20 de Junho de 2025

OPINIÃO Segunda-feira, 26 de Maio de 2025, 10:10 - A | A

Povos Indígenas e o Combate as Mudanças Climáticas.

Eduardo Cairo Chiletto

Eduardo Cairo Chiletto

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art eduardo chilleto

 Eduardo Cairo Chiletto

Mundialmente os povos indígenas desempenham um papel crucial no combate às mudanças climáticas, atuando como guardiões de florestas e biodiversidade. Eles possuem conhecimentos tradicionais valiosos para a conservação ambiental e a preservação de estoques de carbono, essenciais para mitigar o aquecimento global. A proteção de suas terras e o reconhecimento de seus direitos são fundamentais para o sucesso das estratégias de combate às mudanças climáticas

Ao proteger ecossistemas essenciais que atuam como sumidouros de carbono e protegem a biodiversidadeos povos indígenas prestam um serviço ambiental ao resto do mundo. Muitas práticas tradicionais indígenas oferecem soluções climáticas eficazes, como sistemas agrícolas sustentáveis ​​e gestão de águas resiliente ao clima. É impossível atingir os objetivos do Acordo de Paris sem a participação plena e efetiva dos Povos Indígenas.

Todos têm muito a aprender com os povos indígenas. É importante que os governos reconheçam plenamente os direitos dos povos indígenas, fornecendo-lhes acesso direto ao financiamento climático e à capacitação, e integrar o conhecimento indígena à política climática.

Segue abaixo 06 (seis) exemplos de ações Indígenas:

  1. Conhecimentos e Práticas Tradicionais: Seus conhecimentos tradicionais sobre o uso sustentável dos recursos naturais, como práticas agrícolas e técnicas de manejo florestal, são cruciais para a conservação e a mitigação das mudanças climáticas. 

2. Preservação de Florestas e Biodiversidade: A maioria dos territórios indígenas abriga vastas áreas de florestas, que atuam como importantes reservatórios de carbono e como refúgio para diversas espécies de plantas e animais. A proteção dessas áreas é fundamental para a manutenção do equilíbrio ambiental, contribuindo diretamente para a luta contra as mudanças climáticas. 

3. Papel na Mitigação do Aquecimento Global: As florestas indígenas armazenam grandes quantidades de carbono, o que é essencial para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e mitigar o aquecimento global

4. Reconhecimento e Proteção dos Direitos Indígenas: A proteção dos direitos indígenas sobre a terra e o reconhecimento de sua importância na luta contra as mudanças climáticas são essenciais para o sucesso das estratégias de mitigação. 

5. Engajamento e Participação: É fundamental que os povos indígenas sejam engajados e participem dos processos de decisão sobre as políticas de combate às mudanças climáticas. A sua voz e a sua experiência são essenciais para a implementação de soluções eficazes e justas

6. Desafios e Oportunidades: Apesar da importância dos povos indígenas na luta contra as mudanças climáticas, eles enfrentam diversos desafios, como a perda de territórios, a violência e a discriminação. No entanto, há também oportunidades para fortalecer a sua participação e promover a justiça climática. 

Segundo o PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento: “Os povos indígenas são guardiões de sistemas de conhecimento, inovações e práticas únicas que foram transmitidos de geração em geração e desta forma, permitiram que diferentes culturas e comunidades em muitas partes do mundo vivessem de forma sustentável, enfatizando o equilíbrio entre os humanos e o mundo natural”.

Vale ressaltar que com a intensificação da crise climática, seus conhecimentos e práticas oferecem soluções climáticas valiosas que podem impulsionar os esforços de mitigação, aprimorar as estratégias de adaptação e construir resiliências.

Podemos ainda citar:

