Situado no centro da América do Sul e com dimensão quase continental, Mato Grosso depende de rodovias não somente para o trânsito de cidadãos, mas para o transporte de cargas inter-regionais e aos portos.
Nas últimas décadas, houve avanço na infraestrutura do transporte rodoviário, dezenas de cidades saíram do isolamento e as balsas praticamente foram aposentadas.
Ainda assim, 14 municípios não têm ligação pavimentada e seis estão interligados à malha rodoviária nacional, mas não à mato-grossense.
Mato Grosso, com 903 mil km², tem 141 municípios com boa parte contando com mais de um acesso asfaltado, mas Rondolândia, Aripuanã, Colniza, Cotriguaçu e Juruena, na região Noroeste; Apiacás, no Norte ou Nortão; e Gaúcha do Norte, São José do Xingu, Bom Jesus do Araguaia, Serra Nova Dourada, Novo Santo Antônio, São Félix do Araguaia, Luciara e Alto Boa Vista, no Vale do Araguaia, estão isolados da malha rodoviária pavimentada.
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No setor de logística, o Estado Mato Grosso quer romper isolamento de cidades
Canabrava do Norte, Porto Alegre do Norte, Confresa, Santa Cruz do Xingu, Vila Rica e Santa Terezinha, também no Vale do Araguaia, pela BR-158 rumo Norte, estão ligados à Santana do Araguaia (PA) – rumo Sul ,há um trecho de 130 km, que cruza a Terra Indígena Marãiwatsédé, da etnia xavante, onde a Justiça Federal não permite asfaltamento.
A quase totalidade das cidades nasceu às margens de rodovias ou cresceu em razão delas.
À exceção de Cuiabá, Cáceres, Barão de Melgaço, Araguaiana, São Félix do Araguaia, Luciara, Porto Esperidião, Porto dos Gaúchos e Novo Santo Antônio, as demais são resultantes do chamado rodoviarismo.
Em 1997, a Assembleia Legislativa autorizou o governador Dante de Oliveira a contrair empréstimo de US$ 68,03 milhões junto ao Instituto Bancario San Paolo Di Torino (Itália) para execução do Programa de Perenização de Travessias.
O recurso captado foi de US$ 55,4 milhões e os encargos da dívida paga entre 2001 e 2009 foram de US$ 17,9 milhões.
Essa operação teve o aval do Senado.
Com esse programa, Mato Grosso construiu 53 pontes de concreto incluindo a Sérgio Motta sobre o rio Cuiabá, entre a Capital e Várzea Grande. Com ele, 19 balsas se aposentaram e houve avanço na logística de transportes.
Até 2003, a malha rodoviária mato-grossense pavimentada era pequena.
Porém, naquele ano, o então governador Blairo Maggi lançou o Programa Estradeiro, que, em boa parte, foi executado por meio de parcerias público-privadas, as chamadas PPPs Caipiras, do Gverno com produtores rurais e prefeituras.
Com o Estradeiro, o asfalto chegou à Canarana, Juína, Marcelândia, Vera, Santa Carmem, Querência,Tapurah, Nova Ubiratã, Ipiranga do Norte, Paranaíta, Novo Mundo, Itiquira, Santa Rita do Trivelato e outras cidades.
A PPP Caipira surgiu em Lucas do Rio Verde, no final de 2002.
Governador eleito, Blairo visitou Lucas para ouvir sugestões sobre sua administração.
Moradores cobraram a pavimentação da MT-449, da cidade ao Aeroporto Bom Futuro, e o governante pediu a parceria da prefeitura.
O prefeito anfitrião Otaviano Pivetta disse que seria parceiro não somente para aquele trecho, mas para o asfaltamento da rodovia no trajeto de 96 km até Tapurah; o prefeito Reinaldo Tirloni, de Tapurah, reforçou a parceria, que também contou com a participação de produtores rurais.
Ao assumir o Governo em janeiro de 2019, uma das metas de Mauro Mendes - reeleito em 2022 - era interligar todas as cidades à malha rodoviária pavimentada.
Esse objetivo poderá ser alcançado até o término de seu mandato, em dezembro de 2026, desde que se resolva o impasse sobre a pavimentação de um contorno para retirar a BR-158 da Terra Indígena Marãiwatsédé.
Obras rodoviárias estão em execução em busca da integração pelo asfalto.
Em abril, no Noroeste, Mauro Mendes lançou a pavimentação de 110 km da MT-170, entre Castanheira e Juruena, mas a previsão é que o asfalto avance até Colniza, numa extensão de 272 km.
Essa rodovia foi estadualizada em 2022. Antes era a BR-174, chamada de Rodovia BV-8, que permanece com essa nomenclatura fora desse trecho.
BV-8 é alusão ao Marco 8 na fronteira Brasil-Venezuela, em Pacaraima (RR), tendo seu ponto ao Sul em Santo Antônio das Lendas, município de Cáceres.
Aripuanã, a cidade mais antiga do Noroeste tem acesso pavimentado no trecho de 40 km na MT-208, que faz sua ligação com Tutilândia, que será contemplada com a obra para Colniza.
