O que você faria se descobrisse que a pessoa mais importante da sua vida tem lúpus, que sofreria um AVC e que passaria 31 dias no hospital? Ou mais: o que faria se descobrisse que dentro de sua cabeça existem 2 aneurismas cerebrais? Isso tudo e muito mais fazem parte da vida de Júlia Campos Freitag, de 28 anos, nascida em Rio Brilhante, a 256 km de Campo Grande. Com o Dia das Mães chegando, a arquiteta garante que a força que existe dentro de si vem da matriarca da família.
Na última quinta-feira (28), Júlia, muito ativa em suas redes sociais, decidiu postar parte da sua história emocionante. “Te aconselho antes de mais nada a se acomodar em seu devido assento e preparar uma pipoca!”, brinca a arquiteta, dona de um senso de humor único.
“O mundo fala tanto em amor próprio, em autocuidado. Ok, eu já anotei isso! Mas eu, Júlia, ainda tenho dificuldade para me autorreconhecer. Pouquíssimas vezes eu soube agradecer quando me disseram: ‘você é forte'”, analisa. Por isso, resolveu contar o motivo de toda essa força que ela duvidava existir.
A arquiteta começa dizendo que sempre foi uma garota comum que vivia uma rotina normal de uma jovem de 20 e poucos anos. “Experimentei o pacote completo: entrei para a atlética [do curso de arquitetura], dividi apartamento com uma amiga, fui a muitas festas, conheci muita gente”, relembra.
Porém, em 2017, no 3º ano da faculdade, sua mãe, Anamaria, aos 53 anos, diagnosticada com lúpus eritematoso sistêmico, sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e ficou 8 dias na UTI e 23 dias internada. “A partir de então, ela e meu pai vieram para Campo Grande para iniciar os tratamentos intensos de recuperação”, explica.
Anamaria passou a fazer fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e acompanhamento dos médicos especialistas. Aquela rotina agitada de universitária que Júlia tinha anteriormente foi trocada por clínicas, hospitais e salas de espera. “Durante muito tempo tentei não deixar a peteca cair e manter esse sorrisinho no rosto de dona Anamaria”, diz a arquiteta, mostrando uma bela foto da mãe sorridente.
Mãe e cirurgia às pressas
Eis que no ano seguinte, 2018, Anamaria teve que passar por mais um grande desafio ao sofrer uma fratura patológica em duas vértebras da coluna. Por conta disso, ela teria que fazer uma cirurgia às pressas.
“Começa aqui uma das maiores ondas que eu e minha família enfrentamos até esse momento. Minha mãe já havia aguentado muitas coisas, mas ela gritava de dor. Foi quando eu passei a entender mais fundo do que nunca: dor nenhuma te rasga tanto a alma quanto a dor de ver quem você mais ama agonizando”, declara Júlia.
Tudo já estava muito difícil, ainda mais porque a mãe precisava, mais do que nunca, de mais suporte emocional e físico. Contudo, como Júlia mesmo revelou, a vida quis complicar mais ainda…
“Toda essa rotina extremamente exaustiva de cuidados conciliada com minha faculdade, estágio e milhões de trabalhos, fez com que eu me sobrecarregasse. Em um surto meu de estresse, marquei uma consulta com um neurologista (só Deus pra explicar mesmo)”, relembra.
2 aneurismas cerebrais
Júlia lembra que era final de uma sexta-feira, tinha recém chegado em casa depois de levar a mãe para fazer seus exames pré-cirúrgicos, quando a secretária do neurologista ligou e falou: “Júlia, o doutor pediu para você vir ao consultório e trazer alguém da sua família”. O chão da arquiteta e de sua família se abriu mais uma vez.
“Naquele dia descobrimos que nos meus exames de imagem detectaram dois aneurismas cerebrais. E eu também teria que fazer uma cirurgia às pressas”, recorda. “A primeira coisa que me veio à cabeça foi: ‘Meu Deus, quem vai cuidar da minha mãe?!”, lembra ela.
Júlia, então, foi operada também numa sexta-feira. Já a cirurgia da mãe estava marcada para a próxima segunda. “Eu literalmente implorei para meu médico me dar alta para que eu pudesse vê-la a tempo”, conta.
O encontro, enfim, aconteceu, e Júlia conseguiu receber alta. Nesse meio tempo, suas duas irmãs mais velhas, Livia e Tassia, estavam em Campo Grande para acompanhar a caçula e a mãe. Hoje ambas moram em outros Estados, Santa Catarina e Mato Grosso.
“Mas como eu disse, foi um grande período de provação para minha família. Enquanto elas revezavam entre os cuidados, as duas pegaram infecção alimentar. Uma desmaiou no banheiro do hospital, a outra não conseguia parar sentada”, relata Júlia.
Surpreendentemente, as dificuldades não pararam por ali. “Nesse desespero todo, imaginem como estava a cabeça do meu pai? E foi então que ele bateu o carro no estacionamento do hospital. Isso mesmo!”, conta.
Felizmente, o acidente do pai foi apenas um susto, e Júlia, levemente recuperada, estava novamente ao lado da mãe. Com tantos momentos tensos, medo e insegurança, ela consegue tirar algo bom de tudo que viveu e sentiu. E mais: o amor por sua mãe só aumentou.
“A gente saiu com uma espécie de percepção de vida que eu costumo dizer que livro nenhum ensinaria”, alega. “De lá do começo até aqui posso dizer que já passei por dezenas e dezenas de situações das quais me tiraram a órbita”, afirma.
“Eu carrego comigo experiências das quais eu com certeza não escolheria viver se tivesse escolha, mas que sou genuinamente grata. Sem elas eu jamais seria quem sou hoje. Eu espero, sinceramente, que eu aprenda a escutar a minha força, porque ela se manifestou em mim através de uma das pessoas mais especiais da minha vida: minha mãe!”, finaliza.
Cesar barreto 10/05/2022
Parabéns, Deus abençoe você e a amiga Ana Maria.
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