudo, no sabor, na textura, temperatura”.

Natalia publicou, em fevereiro deste ano, a avaliação de um jantar no Mahalo, o restaurante mais premiado de Mato Grosso.

 Logo na introdução da postagem, ela escreveu: “Mahalo vem variando entre pratos incríveis e desastres inexplicáveis”, e em seguida relatou como uma sucessão de erros na execução dos pratos, e no atendimento durante um jantar no restaurante, tornou sua noite um “pesadelo”.

 “O risoto estava bom, não estava ruim, mas pagar R$ 148 em um prato de arroz, risoto, né? E foi tudo um conjunto. Eu já vinha de outras visitas que não tinham sido boas, e essa foi para matar de vez as experiências que eu vinha tendo lá. Mas não tira a importância histórica que o Mahalo tem”, reconhece.

 Após a avaliação, houve uma grande repercussão por se tratar de um local prestigiado, e os comentários a favor e contrários encheram a aba de notificações do perfil.

 “Falar do restaurante que a pessoa tem apego, apontar erros, gera mesmo [um alvoroço]. Eu perdi seguidores, mas eu acho que teve mais apoio. As pessoas se sentiram mais à vontade para falar do que teve de negativo”.

 A advogada contou ainda que depois da publicação, a chef do Mahalo, Ariani Malouf, ligou para conversar e se desculpar pelo ocorrido. Segundo ela, Ariani ainda a agradeceu pela crítica, pois viu, através dos outros relatos, que não tinha sido uma experiência isolada. “Ela foi uma querida. E teve uma humildade muito grande".

 Aragon e Haru, para que te quero?

 Algumas das publicações mais recentes do Provei Cuiabá, no feed e story, respectivamente, são referentes ao Aragon e ao Haru Oriental, duas casas badaladas da cidade. O primeiro foi marcante o suficiente - no mau sentido - para Natalia avaliar prato a prato, além do bônus de aviso do péssimo atendimento.

 

A advogada explicou que não tem costume de ir em restaurantes recém-abertos para avaliar, porque no início da operação acontecem ajustes, mas como o Aragon é uma franquia ela esperava por um padrão.

 “Calhou que tudo que eu comi estava bem lamentável, e o atendimento também foi muito ruim, o garçom foi bem rude. Acho que o propósito deles é outro: um ambiente bonito, que as pessoas vão gostar de ir para tirar foto, beber, estar ali”, contou.

 Na avaliação, ela escreveu o seguinte: “Se me perguntar o que mais gostei no Aragon, acho que foi das luzes que piscam conforme a música".

 Já o Haru foi brevemente citado no perfil quando um seguidor questionou, pela caixa de perguntas, qual era a opinião dela sobre o estabelecimento e, obviamente, a comida. A resposta foi simples e direta: “Quero distância”.Polvo e risoto Mahalo - Provei melhor

 “O Haru serve um tipo de comida japonesa que não me apetece, e também é tecnicamente equivocada. Entra na questão de concessões, mas é uma coisa muito longe da gastronomia oriental e vai no mesmo caminho do Aragon. É muito status”.

 “A Praça Popular já tem aquele ar, de estar ali pela localização. As pessoas adoram ir em local que a comida é cara só para falar que comeu em local caro. É um problema do próprio público”.

 Os preferidos

 Apesar das avaliações negativas terem mais repercussão pela polêmica, nem só de experiências gastronômicas ruins vive a advogada. Basta rolar pelo feed do Provei Cuiabá para ver uma variedade de recomendações positivas pela Capital.

 Um dos queridinhos da advogada é Mobi Halal, restaurante familiar de comida árabe e bastante simples. Criado em agosto de 2017 por um casal sudanês, “o local foi pensado para provocar uma experiência única e aconchegante aos visitantes”, descreve a apresentação do restaurante.

 

 “A primeira vez que eu fui lá… Eu nunca fui para o Oriente Médio, mas parecia que eu estava lá. Aquela coisa de novela, que fica no imaginário da gente. Parecia que eu tinha sido teletransportada para lá”, contou.

