Não possuo o dom do discurso, e talvez nem mesmo a aptidão para a palavra escrita seja uma qualidade minha. No entanto, de uma coisa tenho certeza: descobri a tempo a importância de transformar pensamentos em palavras escritas.
Da mesma forma, percebo que a manifestação pública da opinião oral é algo para o qual não me preparei o suficiente, provavelmente devido à falta de atenção nas aulas de língua portuguesa e redação durante os diversos estágios do meu ensino. Que dizer, então, da inexistência da oratória como matéria curricular.
Essa habilidade não era oferecida no ensino da época em que o estudante era avaliado pelo que havia aprendido, e não pela forma relativa como aparenta saber hoje em dia. O certo é que não percebi nem reagi a tempo. Assim como aconteceu comigo, o mesmo deve ter ocorrido com outras pessoas da minha geração, pois, de outra forma, eu e elas teríamos contribuído de forma mais produtiva na construção dos ambientes que frequentávamos: fosse familiar, social ou de trabalho.
De outra forma, certamente teríamos exposto nosso ponto de vista de maneira mais produtiva, e teríamos usado nossa competência em participação mais eficaz na construção do edifício da vida. Houve um tempo, como hoje volta a acontecer, aquele ao qual me referi acima, em que a pessoa se destacava na área em questão devido à sua competência natural, o tal talento, e ao incentivo de parentes e orientadores, estes encontrados na escola, curso de história e especialização sobre literatura.
No entanto, essa consciência não deve nos levar a lamentar o passado, mas sim a agir no presente e no futuro. Nunca é tarde para aprender a se expressar melhor, seja por meio da palavra falada ou escrita. Existem inúmeras ferramentas e recursos disponíveis para aprimorar nossa habilidade de comunicação. Podemos começar por praticar a escuta ativa, buscando compreender genuinamente o ponto de vista do outro antes de expressar o nosso. Podemos também nos dedicar à leitura, ao estudo e à prática da escrita, para organizar nosso pensamento de forma mais clara e coerente.
Essa dificuldade em comunicar o que pensamos e sentimos também afeta a relação interpessoal. Quantas vezes deixamos de expressar nosso sentimento por medo da reação do outro? Quanta ideia brilhante foi silenciada por falta de coragem para compartilhá-la? E quantas vezes deixamos de nos posicionar em situação injusta, por não saber como fazer isso de maneira adequada? A falta de uma comunicação eficaz impede a construção de relações mais autênticas e de participar ativamente da sociedade em que vivemos.