17 de Março de 2025

OPINIÃO Terça-feira, 08 de Março de 2022, 10:33 - A | A

Lígia Borges: primeira prefeita eleita de MT

Ligia Borges foi eleita ao cargo de prefeita municipal de Rosário Oeste, nas eleições de 1946, aos 42 anos

neila barreto

 Neila Barreto

Natural do distrito de Bauxi, em Rosário Oeste, distante a 105 km de Cuiabá, Lígia Borges de Figueiredo nasceu a 01 de março de 1904. Casada com José Maria de Figueiredo, um dos intendentes do município, conhecido como “Nhajú”, seu grande companheiro na administração municipal.

É filha do Cel. Artur de Campos Borges, também, Intendente nomeado, e Mariana de Moraes Borges. Artur de Campos ou Artur de Campos Borges, advém do Engenho Araras, em Rosário Oeste. Homem atuante na política, no comércio e na indústria de Mato Grosso. Casou-se com Marianna de Moraes Borges, filha do comendador Gabriel de Moraes e Souza e Marianna Alves de Moraes, mais conhecido como Gabriel das Araras, filho do capitão João de Moraes e Souza e de Luiza da Silva Moraes.

Ligia Borges foi eleita ao cargo de prefeita municipal de Rosário Oeste, nas eleições de 1946, aos 42 anos de idade e tomou posse em 1947, concluindo a sua gestão municipal em 1950.

Ligia Borges recebeu o diploma do Serviço Eleitoral em 14 de novembro de 1947,
como Prefeita de Rosário Oeste, com 451 votos

Foi a primeira mulher a comandar a construção de uma usina hidrelétrica em Mato Grosso e no Brasil. Hábil, com o apoio de grandes políticos do PSD – Partido Social Democrata, seguiu com os olhos brilhantes às obras da Usina Tombador, numa queda do rio Serragem, no município de Nobres-MT, para o abastecimento de energia elétrica em Rosário Oeste e Nobres, no final da década de 40.

Conforme o depoimento de Aracy Canavarros Modesto, viúva de Paulo Modesto, na biografia sobre Sarita Baracat, “a princípio, o candidato a prefeito de Rosário Oeste seria o senhor Serra, porém, uma semana antes da eleição os integrantes do partido viram que ele iria perder, e convidaram Lígia para ser candidata e ela aceitou. Seu opositor foi Paulo Modesto, que a partir daí não fez mais campanha, uma vez que Lígia era tia da sua esposa”.

Ligia Borges recebeu o diploma do Serviço Eleitoral em 14 de novembro de 1947, no qual constava sua eleição para a Prefeitura Municipal de Rosário Oeste, com 451 votos, enquanto seu concorrente, Paulo da Silva Modesto, da velha União Democrática Nacional - UDN, obteve 161 votos.

Muitos relatos afirmam ter sido Lígia Borges a primeira prefeita do Brasil. No entanto, as documentações oficiais trazem a afirmação que, a primeira prefeita eleita no Brasil e na América Latina foi Luíza Alzira Soriano Teixeira, viúva, potiguar, que tomou posse no cargo em 1º de janeiro de 1929,  aos 32 anos, nas eleições para a prefeitura de Lajes, cidade do interior do Rio Grande do Norte, pelo Partido Republicano - PR - e venceu com 60% dos votos, quando as mulheres nem sequer podiam votar. Mas foi pouco tempo de administração, apenas sete meses. Com a Revolução de 1930, Alzira Soriano perdeu o seu mandato por não concordar com o governo de Getúlio Vargas. A responsável pela indicação de Alzira como candidata à Prefeitura de Lajes foi a advogada feminista Bertha Lutz, uma das figuras pioneiras do feminismo no Brasil.

A administração de Alzira Soriano à frente da Prefeitura de Lajes resultou na construção de novas estradas, como a que fazia a ligação entre os municípios de Cachoeira do Sapo e Jardim de Angicos. Ela também construiu mercados públicos distritais, fez escolas e cuidou da iluminação pública a motor. Somente com a redemocratização, em 1945, Alzira Soriano voltou à vida pública, como vereadora do município de Jardim de Angicos, onde nasceu. Foi eleita por mais duas vezes consecutivas, liderando a União Democrática Nacional (UDN). Chegou à Presidência da Câmara de Vereadores mais de uma vez. Aos 67 anos, Alzira morreu em 28 de maio de 1963, por complicações de um câncer.

Em memórias de relato sobre a história da energia elétrica em Mato Grosso, encontramos Ermelino Nunes da Silva que diz: “(...) Comecei a trabalhar na Usina do Tombador em 1959. Por qualquer problema na usina, ele tinha que andar dois quilômetros no mato e esperar quase impossível carona para romper os 28 quilômetros até Rosário Oeste. (...) Pior destino tinha o guarda-linhas, Oscar Winckel, que era obrigado a fazer este percurso, mas a pé e sob a rede, procurando defeito e reparando-o.

No período da sua administração municipal em Rosário Oeste, Lígia Borges obteve apoio de João Ponce de Arruda, Filinto Muller e do engenheiro Alberto Addor.

Destacamos as seguintes obras realizadas em sua administração: Usina Hidroelétrica do Tombador; doação de terreno para a construção do Hospital do Amparo; doação de área de 150 hectares para construção do Posto Agropecuário do Ministério da Agricultura, depois EMPA; Perfurou poços de água para abastecer a população, construiu pontes sobre os rios e riachos; Cuidou dos gramados para a prática do futebol, onde deram bons jogos naquela cidade.

Pioneira do serviço social, costumava visitar casa por casa ouvindo a população sobre as suas necessidades, desejos e, dentro do possível, atendendo-os. Além disso, a população confiava tanto nela que, ao dirigir até a sua residência informando as dores que sentiam, saiam de lá com um copinho de água, tampado e, dentro dele, doses de homeopatias para a cura das reclamações. “Eu fui uma dessas pessoas. Pequena, ainda, costumava buscar a homeopatia para os meus pais, avós e tias”.

Atuante, se destacou na política nacional, não só por ser mulher, mas pelo seu dinamismo e iniciativas. É mãe de Edson Borges de Figueiredo, Wilson Borges de Figueiredo, Darcy Borges de Figueiredo e Milton Borges de Figueiredo, que também, foi prefeito de Rosário Oeste, por dois mandatos (1967 a 1970 e de 1973 a 1976), falecido em 28 de abril de 2014 e, avó da arquiteta Adriana Bussiki de Figueiredo Santos e da dra. Darlene Borges de Figueiredo, entre outros.

Lígia Borges de Figueiredo faleceu a 05 de outubro de 1990.

(*) NEILA BARRETO SOUZA BARRETO é jornalista, escritora, historiadora e Mestre em História, membro da Aml e presidente do IHGMT e  escreve para o A Imprensa de Cuiaba

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