06 de Maio de 2024

POLÍCIA Domingo, 18 de Fevereiro de 2024, 14:05 - A | A

CENTRO HISTÓRICO

Empresários relatam furtos e roubos constantes cometidos por moradores de rua em Cuiabá

Nesta semana, a reportagem do HNT percorreu alguns comércios da região central da cidade e conversou com alguns proprietários que, embora sofram as sucessivas ações criminosas, não pensam em deixar locais

JOLISMAR BRUNO - HNT

centro hist cba

 

Comerciantes do centro histórico de Cuiabá, região central, sofrem com os constantes furtos aos estabelecimentos por parte de pessoas em situação de rua. São vários os registros de tentativas e de ações dos criminosos causando prejúizos aos pequenos e grandes empresários.

Mas, mesmo diante da falta de segurança relatada pelos proprietários, eles não pensam em sair dos locais onde atuam, pois estão há muitos anos na região e 'construíram sonhos'. Nesta semana, a reportagem do HNT percorreu alguns comércios do centro histórico e conversou com seus proprietários sobre a onda de furtos. 

Leonardo Farto é proprietário do consultório odontológico Amorclin, que fica na rua Voluntários da Pátria, no centro-norte da Capital. Há 25 anos, ele está no mesmo ponto e relatou que já teve o estabelecimento invadido inúmeras vezes, inclusive já até perdeu as contas. Para a reportagem, o profissional contou que somente no mês de dezembro de 2023 foi furtado três vezes e sofreu tentivas outras sete vezes. 

"Levaram várias coisas, meu ar-condicionado, compressor de ar, luminárias, ferramentas de trabalho, tudo", disse.  Segundo o profissional, todas as invasões ocorrem durante a madrugada, quando não há mais expediente. O local é invadido, mesmo com a presença de sistema de alarmes e várias ferramentas de segurança, como cadeados, que ele precisou reforçar colocando vários nas portas, como uma maneira de evitar os crimes. Mas, tem sido pouco para os assaltantes. "Estamos reféns dos 'noiados' (sic)", declarou.

Amorclin

No prédio, foi possível observar os estragos causados pelas invasões que ocorrem principalmente pelo teto. "O centro está virando uma cracolândia", acrescentou o dentista.

O profissional atribuiu os furtos aos moradores em situação de rua que, em toda a região no centro histórico, ficam em grande concentração, principalmente no Beco do Candeeiro e na região do Morro da Luz.

O dentista ainda disse que já acionou a polícia várias vezes, mas nada é feito. Também conforme Leonardo, ao acionar a PM, a comunicação diz que "um promotor e um juíz que diz que os moradores em situação de rua são vítimas da sociedade". (Veja mais imagens no fim da matéria). 

MAIS CASOS

Em um outro ponto do centro histórico, no pátio da igreja Nossa Senhora da Boa Morte e Glória, Miguel Gonçalo, de 58 anos, vende cachorro-quente em um carrinho há 35 anos e mora a 300 metros, próximo do local de trabalho. Em mais de três décadas trabalhando na região, ele conta que já presenciou inúmeras situações, relatos de furto e, inclusive, já foi furtado. 

Para a reportagem, Miguel contou que, no ambiente de trabalho, já teve dois aparelhos de celular furtados. A casa onde mora também já foi invadida por moradores em situação de rua. Ele contou que chegou a procurar a delegacia para registrar um boletim de ocorrência, mas, segundo Miguel, os policiais disseram que ele "favoreceu" a ação criminosa deixando a porta aberta. "Também não sou a favor de bater nos moradores, é preciso saber a situação", declarou. 

Jolismar Bruno/HNT

Miguel Gonçalo

 

Durante a conversa com Miguel, ele relembrou uma das ocasiões em que o consultório do dentista Leonardo foi assaltado enquanto ainda havia expediente e de outra vez em que os moradores em situação de rua furtaram a bateria do carro de um amigo que estava estacionado no Centro.

"Queriam linchar, mas falei para largar de mão. No final, nem foi um morador em situação de rua que tinha roubado", contou. Ainda segundo Miguel, a polícia é bastante violenta com os moradores e "já chegam batendo" e, muitas vezes, alguns deles apanham sem ter feito nada. 

Contudo, há inúmeros outros registros de roubos e furtos no centro de Cuiabá sempre reportados pelo HNT. Um dos casos foi do assessor parlamentar que teve a moto furtada em frente à Câmara de Vereadores. Ele ficou sem o meio de trabalho e precisou fazer rifa solidária para tentar comprar outra motocicleta. 

Outro caso aconteceu na semana do Carnaval, quando invadiram uma loja na região central e 'limparam' o estoque de roupas e outros produtos.

CENTRO E O LOCAL DE AFETO

Apesar das repetidas situações de invasão e furto, Leonardo e Miguel não pensam de maneira alguma sair dos locais onde trabalham. O dentista alugou o prédio onde mantém o consultório em 1998 e, 23 anos depois, em 2021, comprou o local. "Isso aqui é minha vida", declarou.

Miguel disse compartilhar da mesma ideia. Diariamente, ele está com seu carrinho de cachorro-quente no local. Conhece várias pessoas e é conhecido por todos. Isso pôde ser notado durante a conversa, várias pessoas passavam e o cumprimentavam. 

"Pode acontecer tudo que for, mas não saio daqui. Já presenciei 30 dias de chuvas, de manhã, tarde e noite, e não saí e nem vou. Não me vejo em outro lugar". 

PROVIDÊNCIAS

Diante da falta de segurança apontada pelos comerciantes, a reportagem procurou a Polícia Militar, integrada à Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), que encaminhou a seguinte nota: 

A Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) informa que o policiamento na região é conduzido 24 horas pela 21ª Cia de PM (Cia Centro), por meio de rondas ostensivas e repressivas. Destacamos a importância do registro do boletim de ocorrência, pois isso permite o reforço do policiamento preventivo com base em denúncias. As ocorrências registradas são investigadas pela Delegacia Especializada de Roubos e Furtos (Derf), da Polícia Civil, visando à identificação e punição dos responsáveis pelos crimes.

[...] infelizmente o número de moradores em situação de rua no Centro de Cuiabá aumentou exponencialmente, que exige ações de órgãos da prefeitura e do governo do Estado (Saúde, Assistência Social, Ordem Pública, etc).
A PMMT não conseguirá sozinha solucionar este problema, que exige atuação multidisciplinar.

A reportagem ainda questionou a PMMT com relação à afirmação de Leonardo Farto, quando foi informado via 190 de que o promotor de justiça e juíz dizem que os moradores em situação de rua são vítimas da sociedade e que nada seria feito, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto.   



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