Cuiabá comemora 304 anos de existência. Oh! Bela Cuiabá! Continua formosa e hospitaleira. O seu nome está ligado ao rio homônimo, desde o seu nascimento como a vila Real do Bom Jesus de Cuiabá e, depois cidade.
Nas várias versões da história da vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá e da cidade de Cuiabá, o rio homônimo foi roteiro de aventuras esplendorosas, de epopeias trágicas e grandiosas, de práticas cotidianas quase invisíveis a viajantes e desbravadores.
É um elemento principal de paisagem e turismo, representa vida para a cidade. Vivemos em contato com ele, vivemos dele, somos íntimos dele. A nossa culinária está ligada a ele. O nosso linguajar está ligado nele. O nosso peixe advém dele. As hortas estão em seu entorno, a cerâmica, as redes, a cana e a rapadura e, hoje uma vida cultural intensa nas suas margens.
Karl Von den Steinen assim descreveu o seu olhar sobre a cidade de Cuiabá: (...) uma linda cidade balneária alemã, numa tarde de domingo, quando toca a banda militar. Imaginou encontrar-se num vilarejo da Turíngia ao constatar “a liberdade patriarcal do bom gado”, ao verificar a sem cerimônia com que porcos, cabritos e, outros animais andavam pelas ruas, hoje não mais existentes.
O rio Cuiabá nasce na Serra Azul, onde é débil veio cristalino. Vem descendo e lambendo o sopé da cordilheira grandiosa, borbulhante, seguindo o caminho do seu destino, semeando vida, informa Maria Salete Ferreira. O rio Cuiabá nasce na microrregião de Rosário Oeste (MT), na localidade da Serra Azul. Tem como afluentes, os rios Pari, Manso Coxipó e São Lourenço.
As cabeceiras de drenagem, ou “veredas”, ocorrem nas serras Arara e Azul, e no planalto da Chapada dos Guimarães (MT). Sua principal nascente está localizada em Rosário Oeste (MT), a 120km da capital. A porção Sul é ocupada por extensa planície (terras baixas e planas), constituindo o Pantanal mato-grossense.
O rio Cuiabá e seus tributários é responsável pelo abastecimento público de água potável na área de sua bacia. Nos municípios de Cuiabá (MT) e Várzea Grande (MT), o rio Cuiabá atende respectivamente 95% e 82% da demanda de água potável. Toda água potável consumida pela população da micro bacia retorna ao rio Cuiabá na forma de esgotos, fator potencial de contaminação da qualidade da água. Além disso, serve de abastecimento da zona rural, à irrigação, à geração de energia elétrica, navegação, lazer, pesca e diluição de esgotos domésticos e industriais, escreveu Eliana Rondon.
No Cuiabá a rede de rios e seus afluentes que cortam o Estado de Mato Grosso, em todas as direções, é grande, oferecendo recursos hídricos dos mais altos. Dentre as bacias que cortam este território, as três principais são: Bacia Amazônica, ao norte, cujos rios vão desaguar no maior rio do mundo, em volume: o Amazonas; Bacia do Paraguai, a oeste, tendendo para o sul; Bacia do Paraná, a sudeste, também tendendo para o sul, encontrando-se fora do Estado de Mato Grosso, com a do Paraguai.
Foi e é reservatório de inspiração para a construção cotidiana das culturas ribeirinha e urbana mato-grossenses. Nele, as artes, a música, a literatura, a poesia, as festas, a culinária, as danças têm perene fonte de inspiração.
Festas e danças como Siriri, Cururu, São Gonçalo, as lavações de São João, a festa de São Pedro, padroeiro dos pescadores, a honra a São Benedito e ao Senhor Divino para os cuiabanos não são tradições, são vivências. Comer peixe, principalmente os mais nobres como o pacu assado, a mojica feita do pintado com a mandioca, a pacupeva cozida acompanhada do arroz sem sal, o bagre ensopado e a piraputanga recheada com farofa de banana da terra, não são pratos típicos da culinária cuiabana, são pratos do dia-a-dia, oriundos das famílias ribeirinhas. São comidas que invadiram os lares cuiabanos e se tornaram costumes e culinárias tradicionais regional e nacional.
Cultuar os santos como Nossa Senhora, Santa Rita, São Benedito, Senhor Divino, São Pedro, São Gonçalo, São João, Santo Antônio, Senhor Bom Jesus de Cuiabá, festejá-los, lavá-los hoje, nas águas do rio Cuiabá ou, como outrora, em suas fontes, poços, córregos, tanques, chafarizes e bicas não são folclores, mas costumes que marcam as relações profundas dos córregos, rios, das suas águas com os moradores, num encontro de vida com as suas águas doces potáveis sagradas e profanas.
E de práticas cotidianas quase invisíveis aos viajantes e desbravadores. Estas, principalmente às relacionadas à captação, tratamento, armazenamento, e distribuição de água potável urbana, realizadas hoje, pelo que conhecemos como Águas Cuiabá, distribuindo vida à cidade de Cuiabá, nas vilas, distritos, comunidades em geral.
(*) NEILA BARRETO é jornalista, historiadora e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.
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