  1. Espiritualidade e Cosmovisão:
    Embora implicitamente já citada, a cosmovisão indígena — que vê a natureza como parte inseparável do ser humano, com vida e espírito próprios — merece destaque como um valor central. Essa visão promove uma ética ecológica profunda, diferente da racionalidade utilitarista do Ocidente, sendo um contraponto poderoso ao paradigma de exploração da natureza.
  2. Diversidade Cultural como Resiliência:
    A diversidade cultural indígena também é uma forma de resiliência climática. Cada povo detém conhecimentos específicos adaptados a diferentes biomas (floresta, cerrado, caatinga, pampa, etc.), formando um mosaico de soluções locais extremamente valiosas para ações climáticas diferenciadas.
  3. Mulheres Indígenas e Liderança Climática:
    O papel das mulheres indígenas na defesa dos territórios, práticas agroecológicas e transmissão do conhecimento tradicional é importantíssimo. Elas são lideranças-chave em muitas comunidades e representam um ponto de convergência entre justiça climática e justiça de gênero.
  4. Educação Intercultural e Diálogo de Saberes:
    Mencionei em outros artigos a educação, mas é importante destacar e aprofundar a importância da educação intercultural, que valoriza os saberes indígenas e promove um diálogo horizontal entre ciência e tradição, essencial para formulações climáticas mais inclusivas e inovadoras.
  5. Tecnologias Sociais Tradicionais:
    As práticas indígenas podem ser reconhecidas como tecnologias sociais — sistemas complexos e eficientes, como o manejo do fogo, os calendários ecológicos, a agrofloresta, a pesca rotativa, entre outros, que oferecem soluções adaptadas e de baixo custo.

O questionamento importante é: Por que os povos indígenas são os principais agentes de mudança na ação climática?

Resposta: Porque eles administram cerca de 25% das terras do mundo que contêm grande parte da biodiversidade do planeta e do carbono armazenado no solo e na biomassa. Uma grande parte dessas terras é coberta por florestas, que são essenciais para as tradições, culturas e meios de subsistência de 70 milhões de povos indígenas, que cuidam do meio ambiente de pelo menos 36% das florestas intactas do mundo. E ao proteger esses ecossistemas essenciais, que atuam como sumidouros de carbono e protegem a biodiversidade, os povos indígenas prestam um serviço ambiental ao resto do mundo. E para conhecimento, no Brasil, 98% das terras indígenas estão na Amazônia Legal. Região esta com a maior biodiversidade do mundo.

Soluções baseadas na natureza e economia circular são um modo de vida há milênios para os povos indígenas em todo o mundo, e esse conhecimento é fundamental para a ação climática

Segundo a PNUMA – Programa das nacões Unidas para o Meio Ambiente, as Soluções Baseadas na Natureza podem gerar até 32 milhões de empregos até 2030, especialmente na América Latina, África e Estados Árabes.
 
De restaurar florestas a proteger zonas costeiras, as Soluções Baseadas na Natureza unem ação climática, justiça social e geração de renda — com potencial para transformar a vida de milhões, sobretudo jovens, mulheres e populações vulneráveis. O relatório do PNUMA, OIT e UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) destaca o nosso papel para impulsionar uma transição justa e fortalecer a infraestrutura resiliente ao clima. Vamos celebrar o trabalho que cuida das pessoas e do planeta!

Vale ressaltar que o PNUMA está no centro dos esforços de ação climática, atuando para reduzir emissões, contribuir com a adaptação climática e restaurar o meio ambiente natural. Seja parte da mudança e participe da construção de um mundo melhor.

Desta forma, é extremamente importante reconhecer, promover e proteger o conhecimento indígena. O conhecimento indígena pode enriquecer significativamente as políticas e ações climáticas em todo o nosso planeta. No entanto, devido à marginalização histórica e aos desequilíbrios de poder político e econômico, os povos indígenas têm sido frequentemente negligenciados como agentes-chave da mudança. São frequentemente excluídos dos processos decisórios sobre políticas ambientais.

Vale ressaltar que segundo o PNUD é impossível alcançar os objetivos do Acordo de Paris sem a participação plena e efetiva dos povos indígenas e seu consentimento. E isso inclui garantir o acesso direto ao financiamento climático.

Estudos científicos mostraram que 80% da área coberta por lavouras e pastagens no Brasil depende das chuvas geradas pelas florestas mantidas de pé nas terras indígenas da Amazônia.

Como já publicado no artigo “REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação) e Mudanças Climáticas“, a Parceria Colaborativa das Nações Unidas para a Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (UN-REDD) tem dedicado apoio significativo para garantir que a ação climática no setor florestal inclua e respeite os direitos dos Povos Indígenas. Liderada pelo PNUD, foi o primeiro programa da ONU a incorporar os Povos Indígenas com pleno poder de decisão em sua governança. E vale ressaltar que em Mato Grosso, o REDD Early Movers (REM MT) já disponibilizou R$ 30,9 milhões aos Povos Indígenas.

Ainda segundo o site do PNUD: “Além disso, por meio de sua iniciativa Promessa Climática, o PNUD trabalha ativamente para garantir a inclusão das necessidades e opiniões dos povos indígenas nos compromissos climáticos nacionais, ou Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), e sua  participação no planejamento climático e nos processos de políticas.

