26 de Outubro de 2024

OPINIÃO Sexta-feira, 06 de Janeiro de 2023, 11:47 - A | A

O Leão da Colina

neila barreto

 Neila Barreto

Neste 4 de janeiro de 2023 o Clube Esportivo Dom Bosco completou 98 anos de existência e de paixão de muitos torcedores cuiabanos e mato-grossenses. Dentre muitos está Claudio Coelho Barreto, um dombosquino de alma e coração.

Na história do Clube Esportivo Dom Bosco há tantas histórias e tantos personagens que merece uma pesquisa e edição especial. Por lá passaram homens e mulheres de bem, de coragem, de dedicação que fica até difícil catalogar para registrar a história. Uns aparecem mais, outros aparecem menos.

Convivi muito com o bancário Cláudio Coelho Barreto, servidor do banco da borracha, depois denominado Banco da Amazônia - BASA, que fica ali na Avenida Presidente Vargas, esquina com a rua Barão de Melgaço, em Cuiabá-MT.

Além da família só duas coisas interessavam a ele: o BASA e o Clube Esportivo D. Bosco. Cláudio Barreto possuía carro, mas, não dirigia, andava a pé. Da rua Marechal Floriano Peixoto, onde morava, todos os dias fazia o trajeto a pé, fazia sol ou chuva até o trabalho e, até o Clube D. Bosco, no morro da colina, no bairro Bandeirantes, na capital. Possuía o corpo invejável para a idade, resultado do seu exercício diário tanto para o trabalho, quanto em dedicação ao D. Bosco.

Para as suas andanças diárias adotou uma vida simples. Gostava de roupas simples e, naquela época, já andava de sandálias de couro, quer para trabalhar, quer para sair socialmente. Simples, calado, extremamente tímido. As suas luzes se acendiam quando falava em futebol. Tudo era conversado e explicado com as palavras de origem do futebol: For Ward – Attacker, Corner, Cross, Foul, e por aí vai, num bom cuiabanês. Eu não entendia nada, mas, escutava. Só mais tarde fui entender a função de cada jogador.

Na linha sucessória da administração dos clubes social e futebol, desde 1961, cujo primeiro presidente foi Cel. Caraciolo Azevedo de Oliveira (1.961-1962), Cláudio Coelho Barreto foi o 12º Presidente do Clube D. Bosco, de (1.981 – 1983), pelo seu reconhecimento, trabalho e dedicação na vida do futebol e, principalmente do Clube D. Bosco.

Nesse vai e vem de vida de bancário, um belo dia foi transferido para o BASA, na cidade de Guiratinga (MT). Pronto. Juntou a fome com a vontade de comer e foi logo tomando conta da cidade. Os carnavais do CALEG – clube social de Guiratinga que o digam. Fui buscar nas memórias do jornalista Macedo Filho, um testemunho e lembranças da vida de Cláudio Coelho Barreto, para registro na história do futebol em Mato Grosso, como personagem que fez parte da sua construção:

Claudio Barreto

 Claudio Coelho Barreto

Conheci Claudio Coelho Barreto no final dos anos 60. Tinha eu 18 anos. Ele funcionário do Banco da Amazônia, época em que ser bancário era sinal de bons salários e muito prestígio. Homem entusiasta pelo esporte foi logo tomando conta da cidade. Barreto tornou-se presidente da Liga Municipal de Futebol de Guiratinga e com ele o movimento para murar o velho estádio da cidade. Arregimentou forças e partiu para um movimento que transformou conceitos em realidade e, logo o estádio foi devidamente murado, também passava a se chamar Estádio Municipal Claudio Coelho Barreto. O futebol cresceu, novos times surgiram e os domingos eram completamente dominados pelo futebol. “Águia do Leste” e “Dois de agosto” eram os times das massas. Estou falando de Guiratinga, cidade que o acolheu, amou e por certo continuará sempre amando Claudio Coelho Barreto. O velho estádio não existe mais. Um outro foi construído e deram-lhe o nome de José Garcia Neto. Sepultaram o nome que perpetuaria Barreto como um dos maiores desportistas que Guiratinga conheceu. Foi neste cenário que surgi para o jornalismo, lançado por Claudio Coelho Barreto. Ele montou uma emissora de Rádio clandestina que posteriormente, foi fechada pela Polícia Federal e que funcionava no velho estádio de futebol. Dalí transmitíamos os grandes jogos que enfeitavam nossos domingos vespertinos. Haroldo Rocha surgiu neste contexto também. Bons tempos aqueles. Vereador, bancário, membro do Lions Clube e um desportista apaixonado e incansável. Ex-presidente do Clube Esportivo Dom Bosco e sempre um colaborador da extinta FMD (Federação Mato-grossense de Desportos) e da atual FMF (Federação Mato-grossense de Futebol). Um pioneiro, um amigo, um pai, um esposo que o destino certo e imprevisível acabou levando.

Claudio Coelho Barreto, o homem que me lançou no mundo da comunicação foi chamado à eternidade. Foram 26 anos de amizade e admiração por este cuiabano sempre alegre, prestativo e humano: chorava por qualquer coisa. Talvez as lágrimas sempre presentes em seus olhos tenham ajudado a entupir suas artérias coronarianas que motivaram seu afastamento do nosso convívio. Viverá na nossa eterna e grata memória a saudade de Claudio Barreto. (...) Adeus Claudio Barreto, e perdoe-me por não conseguir traduzir nestas linhas toda a admiração que tive e terei por você, mas sua esposa, filhos e netos continuam aqui para não deixarem suas sementes se extinguirem da face da terra…”.

Guiratinga já reparou o equívoco, um novo estádio foi construído na cidade e deram a ele o nome do pioneiro na comunicação e no futebol de Guiratinga, Cláudio Coelho Barreto.

Cláudio Coelho Barreto nasceu em Cuiabá, a 29 de setembro de 1927 e faleceu a 20 de abril de 1994. Era descendente da linha direta do Padre Ernesto Camillo Barreto, filho de Ernesto Umbelino Barreto e Alice Coelho Barreto, irmão de Lourival Coelho, Edy Barreto e Célia Barreto. Foi casado com Áurea Maria da Silva Barreto. Pai de Luiz Ernesto da Silva Barreto e, meu querido sogro.

Neste 4 de janeiro, quando o Clube D. Bosco completou 98 anos, se vivo estivesse seu coração estaria radiante de satisfação e alegria. Lá do alto, onde Deus o acolheu continua torcendo pelo seu time do coração, rogando luzes para que o azul continue mais azul diante de muitas estrelas que hoje lutam, como um Leão, para a continuidade da sua existência, acompanhado de Joaquim de Assis, May do Couto, pioneira na presidência de um time de futebol. O esporte a colocou na presidência do clube de futebol Dom Bosco, a primeira mulher a ocupar o cargo no Brasil. Com uma mulher no comando, o Dom Bosco se transformou em um dos maiores times do estado. Fora do campo a personalidade dela era notada na administração do clube. Durante o período que esteve na presidência, entre 1969 e 1971, as principais festas de Cuiabá foram realizadas no clube Dom Bosco. Muitos outros que já se foram contribuíram para a sua eternidade.

(*) NEILA BARRETO é Jornalista. Mestre em História. Membro da AML e atual presidente do IHGMT.



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