Tutilândia é uma vila no trevo de bifurcação das rodovias para Aripuanã e Colniza.
A ligação asfáltica de Rondolândia com Ministro Andreazza (RO) está em curso no trecho de 25 km em Mato Grosso, e o governador Marcos Rocha (RO) sinalizou positivo para a execução da obra nos 22 km em seu estado.
Ministro Andreazza tem interligação pavimentada com a BR-364 nas imediações de Cacoal.
Rondolândia tem uma ligação precária com Aripuanã, por uma estrada encascalhada com 355 km que cruza o distrito de Conselvan (de Aripuanã); essa via, em parte do trajeto, é explorada em comodato pela Associação dos Produtores Rurais do Vale do Rio Roosevelt (Aprovale), que cobra pedágio de R$ 150 para veículos leves.
Seu tráfego basicamente é feito por caminhões madeireiros, chamados de 'toreros".
Cotriguaçu, a cidade mais ao Norte da MT-170, está no Corredor Leste-Oeste que ligará Colniza à BR-163 em Guarantã do Norte, na divisa com o Pará, cruzando Nova Monte Verde, Alta Floresta, Carlinda e Novo Mundo.
Esse trajeto tem dois trechos sem pavimentação e nele será construída a maior ponte de Mato Grosso, com 1.360 metros, na MT-208, sobre o rio Juruena, no limite de Cotriguaçu com Nova Bandeirantes; e está em obra uma ponte com 693 metros na MT-419, sobre o rio Teles Pires, no limite de Carlinda e Novo Mundo.
A maior ponte de Mato Grosso aposentará as balsas que fazem a travessia do Juruena, no trajeto de 3,8 km percorrendo o rio no sentido da correnteza ou contrário a ela, por falta de condições de atracar na margem esquerda diante do ponto de travessia.
Essas embarcações demoram mais de uma hora para cumprir o trajeto em cada sentido e não operam no período noturno.
O Governo estadual inaugurou, no ano passado, uma ponte de concreto na MT-206, sobre o rio Apiacás, ao lado da cidade do mesmo nome.
O ato foi comemorado por moradores dos dois municípios após a travessia inaugural feita pelos prefeitos Júlio César (Apiacás) e Osmar Mandacaru (Paranaíta).
Apiacás é a única cidade do Nortão sem acesso pavimentado e fica a 130 km de Paranaíta, mas a metade do trajeto foi asfaltado e o secretário de Infraestrutura de Logística de Mato Grosso (Sinfra), Marcelo Oliveira, avalia que a interligação entre as duas cidades aconteça no primeiro semestre do próximo ano.
São José do Xingu e Gaúcha do Norte, duas cidades dentre as isoladas no Vale do Araguaia, serão interligadas à malha rodoviária pavimentada, por obras em execução.
Gaúcha terá ligação pavimentada com a MT-020, que liga Canarana a Paranatinga e com o Nortão, e São José do Xingu, com Confresa, à margem da BR-158.
Uma decisão judicial proíbe o governo federal de pavimentar a BR-158 na Terra Indígena Marãiwatsédé, e para assegurar a interligação dos municípios da região com a malha rodoviária o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) teria que construir um contorno cruzando as cidades de Bom Jesus do Araguaia, Serra Nova Dourada e Alto Boa Vista, aumentando o trajeto entre Barra do Garças e o Pará em aproximadamente 70 km, mas não há sequer projeto e muito menos licenciamento ambiental para tanto.
A decisão de impedir a pavimentação é da juíza Danila Gonçalves de Almeida, da Justiça Federal em Barra do Garças, que, em março de 2021, analisou uma ação civil pública do procurador da República Everton Pereira Aguiar Araújo, ajuizada contra a União, Dnit e Ibama, pedindo a proibição de obra de pavimentação na rodovia no trecho da Terra Indígena Xavante e determinando procedimentos para a construção de seu contorno.
A magistrada determinou a retirada da movimentação dos veículos na terra indígena, determinando seu deslocamento para o trecho do Contorno Leste ser pavimentado.
Em agosto de 2022, a 5ª Turma do Tribunal Regional da 1ª Região manteve a decisão da juíza Danila e sentenciou que, um ano após o trânsito em julgado da ação, a BR-158 não cruze mais a citada área.
Diante dessa realidade, Mauro Mendes sugeriu que Mato Grosso poderia aceitar a estadualização da BR-158 e executar a obra que retiraria do isolamento, não somente as três cidades no percurso, mas também Luciara, São Félix do Araguaia e Novo Santo Antônio.
A construção do contorno permitirá a ligação direta do bolsão formado por Vila Rica, Santa Terezinha, Santa Cruz do Xingu, Confresa e Porto Alegre do Norte com Cuiabá.
Essas cidades têm acesso à malha rodoviária nacional pela BR-158, pelo Pará.
LOGÍSTICA – A rodovia BR-163/364 é duplicada entre a divisa com Mato Grosso do Sul e Cuiabá, via Rondonópolis, Juscimeira, São Pedro da Cipa e Jaciara, e em trechos entre Cuiabá e Posto Gil (de Diamantino).
