Agora Nico virou escola. Escola de crianças. Escola de aprendizagem. Escola do saber. Escola do prazer. Escola que lembrará um homem que amou e amará para sempre VG. Viva Nico!
Nascido Ernandy Mauricio Baracat de Arruda, a 10 de junho de 1961, era mais conhecido como “Nico” Baracat. Começou a sua carreira política como vereador, depois deputado estadual, vice-prefeito e secretário de estado, aliás o primeiro secretário de estado de Cidades de Mato Grosso.
Filho de família tradicional do município de Várzea Grande, ele nasceu em berço político, uma vez que sua mãe, Sarita Baracat de Arruda, foi a primeira mulher prefeita de Várzea Grande, (1967-1970), vereadora, deputada estadual, secretária de estado e outros. O pai Emanuel Benedito de Arruda, conhecido como “Caboclo”, também foi vereador no município e uma de suas inspirações. Foi pelas mãos dos dois que ele entrou na carreira política sendo eleito vereador por Várzea Grande, em 1989. Daí para frente não parou mais.
Hoje o seu único filho, Kalil Baracat, nome dado pela avó, administra a sua cidade amada: Várzea Grande.
Poucas pessoas conseguem passar pela vida e agregar ao nome adjetivos que não cabem nos dedos das mãos. ” Nico” Baracat pode ser considerado um homem de muitos adjetivos. “Nico” tinha como uma de suas marcas registradas a solidariedade, amigo fiel, gestor arrojado, articulador político, conciliador, sonhador, companheiro, pai, filho, e, acima de tudo, um apaixonado pela vida.
Mas a vida de Nico Baracat não era só política. Teve dois filhos, seus grandes amores. “ A gente se fala todos os dias. Era meu grande amigo, estávamos sempre juntos... Às vezes ele falava que queria me encontrar, me ver, eu pensava que era alguma coisa urgente, não era nada, ele só queria falar “oi” e saber como eu estava”, Ele era o melhor pai do mundo, lembra Kalil Sarat Baracat de Arruda.
No próximo mês de junho, dia 10, data em que o pai completaria 62 anos. Não estamos juntos, mas sempre mandarei mensagem via oração para ele: Pai eu Te Amo... vai ser sempre assim, lembra Kalil.
Uma das diversões preferidas de pai e filho era a pescaria. Quantas histórias, quantas risadas, quantos peixes fisgados, quantas iscas perdidas quantas noites na beira dos rios... Ele amava pescar e gostava de comer peixes também. No dia 15 de junho, antes dele viajar a trabalho, tínhamos combinado uma pescaria no rio Teles Pires para o final do mês... essa não conseguimos fazer, lembra Kalil. Quando tinha tempo também jogávamos futebol. Fazíamos quase tudo junto, papai era muito ciumento... tinha ciúmes até das minhas namoradas, porque aí eu tinha que dividir a atenção com ele...
A caçula Emanuelle Sarat Baracat de Arruda, tinha no pai um porto seguro. A gente conversava muito, era meu amigo de todas as horas. Me ouvia muito, às vezes ficava chateado, mas depois fazia do jeito dele...
Emanuelle conta que sempre ficava triste quando ouvia comentários maldosos a respeito do pai. Eu falava para ele, mas ele não se importava com essas coisas, eu é que sofria, papai era muito tranquilo, um homem justo, honesto, carinhoso... saíamos juntos para almoçar, para conversar, ele desabafava comigo, ele me dava conselhos... era um pai maravilhoso, eu o amava demais...
Tanto os filhos, quanto a esposa de Nico Baracat, Cleonice Sarat Baracat, são unânimes ao falar do seu lado solidário. Ele sempre foi um homem pé no chão, não gostava de ostentação, dividia tudo, tirava do bolso o último centavo para dar aos outros, acho que é por isso que ele era feliz.... Nunca foi ambicioso, gostava de ter uma vida simples, nunca foi um homem egoísta e nem invejoso, não gostava que falasse mal de ninguém, foi assim a vida inteira, recorda Cleonice, que foi casada com Nico durante 23 anos.
Lembrando Sarita Baracat, hoje, já falecida, o nome Ernandy Maurício foi escolhido pela mãe, mas o apelido “Nico” veio da babá Ana. Para Sarita, no entanto, nem “Ernandy”, nem “Nico”, eu só o chamava de “Nenê”, era um jeito carinhoso, além de ser o caçula, mas era só eu que o chamava assim. Ele foi crescendo e um dia me disse: mamãe, eu não sou mais um nenê, você tem que parar de me chamar assim (...), mas você sabe mãe como é, acha que os filhos não crescem... então passei a chamá-lo de Nico, como os demais”.
“ Eu falava que ele tinha que ser meu herdeiro político. Eu não tive berço político, tive que aprender na prática, mas ele teve berço. Meu filho fez um trabalho digno. No começo eu o ajudava a escrever os projetos, como sou contadora fazia também as prestações de contas dele, para não sair nada errado. Depois Nico foi amadurecendo e já caminhava sozinho, mas eu sempre dizia a ele para ser correto, ter ética e zelar das coisas públicas”.