Vale ressaltar que governos e formuladores de políticas podem tomar diversas ações e medidas políticas para incluir o conhecimento indígena em estratégias e planos de ação climáticas. São elas:

  • Reconhecer e respeitar os direitos territoriais e os territórios tradicionais dos povos indígenas;
  • Estabelecer marcos legais para o Consentimento Livre, Prévio e Informado (CLPI) . O CLPI contribui para a proteção dos direitos coletivos dos povos indígenas, especificamente seu direito à autodeterminação, seu direito de serem consultados, seu direito de participar de decisões que possam afetá-los e, principalmente, seus direitos às suas terras e recursos;
  • Integrar o conhecimento indígena às políticas sociais e ambientais em nível local, nacional e regional;
  • Apoiar a educação e a capacitação. Incorporar a história, a cultura e os sistemas de conhecimento indígenas aos programas educacionais é fundamental para preservar sua herança;
  • Fornecer acesso direto ao financiamento climático. O financiamento climático direcionado por povos indígenas pode apoiar projetos que não apenas mitiguem as emissões de gases de efeito estufa, mas também promovam o conhecimento e as práticas indígenas, fortaleçam os direitos e a governança dos povos indígenas e aumentem sua resiliência.

Seguem 04 (quatro) desafios e perspectivas importantes:

  1. O desmatamento e os conflitos territoriais ameaçam a capacidade dos povos indígenas de proteger as florestas e combater as mudanças climáticas;
  2. A necessidade de financiamento direto e mais ambicioso para os povos indígenas é crucial para apoiar suas ações de conservação e adaptação às mudanças climáticas;
  3. A transição para fontes de energia renováveis deve ser justa, garantindo que os povos indígenas não sejam afetados negativamente por projetos energéticos em seus territórios e;
  4. Os povos indígenas estão sofrendo os impactos das mudanças climáticas, como secas, inundações e perda de biodiversidade, o que exige ações de adaptação e prevenção. 

A despeito dos 33 anos que separam a Rio 92 da COP30, no Pará, os Povos Indígenas permanecerão como um dos principais protagonistas nas negociações, por isso, devemos estar todos acompanhando seus movimentos rumo à COP30.

Para conhecimento: A nova edição do Selo UNICEF reforça visibilidade de crianças e adolescentes indígena. No Brasil, meninas e meninos indígenas ainda enfrentam barreiras desiguais no acesso à educação, saúde, proteção social e oportunidades. Muitas vezes, os serviços públicos não chegam a essas comunidades. 

Para concluir o artigo… A natureza nos oferece lições profundas de cooperação e resiliência. Esses sistemas naturais demonstram o poder de trabalhar juntos, incorporando a sabedoria indígena brasileira do ‘mutirão’, onde uma comunidade se reúne para trabalhar em uma tarefa compartilhada.

Inclusive com exemplos da natureza…. Quando as andorinhas (pássaros) no município de Cárceres/MT, em revoada, dançam pelo céu, vindas do Pantanal para pousarem na praça principal, como um organismo fluido onde uma protege a outra… Quando aliados improváveis criam parcerias mutuamente benéficas e quando árvores antigas compartilham recursos por meio de redes subterrâneas, todos estão fazendo o mesmo ponto poderoso… A cooperação: Os complexos desafios que enfrentamos hoje com as Mudanças Climáticas só podem ser superados por meio desse mesmo espírito de conexão natural (indígena – soluções baseadas na natureza) e ações coletivas com cada cidadão fazendo sua parte.

Tudo na natureza está conectado – e nossas ações também devem estar. Vamos recuperar a biodiversidade antes que seja tarde demais.

Conclusão: A valorização do papel dos povos indígenas são fundamentais para o combate às mudanças climáticas. Eles são os detentores das “soluções baseadas na natureza“. A garantia dos seus direitos, a participação em processos de decisão e o acesso a financiamento climático são passos importantes para construir um futuro mais sustentável e justo para todos. Suas práticas de manejo sustentável e a preservação de territórios ricos em carbono contribuem significativamente para a mitigação do aquecimento global. (Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=iU9O34_cmz4 ).

Eduardo Cairo Chiletto - Arquiteto e Urbanista - Presidente da Academia de Arquitetura e Urbanismo-MT. Coordenador Nacional de Projetos da PAGE - Brasil (2018 - 2023). Secretário de Estado de Cidades-MT (2015-2016)... Conselheiro e Vice-presidente do CAU/MT - Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso (2015-2017)



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