05 de Maio de 2024

OPINIÃO Terça-feira, 12 de Março de 2024, 15:46 - A | A

Mulheres: tecendo direitos

Anna maria Ribieor

 Anna Maria R. Costa

Em 1975, as Nações Unidas instituíram o dia 8 de março o Dia Internacional da Mulher, comemorado em mais de 100 países. Uma das histórias sobre a criação da efeméride faz menção à greve de operárias tecelãs de Nova York que reivindicaram condições dignas de trabalho: redução na carga diária de 16 para 10 horas e equiparação salarial com os homens, pois recebiam um terço do salário para executar o mesmo serviço. Durante a greve, foram violentamente reprimidas e trancadas na fábrica que, em seguida, foi incendiada.

No contexto das reivindicações e lutas femininas, as mulheres exigiram melhores condições de vida e de trabalho, além do sufrágio feminino, este um dos passos iniciais da trajetória feminista da era posterior à Revolução Industrial. No Brasil, em 1928, merece a lembrança do pioneirismo do Rio Grande do Norte. O governador Juvenal Lamartine, apoiado por Bertha Lutz (1894-1976), uma das pioneiras na luta pelos direitos das mulheres, autorizou o voto feminino em eleições, até então vedado, ainda que inexistindo sua proibição na primeira Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (1891). Assim, a professora potiguar Celina Guimarães Viana (1890-1972) foi a primeira eleitora de que se tem registro oficial no Brasil, ao votar em 5 de abril de 1928, na cidade de Mossoró, Rio Grande do Norte.

Ainda na luta pelo sufrágio universal, a mineira de Varginha, Mietta Santiago (1903-1995), à época estudante de Direito, conquistou por sentença judicial, em 1932, na presidência de Getúlio Vargas, o direito de votar e de ser votada, ainda que com restrições: casadas ou viúvas. Carlos Drummond de Andrade, comovido com a bravura da jovem, escreveu Mulher Eleitora, a ‘loura poeta bacharel’. Indagou o poeta: ‘Mulher votando? Mulher, quem sabe, Chefe da Nação?’

Milhares de pegadas pela igualdade de direitos vêm sendo impressas no longo caminho de históricas conquistas, influenciando a vida pessoal de muitas mulheres indígenas e não indígenas. Em defesa dos direitos individuais e coletivos dos povos indígenas, que clama por equidade, baseada no princípio da universalidade – todos devem ser regidos pelas mesmas regras, devem ter os mesmos direitos.

De que forma podemos comemorar o Dia Internacional da Mulher? No regozijo da riqueza da diversidade cultural, nosso comprometimento deve direcionar-se ao bem-estar de todos. Ao alargar nosso círculo de responsabilidades podemos fazer valer o Estado dos direitos humanos para que indígenas e não indígenas possam participar da criação de um progresso calcado na solidariedade que culmina no bem viver. Pode ser um primeiro passo.

Há 35 anos, em Altamira, Pará, a então denominada Fundação Nacional do Índio promoveu o 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, com o propósito de ampliar a participação dos povos indígenas nas decisões que atingem diretamente suas vidas. Era um momento bastante esperado pela rareza da propositura: reunir povos indígenas, Funai e empreendedores para discutir a instalação de uma usina hidrelétrica sobre o rio Xingu – Usina Hidrelétrica de Kararaô e, após esse evento, Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Em protesto, Tuíre Mebêngôkre (Kayapó), de 19 anos, encostou um facão no rosto do diretor da empresa e declarou: ‘A eletricidade não vai nos dar a nossa comida. Precisamos que nossos rios fluam livremente. O nosso futuro depende disso. Nós não precisamos de sua empresa.’ Desde o ocorrido em Altamira, Tuíre Kayapó, como se tornou mais conhecida, permanece ativa na defesa das causas dos povos indígenas. A Usina Hidrelétrica de Belo Monte desviou o curso do rio Xingu.  Represou parte de sua água. Desalojou famílias ribeirinhas. Formou um trecho de vazão reduzida de 130 km de extensão, ‘um fiozinho d’água’. Ameaça a sobrevivência das espécies nativas da região, uma das mais biodiversidades da Amazônia brasileira.

Tuíre Kayapó permanece na luta em defesa do meio ambiente.  Ao campo de luta e defesa de direitos estão mulheres indígenas e não indígenas que tornam ainda mais fértil o ativismo feminino em áreas como política, literatura, educação, arte, dentre outras.

Dia Internacional da Mulher é também uma efeméride para refletir sobre as existências plurais.

*Winny Tapajos ilustra esta crônica. Artista ilustradora indígena de Santarém, atualmente mora em Palmas, Tocantins. Sua arte também pode ser vista em diversos produtos disponíveis no mercado. Seus traços e cores marcantes decoram utensílios domésticos (kit Winny Tupperware), embalagens de comésticos (linha Ekos Tukumã Edição Limitada Natura e Winny Tapajós), tecidos (designer da Farm), nécessaire, dentre outros.

Anna Maria Ribeiro Costa  é doutora em História, etnógrafa e filatelista e semanalmente escreve a coluna Terra Brasilis no Circuito Mato Grosso.



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