14 de Setembro de 2024

VARIEDADES Quarta-feira, 08 de Março de 2023, 13:54 - A | A

DIA DAS MULHERES

Persistência de artesãs do Limpo Grande mantém tradição viva

Mulheres se unem para confeccionar, vender e encantar os olhos com a arte de tecer redes

Bruna Cardoso Estagiária | Estadão Mato Grosso

artesas

 

As tradições que atravessam gerações continuam a inspirar mulheres em todo o mundo, como é o caso de Jiliane Maria, uma redeira de 36 anos de Várzea Grande. Jiliane aprendeu a tecer redes com a mãe aos 15 anos e, agora, lidera um grupo de 55 mulheres talentosas que fazem parte da Associação das Redeiras de Limpo Grande. O projeto reúne artistas que mantêm vivas as práticas e conhecimentos de suas antepassadas.

Neste 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, o Estadão Mato Grosso conta a história inspiradora de três mulheres, representando todas as outras espalhadas pelo mundo, afim de parabenizá-las pela força, coragem e determinação.

O interesse comum das mulheres da comunidade de Limpo Grande foi o que motivou Jiliane a assumir a presidência da associação, um encargo ao qual ela resistia no começo. Principalmente porque as mulheres tinham dificuldades em vender suas artes, tecidas com muito esforço nos fios de lã.

"Cresci vendo minha mãe fazer isso. Por conta de ela não ter acesso ao conhecimento e não ter uma associação [que a representasse], vi muitas pessoas indo lá prometer diversas coisas e nunca cumprir. Aí veio a necessidade de montar uma associação e ir atrás de melhorias para o grupo. Isso me motivou", conta.

Formada em Administração, Jiliane se sente muito grata e útil por ajudar as mulheres de sua comunidade. Hoje ela representa as mais de 50 mulheres que frequentam o projeto. No dia da entrevista, o grupo estava expondo suas redes no Tribunal de Justiça de Mato Grosso.

Mais que uma fonte de sustento, a associação é também um lugar onde as mulheres compartilham suas angústias e sonhos. Jiliane conta que sempre se emociona com os relatos de mulheres que frequentam a associação. Apesar de o espaço físico do projeto não ter sido aberto oficialmente ao público, já recebe mulheres da comunidade que tiveram a chance de mudar de vida através da fabricação e venda das redes.

“Já fiquei muito emocionada e chorei no dia em que uma das integrantes do projeto disse que gostaria muito que a mãe [dela] estivesse viva para viver o que não tiveram lá no passado”, relembra.

Felicidade ainda maior é saber que o conhecimento ancestral está sendo passado para as futuras gerações. Emocionada, Jiliane fala que sua filha Beatriz Vitória, de 8 anos, sempre expressa sua paixão pela arte e o orgulho da mãe.

"Ela já sabe bordar a varanda e fala que quer aprender. Eu incentivo do mesmo jeito que fui incentivada pela minha mãe. Por que não incentivarmos os nossos filhos? Eles são o futuro disso aqui".

A ARTE DE TECER

Herança dos indígenas Guanás, da etnia Chané-Guaná - os primeiros habitantes de Várzea Grande -, a arte de tecer redes é tradição entre as mulheres da comunidade do Limpo Grande.

Valdirene Maria Mendes, de 45 anos, iniciou sua vida de artesã aos 16 anos, quando viu a necessidade de complementar a renda após o casamento e o nascimento de sua filha Karla Cristina.

Diferente de Jiliane, a artesã aprendeu a fazer as redes com a irmã mais velha, algo que era comum na época, já que a mãe estava ocupada produzindo redes para vender.

O processo para tecer uma rede é árduo e longo. Uma peça pode demorar entre dois a quatro meses para ficar pronta. "É um trabalho de muita dedicação e atenção. O tempo pode variar, dependendo da força de vontade de tecer naquele momento. Nem sempre todo mundo está bem e isso é normal", explica.

Para esses momentos, ter uma associação que lhe dê suporte e apoio conta muito. A artesã lembra que sempre foi um sonho ter um espaço para tecer. Um sonho que hoje é realidade para essas mulheres.

“Nós já queríamos montar o projeto, sempre tivemos o sonho de ter uma associação. Convidamos ela [Jilaine] para ser nossa representante e ela aceitou, então o projeto saiu do papel. Hoje a Prefeitura de Várzea Grande nos apoia também”, se orgulha a artesã.

FONTE DE INSPIRAÇÃO

Aos 54 anos, Irene Rodrigues se orgulha da trajetória da mãe Florentina Rodrigues, que se dedicou à arte dos bordados. Apesar das dificuldades e das poucas vendas, a matriarca nunca desistiu de seguir em frente e dar o melhor para os seus filhos com os frutos de seu trabalho bordando redes.

Irene aprendeu as técnicas com a irmã mais velha, mas sua inspiração sempre foi a mãe, que ergueu uma casa com seus bordados.

“Eu vi a luta da minha mãe no dia a dia. Todo dia ela fazia o mesmo trabalho, mesmo sabendo que não tinha um bom valor na época. Ela nunca desanimou. A nossa casa, ela construiu com esse trabalho, ela insistia até uma pessoa comprar", recorda.

ASSOCIAÇÃO DAS REDEIRAS

A Associação das Redeiras de Limpo Grande é um projeto novo, com pouco mais de 1 ano, e já recebe 55 mulheres. O espaço para receber as artesãs ainda não foi inaugurado. A previsão para estreia é em maio deste ano.

Antes mesmo de abrir as portas oficialmente, a associação já conseguiu aumentar as rendas das artesãs. Antes do projeto, as mulheres vendiam apenas 10 redes por ano. Hoje, já conseguem vender mais de 60 peças.

Além das redes, as artesãs produzem xales, saídas de banho, jogo de cozinha, caminho de mesa e mantas. Para adquirir uma peça, é só entrar em contato com a representante da associação no número (65) 99931-4736 ou pelo Instagram @teceartemt.

*Sob a orientação e supervisão da editora Cátia Alves 

 

ÁLBUM DE FOTOS

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso



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