Para Fernando Baracat de Arruda, único irmão de “Nico”, os dois eram totalmente diferentes, mas se completavam. Eu sou extremista, ele maleável, eu sou gastador, ele era econômico, eu sou de dar “bafão”, ele sempre foi discreto, eu adoro uma balada, ele queria ficar em casa, não pratico esportes, ele jogava futebol”..., relembra Fernando com carinho.
Era companheiro, parceiro, um verdadeiro irmão, que estava sempre preocupado comigo. Tínhamos uma ligação muito afinada. “Nico” correu atrás do que acreditava e só chegou onde chegou porque lutou muito para isso. A dor e a saudade são grandes, mas as coisas boas que vivemos serão lembradas para sempre.
Como gestor, à frente da Secretaria de Estado das Cidades, em Mato Grosso, “Nico” Baracat comandava uma equipe de cerca de 150 pessoas. Rigoroso com o trabalho, cobrava resultados dos colaboradores, mas sempre estava ali, lado a lado, acompanhando cada projeto, cada contrato assinado, cada obra iniciada.
Sua última viagem a trabalho foi para verificar “in loco” o andamento da construção de dois conjuntos habitacionais no município de Lucas do Rio Verde. Era comum ele falar para a equipe que o acompanhava que não queria apenas construir casas, mas sim moradias dignas para as famílias de baixa renda. Durante sua gestão na Secretaria das Cidades, em 2011, entregou em todo o Estado, 9.253 casas, realizando o sonho da casa própria para mais de 35 mil pessoas. Em 2012, o trabalhou continuou e “Nico” inaugurou e assinou convênios para a construção de mais 8.393 unidades, totalizando um investimento (somados os dois anos) de mais de R$ 500 milhões, recursos estes de uma parceria que ele ajudou a consolidar entre o governo do Estado e o governo Federal.
No comando da Secretaria, também, entregou dezenas de obras públicas, colocou em andamento vários projetos importantíssimos para Mato Grosso, como a reforma e ampliação do Aeroporto Internacional Marechal Rondon. Um dos seus grandes sonhos era entregar à população um aeroporto moderno, eficiente e que atendesse com conforto os passageiros. Como Secretário, sua meta, era agilizar os projetos de saneamento do estado, resolver os problemas de abastecimento de água dos municípios de Mato Grosso e, principalmente, do município de Chapada dos Guimarães. Sonhava por um planejamento bem estruturado para a região metropolitana de Cuiabá-Várzea Grande.
Quando “Nico” Baracat nasceu, em 1961, sua mãe Sarita Baracat de Arruda, era vereadora em Várzea Grande. Cresceu no meio político, ouvindo discursos, fazendo campanha, realizando arrastões. Tornar político era apenas uma questão de tempo. Em 1989, aos 28 anos de idade, ele começou oficialmente a carreira política sendo eleito vereador em sua cidade natal, Várzea Grande, em 01/01/1989, na 11ª legislatura para o quatriênio (1989 a 1992). Foi Presidente da Câmara tomou posse da Mesa Diretora para o biênio 01/01/1989 a 31/12/1990 e presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Paço. Elegeu-se deputado estadual, para a 13ª Legislatura, (1995-1999) e, foi reeleito para a 14ª legislatura (1999-2002), pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Na Assembleia Legislativa foi presidente da Comissão de Revisão Territorial e, membro das Comissões de Constituição e Justiça, Execução Orçamentária, Educação, Cultura, Desporto e Seguridade Social. Em 2003, sem mandato, foi o Secretário Geral da Assembleia Legislativa.
Foi eleito vice-prefeito de Várzea Grande, pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) em 03/10/2004. Em 2010 ocupou o cargo de secretário chefe do gabinete do governador do Estado. No ano seguinte assumiu o comando da recém-criada Secretaria de Cidades. Cotado para ser um dos candidatos a prefeito de Várzea Grande, optou por ficar secretaria.
Apesar dos cargos políticos importantes que ocupou ao longo de seus 23 anos de carreira política, o que “Nico” Baracat fazia com maestria era atuar nos bastidores políticos onde circulava com desenvoltura e sutileza entre oposição e situação.
Era um excelente articulador e conciliador. Sabia ouvir, mas também mantinha posição para defender seus ideais.
Como todo político agradou e desagradou a muitos, mas conseguiu imprimir seu nome na história e deixar um grande legado político, uma lacuna que vai demorar para ser preenchida.
Além dos cargos políticos já exercidos, a atuação como parlamentar e gestor exalta a apresentação e defesa de projetos de interesse público e forte apelo local: o de construção da ponte Sérgio Motta e do Hospital Metropolitano, a lei que instituiu o tempo máximo de 15 minutos na fila em agências bancárias no Estado e a implantação de bases de Polícia Comunitária.
