19 de Maio de 2024

OPINIÃO Sexta-feira, 23 de Fevereiro de 2024, 12:42 - A | A

Estevão Torquato da Silva: um prefeito que deixou saudades

“Torquato era sempre convocado para os trabalhos que exigiam seriedade e dignidade”.

Neila boa

 Neila Barreto

Estevão Torquato da Silva foi prefeito de Cuiabá de 29 de maio de 1986 a 22 de abril de 1987 e de 6 de maio de 1987 a 4 de junho de 1987. Dentista. Militar, político brasileiro e religioso, acordava todos os dias para rezar o terço na Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, vizinha da sua casa.

Nasceu em Cuiabá, no dia 2 de agosto de 1923, no Beco Quente, no bairro do Porto. Viveu uma infância nem pobre nem rica, apenas foi feliz. Era filho de José Torquato da Silva, advogado provisionado e Osvaldina Evangélica de Campos, irmão de Nélcia, José (gêmeos), Júlia, Estevão, Benedito, Samuel, Carlos, da segunda núpcia e da primeira, com Maria da Silva França, teve Hermínia Torquato da Silva.

Estevão Torquato da Silva casou-se com Bertolina Nascimento da Silva, cuiabana, filha de Benedito Pedro do Nascimento (conhecido na cuiabania da época como “Benedito Risonho”, enfermeiro e clarinetista da banda de Mestre André Avelino Ribeiro, do Colégio São Pedro, localizado no Morro da Luz, hoje Clube Esportivo Dom Bosco e Alice da Costa do Nascimento, pai de (José falecido em 1946, Niterói, RJ), Maria Luiza, Luiz Estevão, Luiz Antônio( falecido em 1994), Luiz Carlos, Márcia Luiza e Luiza Márcia, gêmeas,(a última falecida em 2010); O casal Estevão e Bertolina ainda criou , como seus: Joanice Cursino Ortiz e Ângela Maria da Silva.

O pai de Estevão Torquato da Silva, José Torquato da Silva foi Sócio Fundador: do Instituto Histórico Geográfico de Mato Grosso, IHGMT , em janeiro de 1919, embrião da Academia Mato-grossense de Letras - AML e da Loja Maçônica Acácia Cuiabana – (in Revista do IHGMT, N°78, 2015, páginas 168/253 ); fundou com João Bento, líder Operário, o PSB - Partido Socialista Brasileiro, fluindo dessa exuberante fonte exemplar a dedicação, pertinência ao saber formal, sobretudo em primeiro plano, a dependência Divina, pontuada em todo seu existir terreno.

Na escola, quando terminou o ginásio com 17 anos, logo depois entrou no exército, no 16º BC (Batalhão de Caçadores), na capital como voluntário, o qual funcionava, hoje, no Sesc Arsenal, para fazer o curso de cabo do Exército. Mais tarde, realizou o curso de contabilidade na antiga Escola Técnica de Comércio em Cuiabá, tornando contador. Àquela época o curso tinha status de nível superior, mas, o seu sonho era estudar no Rio de Janeiro, como era costume dos jovens de posse, daquela época.

Em 1942, Torquato foi promovido a cabo e começou a estudar contabilidade. Nessa época, tornou-se um exímio datilógrafo, o que lhe permitiu ser o assessor do general que presidiu em Mato Grosso a Comissão de Investigação e Sindicância, durante a ditadura militar. A Comissão era responsável por prender e reprimir as pessoas contrárias ao regime. Cabia a Torquato datilografar os relatórios elaborados sobre os presos. Entretanto, Silva Freire e Agrícola Paes de Barros, entre outros presos políticos, reconheceram naquele jovem datilógrafo não um algoz, mas um amigo para as conversas e consolo.

Após o curso de contabilidade rumou para o Rio de Janeiro, onde teve a oportunidade de tornar-se cirurgião-dentista pela Faculdade Fluminense de Medicina. Como era militar, também se tornou oficial-dentista pela Escola de Saúde do Exército. Era o sonho se realizando.

Depois desse período, Torquato fez um concurso para entrar na Escola de Saúde do Exército, no Rio de Janeiro. Conseguiu passar, como ele mesmo diz, num puro golpe da sorte: havia lido, uma hora antes, um artigo da revista Seleções que falava exatamente sobre o assunto que caiu nas provas. Passou um ano no Rio de Janeiro e voltou de lá, em março de 1952, como subtenente e cirurgião-dentista. Conseguiu que instalassem no 16º BC um consultório odontológico e montou o seu, particular, na rua Cândido Mariano, centro de Cuiabá.

