Mulheres vêm cada vez mais conquistando seu espaço em ambientes de trabalho comumente considerados como 'serviço de homem', como a segurança pública, por exemplo. Depois de anos de muitas lutas em prol da quebra de preconceitos, histórias como da tenente-coronel comandante do 3º Batalhão da Polícia Militar de Mato Grosso, Hadassah Suzannah Beserra de Souza, contada ao HNT, tem se tornado mais frequente. A militar falou sobre como sempre teve o desejo de ser policial e como conseguiu quebrar preconceitos em um meio tão masculinizado.
A tenente revelou que o desejo de ser policial nasceu enquanto ainda estudava em escola militar. Que, no início, como qualquer criança, não gostava de tantos limites, mas, com o tempo, passou a admirar o serviço militar e logo teve o desejo de se tornar uma agente.
“Assim que terminei o 3º ano, eu fiz o vestibular da UFMT e, com 17 anos, eu estava dentro do curso do CFO (Curso de Formação de Oficial). Tudo que via naquele momento era eu fardada dentro de uma viatura, prendendo gente, ajudando as pessoas e tudo mais”, comentou.
Apesar de sua felicidade em estar no caminho de realizar seu sonho, a policial disse que o curso não foi fácil como imaginava e que teve que vencer grandes obstáculos para conseguir ser aprovada no fim do curso.
“Lembro que quando cheguei no curso tive meu primeiro choque. Dentro de uma sala de 20 pessoas, 18 eram homens. Além disso, as dinâmicas do curso são todas baseadas no que um homem é capaz de fazer. Ou seja, eu tinha que correr a mesma distância que eles, levantar o mesmo peso que eles, e por mais que nós mulheres nos esforçemos muito, sabemos que existe uma diferença física, é algo genético. Mas não tem outro jeito. Você tem que se superar muito para atingir o nível deles”.
Após o termino do curso, a tenente pensava que nada poderia ser mais desafiador do que os obstáculos que havia enfrentado. Mas, ela contou que se enganou. Pois “o mundo real” é muito pior e os desafios de ser mulher policial são muito grandes.
“No mundo real, quando a coisa está valendo, é muito mais desafiador, afinal de contas, você está contra pessoas mais fortes que você, mais altas que você e, em alguns casos, querem ferir você. Já fui agredida fisicamente, derrubada por infrator, xingada, já fui de tudo um pouco atendendo ocorrência. Em muitas vezes os presos só faziam essas coisas comigo porque eles acabam vendo na figura da mulher, um ponto fraco. Ou seja, eles sempre buscam me desestabilizar, seja fisicamente ou mentalmente. Essas horas você precisar ser muito forte, porque com certeza a mulher policial vai ouvir de tudo um pouco".
Em seguida, a comandante conta como superou o machismo nestes ambientes que são muito masculinizados. “Eu sempre estive em posições de comando, mesmo quando jovem eu já comandava tropa. Então, de cara eu aprendi que precisa ter muito pulso firme em minhas decisões. Mas isso não impediu de que ouvisse determinadas coisas do tipo “você não vai dar conta”, “isso não é coisa para mulher”, claro que são coisas que te atingem, mas você tem se manter forte e provar seu valor. Mas saliento que isso infelizmente isso não ocorre só dentro da minha profissão, tenho certeza que inúmeras mulheres passam por situações como esta”.
Por fim, a tenente Hadassah disse que se sente muito feliz e realizada por ter vencido todos os obstáculos e, com seu serviço, ter sido indicada para o comando do batalhão, neste cargo de grande visibilidade, tornar-se um modelo para as mulheres e encorajar cada vez mais mulheres a incorporarem à polícia.
“Hoje, eu me sinto feliz e honrada por estar na posição que estou. Se fui colocada no posto de comandante significa que meu trabalho foi bem feito. E claro que dentro deste cargo de grande visibilidade eu sempre busco realizar ações para valorização da mulher policial e também encorajar novas mulheres a sonharem em trabalhar como policial”.