 “Eles não têm muita ligação com rede social... Estão só servindo a comida deles, e pronto. Tem uma salada que eu sou apaixonada, fattoush, que vem com pão sirio crocante. É muito boa. O quibe, a esfiha de zataar também são muito bons… As pastinhas… basicamente tudo! Os valores também são bons, bem acessíveis”.

 “É um dos locais que eu mais gosto de comer aqui. A comida vem um banquete! Serve essa mesa toda. Serve várias pessoas e é uma comida deliciosa!”.

 Carpaccio Angus Aragon - Provei melhorA advogada também não poupou elogios ao Verso Gastro Bar, da chef Paula Borges, e ao Canto Cozinha e Conforto, da chef Francyne Rabaioli. Segundo ela, há autenticidade, além da preocupação com a execução - este último, que ela enxerga ser deficiente em vários restaurantes da Capital.

 “O Verso é um restaurante que por mais que vez ou outra tenha concessões, acredito que ela segue muito a linha dela, sem pensar só em agradar o público geral”.

 “A Paula é muito versátil. Tem muita criatividade, e traz um pouco da regionalidade. Os coquetéis são muito bons. Eu adoro a caipirinha com guaraná ralado, traz um pouco da cuiabania para uma coisa que é clássica. E isso é maravilhoso”.

 A pizza napolitana

 Clássica e aclamada em todo o mundo, a pizza napolitana, especialidade da cidade de Nápoles, na Itália, pode ser encontrada em Cuiabá, na Bravi, outro restaurante elogiadíssimo por Natalia.

 “Eu sempre falo da Bravi, porque acho que ela está mil anos luz à frente das pizzarias de Cuiabá. Eles têm uma preocupação muito grande, buscam certificados internacionais”.

 “Lá não tem ketchup, não tem maionese. Não é permitido, justamente porque eles buscam esse padrão de qualidade de pizza napolitana”.Bravi pizzaria

 O método de avaliação e as críticas (a ela)

 A advogada conta que a escolha pelos restaurantes divide-se em atender aos pedidos dos seguidores e o próprio interesse. Ela explica que geralmente opta por ir aos locais que já estão estabelecidos, e que tenham alguma importância.

 “Eu avalio muito o que as pessoas estão pedindo, e a questão de afetar ou não o comércio. É muito diferente eu falar do Mahalo, um restaurante premiadíssimo, e falar do restaurante da esquina.Tem que ter responsabilidade”, ponderou.

 

 Ela também não aceita fazer parcerias pagas com restaurantes para ser imparcial nas avaliações.

 Segundo Natalia, por enquanto, não há uma possibilidade futura disso acontecer, também porque pretende manter o perfil como um hobby, sem a exigência de estar constantemente fazendo publicações.

 “Até porque é isso que mantém a minha liberdade de postar da maneira que eu quero, porque não recebo nada de ninguém. Posso estar indo em um local hoje e adorando. Se cair a qualidade, estou livre para fazer uma resenha negativa”.

 Apesar disso, ela disse que não rejeita receber os pratos ou convites. “Quem quiser me mandar alguma coisa, eu recebo, com todo carinho. Como, e se eu gosto, se eu acho que é uma comida boa, que valha a pena postar, posto gratuitamente. Não cobro nada por isso”.

 Questionada se já passou por alguma situação constrangedora por conta de suas avaliações, a advogada respondeu que mantém boa relação, de respeito, com a maioria dos chefs, mas que já ouviu relatos de descontentamento de alguns.

 “Eu sei que tem gente que se incomoda. A gastronomia é uma coisa engraçada… Você é uma jornalista e podem falar do seu trabalho, eu sou advogada, estou passível à crítica. Todo mundo é passível de crítica. Mas o chefe de cozinha é intocável”. 



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Cláudio Coelho Barreto Júnior 07/11/2022

Parabéns pelo belo trabalho.

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