A definição no dicionário traz que, civilidade é um substantivo feminino que significa observação das conveniências, das boas maneiras em sociedade; cortesia, urbanidade, polidez. O seu sinônimo é urbanidade. Vem do termo romano civitas, que é, ao mesmo tempo, o agrupamento de cidadãos, a cidade enquanto corpo físico, e o conjunto de regras para se viver em grupo, o que caracteriza um pacto de não-agressão. No cotidiano sofremos isso até nos gestos e expressões de desdem.
Para Roger Chartier o plural do plural “civilidades”, “remete aos usos e intercâmbios de um código de polidez reconhecido por uma sociedade distinta, fazendo menção ao Tratado de Erasmo, publicado em 1530, que foi um código de condutas éticas de imenso sucesso editorial, que rejeita os modelos aristocráticos da época pregando que a civilidade deveria ser uma instrução de um grupo moralizadora, determinado, e deveria começar pelas crianças fazendo do aprendizado escolar a primeira instrução.
O autor, também, indica sempre citando autores como Antoine de Courtin, com quinze edições entre 1671 e 1730: o livro “Novo Tratado de Civilidade que se pratica na França entre as pessoas honradas”. A intenção da obra é a instrução dos jovens, reatando com a tradição erasmiana, que a civilidade pode ser uma virtude cristã, a caridade, pois deve ser uma questão de cada um, diferenciando o Homem do Animal, distinguido na sua execução em tantos comportamentos convenientes a cada estado ou situação (...)”.
O outro lado, no cotidiano de nossas vidas encontramos muitos homens e mulheres agindo como animais irracionais, em comportamentos, gestos e posturas. Coisas de arrogantes! Coisas de quem não quer perder o poder! Para este intelectual, estudar a civilidade é entrar no coração de uma sociedade.
Em nosso dia a dia esses comportamentos, a cada dia que se passa, torna-se mais difícil, principalmente, nas relações humanas. Muitas vezes percebemos a aprovação de algo ou alguém, algumas vezes em público por medo, interesse ou civilidade, o que internamente reprovamos por dever, consciência ou razão, segundo o Marquês de Maricá, onde há mentiras que são enobrecidas e autorizadas pela civilidade, conforme a “Fonte Pensador”.
A Escola de Gentileza nos ensina que, por civilidade as pessoas podem esperar respeito, tolerância, cortesia, consideração e abordagem racional de conflitos. Há uma expectativa que todos sigam as normas sociais que lhes permitam relacionar-se de forma produtiva e positiva. Porém, no dia a dia isso não acontece. Por trás das cortinas a maldade assola, principalmente, se você não acompanhar o “amém”, ditado pelos diversos grupos. O tal código de ética passa longe.
Em qualquer ambiente de trabalho sempre esperamos por civilidade. A falta dela, além de atrapalhar o desempenho das pessoas a não observância da civilidade na comunicação pode gerar conflitos e criar um ambiente com animosidade. A harmoniosidade e o profissionalismo são qualidades indispensáveis para um ambiente de trabalho saudável e produtivo, onde as pessoas se sentem confortáveis e dispostas,de acordo com as informações advinda do “passadori. com.br.”
Muitas vezes as pessoas, na pressa do dia esquecem de exercer esse comportamento. Temos muitos exemplos, ou seja na praia, no campo, em viagem ou simplesmente andando pela rua ou de carro, os resíduos de lixo não podem mais ser abandonados, fingindo-se que não trazem consequências. Coletar seu próprio lixo, impedindo que ele entupa bueiros ou degrade o meio ambiente é, nos dias de hoje, além de educado, um ato de cidadania.
Outro exemplo, em nossa cidade é o desrespeito aos pontos de travessia dos pedestres onde a falta de civilidade do trânsito causa inúmeros acidentes e mortes, com acentuado deslizes, principalmente, dos motoqueiros e motociclistas, entre outros. E o comportamento ainda vem acompanhado de xingamentos, gestos obscenos ou o tradicional “você sabe com quem está falando! ”.
Assim, aprendemos pela visão reformulada por Pierre-Louis Lacretelle que: “Ensinar a civilidade, portanto, não é inculcar maneiras arbitrárias, que cada um descobrirá pelo uso, mas inscrever no coração da criança, sentimentos de humanidade”. Senhores professores, eis uma bela tarefa para as salas de aulas!
A incivilidade está presente nas comunicações agressivas, nas críticas agressivas de um colaborador em relação ao outro, não ter comportamento abusivo em relação ao outro, evitar palavrões e, por ai vai...
Roger Chartier nasceu em Lyon, na França, em 1945 e é um historiador vinculado à atual historiografia da Escola de Annales. Ele estuda a história da cultura e dos livros e a trajetória da leitura e da escrita como práticas sociais. Trata-se de uma reflexão teórica inovadora que abriu novas possibilidades para os estudos em história cultural e estimula a permanente renovação nas maneiras de ler e fazer a história.
(*) NEILA BARRETO é jornalista, historiadora ,presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e membro da Academia Mato-grossense de Letras.