As matérias citadas foram propostas durante os mandatos na Assembleia Legislativa, encarada como principal plataforma para o amadurecimento político de “Nico”. Nesse momento, o antes acanhado deputado que acabara de chegar do cargo de vereador começava a percorrer Mato Grosso. Os limites de Várzea Grande ficam pequenos para a visão de um estadista que passa a ser forjada ao conhecer cada rincão de um Estado com proporções continentais.
Entre cantos e contos permeava, sobretudo, o prazer em celebrar a vida e a amizade. Ernandy Maurício, Nenê, Nico, Cajuzinho ou Vitório – apenas nomes e apelidos diferentes para um companheiro único. “Nico” era muito humano.
Para Kleber Lima, “Em mais de 20 anos de atuação profissional na imprensa de Mato Grosso, fiz poucos amigos na política, fruto da relação entre jornalista e fonte. Cinco, ao todo – o que se conta nos dedos de uma só das mãos. “Nico” Baracat era um deles. Sua partida mutila parte de mim, faz sangrar meu coração.
Nico era deputado estadual de primeiro mandato pelo PMDB quando nos conhecemos. Eu iniciava minha carreira de repórter de política. A rigor, ele não era uma boa fonte no início. Aparentava estar ali no meio dos demais deputados de forma inadvertida. A mim me parecia que havia algo simplório e ingênuo na sua atuação.
Aos poucos, contudo, percebi que a ingenuidade era minha. Não demorou para eu descobrir que “Nico” era um genuíno espécime da política de Várzea Grande – onde se aprende de berço a ler gestos e comportamentos, como num bom jogo de truco espanhol, antes das palavras. Que nem tudo que se diz, em política, é o que se faz. Que se precisa ter capacidade de ler o não dito, as entrelinhas, mais que o anunciado.
Herdeiro da notável Sarita Baracat e do Seo Caboclo, “Nico” tinha berço na política do contato direto, do pé de ouvido, e sabia como ninguém perceber e compreender o movimento da rua, dos campos de peladeiros, dos botequins onde os agentes públicos entronizavam suas estratégias, fazendo brotar do nada as notícias que só sairiam nos jornais um tempo depois.
Quando saiam.
Para os que, acaso estejam lendo nesse momento e possam me questionar por que, então, ele não era um político bem-sucedido, respondo: reavalie seu conceito de sucesso!
Para mim, e para o “Nico”, o sucesso em política é defender o que se acredita com entusiasmo e devoção, com firmeza e coerência. Vencer uma eleição ou ocupar um cargo público não são, definitivamente, os principais fatores que se deve levar em conta para avaliar as virtudes de um homem público. Mas sim os métodos que ele utiliza e os princípios que o move.
Não sei dizer quando “Nico” deixou de ser fonte e virou amigo. Nunca tinha pensado nisso. A mim basta saber que de um dado momento em diante, falar com ele, ouvir sua opinião sobre política ou futebol, fazer uma troça com alguém amigo em comum, marcar um Chopp, pedir-lhe ou dar-lhe conselho – essas coisas que habitam a relação entre amigos – já compunham a nossa rotina.
“Nico” foi um dos primeiros a ir nos visitar quando nasceu nosso primeiro filho. Por motivos mais culturais que religiosos, eu e minha mulher o escolhemos para padrinho do nosso filho caçula e tivemos a alegria e a honra de ele ter aceitado. Na formação cultural que recebi, o padrinho é o segundo pai do afilhado e, assumirá as responsabilidades do pai na sua falta. Esse tipo de responsabilidade a gente só delega àqueles em quem confiamos plenamente e com quem temos laços de sangue ou outros ainda mais sólidos. “Nico” era, portanto, um irmão mais velho, às vezes mais novo, a quem eu confiaria a guarda do meu próprio filho.
Por ter convicção que, na minha falta, “Nico” lhe cuidaria e lhe ensinaria a viver com retidão e honestidade, a ser fraterno e solidário, a ter decência, a ser sincero, a ter respeito pelas pessoas, a ser simples, mesmo estando em posição importante.
E por uma razão muito simples: esses eram os valores do “Nico”, herdados de Dona Sarita e Seu Caboclo, repassados a Kalil e Emanuelly, compartidos com Fernando, Cleonice e tantos quantos tiveram a alegria de conviver com ele, na imensidão da sua simplicidade.
A história que conheço do Ernandy Maurício Baracat de Arruda, o meu amigo “Nico”, é a história de um homem extraordinariamente simples e encantador, alegre, perseverante e honrado. Que morreu trabalhando com a mesma dignidade que sempre pautou sua vida, servindo a um governo que ajudou a conquistar como militante aguerrido, prestando seus serviços à sociedade, acreditando que podia melhorar a vida das pessoas.
É essa a memória que meu filho terá do melhor padrinho que pudemos lhe dar – mesmo o “Nico” não estando mais aqui para ampará-lo quando eu faltar. E quando essa hora chegar, rogo para que meus filhos tenham de mim o mesmo orgulho que tenho de ser amigo do nosso inesquecível “Nico” Baracat, amigo para sempre. ”
“Nico” Baracat faleceu em 16 de junho de 2012, aos 51 anos, vítima de acidente automobilístico.