Em Cuiabá, fez o curso de economia na Faculdade de Economia da Universidade Federal de Mato Grosso, antiga Faculdade de Ciências Econômicas de Mato Grosso, hoje Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, realizando o seu estágio na Universidade de San Diego.

No ano de 1967, o recém-reformado tenente-coronel do Exército, Estevão Torquato da Silva iniciava sua carreira política. Candidatou-se a vereador pela UDN (União Democrática Nacional). “Para ser eleito, não precisei fazer campanha. Simplesmente telefonei para os muitos amigos que havia cultivado em 43 anos de vida”, testemunhou ele à época. Participou da fundação, em Mato Grosso, do Partido Popular (PP) que, mais tarde, fundiu-se com o MDB para formar o PMDB (partido do qual foi presidente). Por esta sigla, em 1978, elegeu-se deputado estadual. Foi eleito vereador em Cuiabá em 1979/1983 e deputado estadual por Mato Grosso, em 1978. Foi eleito vice-prefeito de Cuiabá em 1985 e assumiu o cargo de titular em 1986-1987, quando Dante Martins de Oliveira (PMDB), teve que deixar a prefeitura de Cuiabá para ocupar o cargo de Ministro da Reforma Agrária, no governo do presidente José Sarney.

Quando prefeito de Cuiabá, Estevão Torquato da Silva, com apoio e recursos capitaneados, pelo então ministro Dante de Oliveira conseguiu construir 23 colégios, 19 escolas rurais, 20 postos de saúde, 3 policlínicas e o hospital do Pronto Socorro de Cuiabá”, diz Torquato, com orgulho. “Um dos meus maiores sonhos era ser prefeito da Cuiabá que eu tanto amava! E consegui”. Ele lembra também que, nessa gestão a peemedebista, Serys Slhessarenko era secretária da Educação e, Wilson Santos, subsecretário de Serviços Públicos, conforme relatos da academia de ciências contábeis.

Depois disso, Torquato não mais se candidatou a cargo político. Foi editor-chefe da prefeitura nas administrações de José Meirelles e no início da gestão de Roberto França. Quando Dante de Oliveira foi eleito governador do estado de Mato Grosso, o nomeou chefe do Departamento de Licitação do Prodeagro, cargo que ocupou até a sua partida.

Estevão Torquato dirigiu a Escola Técnica Federal de Mato Grosso, atual Instituto Federal de Mato Grosso -IFMT e foi diretor financeiro das Centrais Elétricas Mato-grossenses, hoje Energisa Mato Grosso. Foi presidente do Lions Clube (unidade Centro) e fundador do Lions Clube Cuiabá Norte; diretor-tesoureiro do Clube Náutico de Cuiabá; professor de Ciências Contábeis da Universidade Federal de Mato Grosso-UFMT; membro do Conselho Diretor do Abrigo Bom Jesus de Cuiabá; 2º vice-diretor da Santa Casa de Misericórdia; membro do Conselho da Fundação Dom Aquino Corrêa; tesoureiro da Pia União de Santo Antônio, entidade filantrópica de ajuda a famílias pobres e presidente do Mixto Esporte Clube.

Uma de suas memórias deixadas para a eternidade, ele frisou: (...) mas o coração de mixtense também bate forte dentro do peito de Torquato. A paixão pelo clube começou muito cedo. Ele, de fato, jogou, quando jovem, no time de aspirantes do alvinegro. Em sua gestão como presidente (ele não se lembra em que ano), o clube sagrou-se campeão estadual. “Hoje dói o coração ver o Mixto perder a sua sede. Se eu fosse um homem são, eu ia reerguer o Mixto!”, diz. Para ele, a volta do público aos estádios mato-grossenses passa, em primeiro lugar, por uma restruturação dentro da Federação de Futebol (...).

Faleceu a 24 de agosto de 2008, em Cuiabá. Ocupa a Cadeira 21 da Academia Mato-grossense de Ciências Contábeis – Amacic.

(*) NEILA BARRETO é jornalista, historiadora, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e membro da AML. 



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