Recentemente, Mato Grosso assumiu a concessão da BR-163, substituindo a empresa Rota do Oeste, que a explorava e que deveria duplicá-la até Sinop, mas que não fez.
A ligação de Cuiabá com Santo Antônio de Leverger, pela MT-040, com 25 km de extensão, é duplicada, e a Rodovia Emanuel Pinheiro (MT-251), que liga a Capital e Chapada dos Guimarães, tem 16 km duplicados, nas imediações da região metropolitana.
Recentemente, foi concluída a pavimentação da Estrada Verde (MT-040/270), que liga Cuiabá a Rondonópolis, cruzando Santo Antônio de Leverger, Mimoso e Fátima de São Lourenço, num trajeto de 220 km que, em boa parte, contorna o Pantanal.
Essa rodovia tem restrição ao tráfego pesado de Cuiabá a Fátima de São Lourenço e a mesma recebeu a denominação de Rodovia Dr. Elmo Bertinetti; e de Rondonópolis à Fátima de São Lourenço, onde não há restrição de tráfego, ela recebeu o nome de Rodovia João Antônio Fagundes – João Baiano.
O Vale do Araguaia avançará na logística do transporte rodoviário com a pavimentação da TO-500, na Ilha do Bananal (TO), onde recebe o nome de Transbananal.
Essa obra, com 92 quilômetros de extensão, quando concluída criará um importante corredor para escoamento de commodities agrícolas ao terminal de embarque da Ferrovia Norte-Sul, em Gurupi (TO) e para alcançar o porto de Itaqui (MA).
Transbananal é trecho coincidente da TO-500 e a transversal BR-242, com 2.312 quilômetros, que liga Maragogipe, na Bahia, a Sorriso, cruzando São Félix do Araguaia.
Essa via, além de contemplar regiões turísticas, também atravessa grandes polos de produção agrícola na Bahia, Tocantins e Mato Grosso.
A pavimentação de 92 quilômetros entre São Félix do Araguaia e Formoso do Araguaia é um projeto consensual entre os governadores Mauro Mendes e Wanderlei Barbosa (TO), com apoio político de congressistas, das Assembleias Legislativas dos estados e nas prefeituras e Câmaras Municipais da área de influência da rodovia.
O projeto prevê a execução em 36 meses, mas antes que seja aberta a frente de trabalho será preciso concluir a tramitação burocrática junto ao Ibama, Funai e Ministério Público Federal. Inicialmente a construção estava prevista para começar em 2020, mas em razão da pandemia do novo coronavírus foi adiada.
Criada em 2012 por lei estadual, a TO-500 será federalizada, mas não se sabe ainda se sua obra será bancada pelo Governo Federal ou por algum grupo interessado em sua concessão.
Mesmo com essa indefinição, técnicos do Governo e empresários do setor avaliam que seu custo será superior a R$ 1 bilhão.
O nome oficial da rodovia é Transbananal Idjarruri Karajá – TO-500.
Quando pavimentada terá classificação de Estrada Verde. Seu projeto é do engenheiro José Rubens Mazzaro, líder da Comissão Pró TO-500, cuja construção é regulamentada por rígidos critérios ambientais.
Além da pavimentação e sinalização a Transbananal exigirá a construção de muretas e de pontes sobre os rios Javaés, San Rocan, Riozinho, Jaburu e Araguaia diante de São Félix do Araguaia.
A ponte sobre o Araguaia terá 2.600 metros de extensão, será estaiada e aposentará a balsa que há décadas faz a travessia do rio, que naquele trecho tem largura que varia de 900 e 1.200 metros dependendo do volume d'água ditado pelas chuvas.
Mato Grosso ganha uma das maiores pontes do interior brasileiro, mas ainda não tem uma rodovia para alimentá-la.
Em outubro de 2020, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) assinou a ordem de serviço para a construção de uma ponte estaiada com 4 km de extensão na BR-080 sobre o rio Araguaia, para ligar Luiz Alves (de São Miguel do Araguaia/GO) à vila de Alô Brasil, na BR-158, no município de Bom Jesus do Araguaia, próximo à cidade de Ribeirão Cascalheira.
A obra está na fase final e poderá ser inaugurada em julho.
A rodovia BR-080 em Mato Grosso ainda é um projeto e precisará ser construída em seu trajeto de 190 km, com parte ora integrante da malha rodoviária estadual.
Além da pavimentação, a construção do Corredor Leste-Oeste para interligar a BR-158 com a Belém-Brasília e a Ferrovia Norte-Sul em Goiás, será preciso construir uma ponte sobre o rio das Mortes ao lado da cidade de Novo Santo Antônio.
O corredor conta com parecer favorável do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), ligado ao Ministério do Meio Ambiente.
O projeto foi elaborado pelo Dnit, segundo seu ex-diretor de Infraestrutura Rodoviária, Luiz Antônio Garcia.
Porém, no mês de fevereiro de 2022, o Ministério Público Federal abriu inquérito civil para investigar se o projeto afeta o local sagrado, denominado Sõrepré, que seria berço da cultura xavante.