19 de Maio de 2024

OPINIÃO Sexta-feira, 22 de Setembro de 2023, 09:43 - A | A

Pe. Ernesto Camillo Barreto no olhar de Nilo Póvoas

Neila boa

 Neila Barreto

Padre Ernesto Camillo Barreto é baiano. Veio para Cuiabá-MT a convite da Cúria Metropolitana para implantar as políticas educacionais, à época. Jornalista. Educador. Político. Maçom. Deputado Federal. Deputado Estadual. Membro fundador da Academia Mato-grossense de Letras, ocupante da Cadeira 14, hoje ocupada por Nilza Queiroz Freire e, do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso – IHGMT. Protonotário. Reitor do Seminário da Conceição.

No olhar de Nilo Póvoas, o Pe. Ernesto Camillo Barreto é o ilustre acadêmico ocupante da cadeira patrocinada pelo espírito do Pe. Ernesto Camilo Barreto, o qual traçou-lhe a personalidade na sua magistral oração de posse ao sodalício, rendendo ao emérito educador as homenagens dos pósteros nestas palavras. Para Nilo Póvoas “há na complexa organização do ilustre padre de Cachoeira-Bahia, vários aspectos a estudarem-se, comportando cada um dos quais alentada monografia, pois o seu invejável engenho desdobrou-se fecundo entre a cátedra e a tribuna, que engrandeceu, entre a política, e o jornalismo o, que sublimou;

Homem vivaz e ardente, lídimo representante das honrosas tradições de coragem, energia e de heroísmo dos bravos restauradores da Bahia, impetuoso como as catadupas que se desempenham fragorosas na sua terra natal. Herdara dos seus avoengos aquele gênio altaneiro e combativo, que o impediu, em vigorosa e esplendente mocidade, para o torvelinho infrete da política militante, onde a sua atuação se fizera sentir, inteligente, sensata e eficaz, na defesa dos sãos princípios democráticos, combatendo com a destreza de gladiador e o denodo do atleta os desacertos e as injustiças acumulados pela política bastarda, o abuso o arbítrio e a prepotência dos maus governos.

Ungido de Deus e ungido da Pátria, prestou à Igreja e ao país os mais assinalados serviços. Do mesmo passo que empolgava as assembleias dos crentes, arrebatando os seus ouvintes nas asas do seu verbo cheio de unção religiosa na explicação dos lugares santos , arroubado pelas violentas comoções do seu patriotismo, nos momentos mais aflitos da nossa vida política, quando os direitos se desrespeitam, as paixões desencadeiam e, as autoridades públicas desprestigiam-se, as leis estiolam-se, as instituições soçobram e a descrença domina, ei-lo a inflamar com a sua palavra candente como as lavas de um vulcão as turbas revolucionárias, iluminando-as em memoráveis arrancadas reivindicatórias, ao triunfo dos seus direitos conspurcados à conquista das suas justas aspirações.

Nele, ora refugia o gênio filosófico e doutrinador de D. Romualdo de Seixas, ora coriscava o espirito bravio e revolucionário de frei Caneca. E foi assim que o vimos, árdego e destemido como o valoroso frade pernambucano, mas com o decoro e a nobreza condizentes com a sua alta jerarquia sacerdotal, enfrentar superiormente o sanhudo presidente Antonio Pedro de Alencastro, nos sombrios dias do seu governo cheio de fortes explosões de partidarismo, de violência e de opróbios.

Campanha foi essa formidável, celebre nos fastos da nossa história, em que a inteligência e a bravura indômita do padre Ernesto Camillo Barreto pairando muito acima da pequenina mentalidade política de um regulo, tamanhos e tão valentes golpes lhe vibraram, que provocaram a sanha violenta da autoridade atrabiliária; mas, se de uma parte aqueles golpes valeram ao intemerato sacerdote os vexames de uma prisão e deportação escandalosa, de outra parte, aqueles requintes de prepotência fizeram com que o tresloucado presidente ouvisse, como um réu perante o tribunal, a leitura solene da sentença que o apeou do poder, conforme registro em revista do Jubileu de Prata, 1921-1946, publicada pela Escola Industrial de Cuiabá. 1946.

O Padre Ernesto Camillo Barreto faleceu em Cuiabá, a 26 de março de 1896. Seu voto de castidade não pode ser cumprido, visto que deixou, conforme atitudes de outros clérigos dos oitocentos, filhos, cujos descendentes se faz presente no cenário cuiabano da atualidade, conforme atesta a historiadora Maria Adenir Peraro.

(*) NEILA BARRETO é jornalista, historiadora,  presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e membro da AML.



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Clevis Roberto Bianchi Barreto 22/09/2023

História linda e bem relatada parabéns

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