Este texto tem o objetivo de desvelar, de forma bastante simples, a utilização do mercúrio na extração de ouro no Estado de Mato Grosso, o que resultou na operação Hermes pela policia Federal no dia primeiro de dezembro de 2022.
Esta operação investiga venda ilegal de mercúrio e mirou em 11 empresas e 19 pessoas. O Brasil não produz mercúrio, pois não tem reservas de cinábrio (Sulfeto de mercúrio) principal minério do mercúrio, portanto importa esse produto químico principalmente dos EUA, México, Canadá e da Espanha. Acredita-se que o mercúrio utilizado nos garimpos do Estado é de origem clandestina.
A obtenção do mercúrio liquido é feita por meio do aquecimento do minério cinábrio (HgS) na presença de oxigênio, cujo processo é chamado de ustulação. O mercúrio também é conhecido como, azougue cujo símbolo Hg vem do grego 'hydrargyrum' que significa prata líquida.
O mercúrio é tradicionalmente usado para extrair o ouro de rochas ou da areia porque adere facilmente ao ouro formando um amálgama, que não mistura com água. Este amalgama assim formado é colocado em uma caçarola de ferro e basta um maçarico para evaporar todo o mercúrio restando no fundo dessa panela, ouro puro. Este procedimento é conhecido pelos garimpeiros como Queima do Mercúrio que contamina a água e o ar atmosférico.
Para os garimpeiros, é a forma mais rápida para separar o ouro do cascalho. Ao queimar o mercúrio, vapor deste produto, além de entrar em contato com a pele do garimpeiro também é respirado, que pode resultar em sérias consequências neurológicas. Os sintomas podem incluir tremores, insônia, perda de memória, dores de cabeça, fraqueza muscular e em casos extremos morte. Quando esse mercúrio é descartado na água, os peixes também se contaminam acumulando mercúrio em seu organismo, segundo o biólogo e também pesquisador do Inpa, Eloy Guillermo.
Apesar de ser um risco que pode afetar todos os que se alimentam de peixes, as pessoas mais afetadas diretamente são aquelas que estão mais próximas da área do garimpo. Muitos casos de contaminação por mercúrio do garimpo podem estar sendo subnotificados em postos de saúde, por falta de profissionais habilitados, como toxicologistas, para realizar essa identificação. Além disso, os sintomas da contaminação podem aparecer a curto ou a longo prazo, já que ao entrar no organismo ele se acumula no tecido, nos músculos ou nos ossos.
Em garimpos onde são usados maquinário mais pesados, como balsas, os sedimentos são dragados para dentro de misturadores, chamados pelos garimpeiros de Cobra-Fumando, onde se costuma também utilizar o mercúrio para evitar que partículas de ouro sejam desperdiçadas. No final deste processo, os resíduos chamados de Arroto, são despejados no solo ou no leito do rio. Há uma estimativa de que para cada 1 kg de ouro produzido, 1,3 kg de mercúrio é lançado no ambiente.
Não resta dúvida que esta forma de extração de ouro é uma tecnologia barata e lucrativa, mas com um custo socioambiental altíssimo. Para a sociedade, representa uma série de danos que geram efeitos em cascata. Não é justo que em nome da economia de uma atividade que não é sustentável, colocar em risco não só o meio ambiente, mas todos os ribeirinhos e indígenas, resume o biólogo e doutor em ecologia Jansen Zuanon, também pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
A extração do ouro por meio do mercúrio, além da contaminação ambiental, promove outros severos problemas na região de extração, como: prostituição, doenças, trabalho infantil, invasão de terra indígenas, alteração da cultura indígena, modificação da morfologia dos rios e o abandono de sítios de escavação.
O mercúrio já causou grave problema á sociedade, conhecida como doença de Minamata, cidade japonesa onde, nos anos 1950, morreram dezenas de pessoas e outras centenas sofreram graves danos neurológicos por intoxicação com metil mercúrio. Conclui-se que não cabem só as ações governamentais, mas também medidas de conscientização por parte do cidadão, visando estabelecer um desenvolvimento sustentável entre o homem e o meio ambiente.
Noé Rafael da Silva é engenheiro Químico
Edson Dias 17/01/2023
Parabens pela explanação, Noé. Simples e objetivo. Informação ajuda muito o meio ambiente.
Geraldo goncalves freitas 05/01/2023
Muito esclarecedor. Gostei
2 comentários