Enquanto medidas efetivas não são adotadas, esse fenômeno multidimensional das mudanças climáticas, descrito pelo aumento projetado na temperatura do planeta, pelas mudanças nos padrões de precipitação e pela redução na disponibilidade de água, pode afetar diretamente o equilíbrio dos ecossistemas estabelecidos no planeta, tem grande poder de impacto nos sistemas produtivos agrícolas e pode implicar riscos severos à segurança alimentar, com possível vulnerabilidade para a segurança nacional.
O relatório da ONU – Organização das Nações Unidas, já citado em outro artigo meu, “Relatório de Riscos e Desastres Interligados 2023” alerta para seis pontos de inflexão de risco interligados: entre eles o esgotamento das águas subterrâneas. O que coloca em risco, inclusive, o abastecimento de alimentos. Como já dito, importantíssimo ressaltar que mais da metade dos principais aquíferos do mundo estão se ESGOTANDO mais rapidamente do que podem ser reabastecidos naturalmente. Se o lençol freático cair abaixo de um nível acessível aos poços existentes, os agricultores ficarão sem capacidade de acesso à água, o que coloca sistemas inteiros de produção de alimentos em colapso.
No mundo, cerca de 70% das retiradas de águas subterrâneas são utilizadas para a agricultura. Hoje, os aquíferos ajudam a mitigar metade das perdas na agricultura causadas pela seca, um fenômeno que só deverá aumentar no futuro devido às alterações climáticas.
Outra questão importante a ser destacada é o risco ambiental e sanitário, já que as mudanças climáticas podem gerar uma taxa importante de degradação das terras produtivas, com perda de nutrientes, enfraquecimento dos solos e, no limite, maior desertificação.
Vale aqui destacar a postagem do InBS – Instituto Brasileiro de Sustentabilidade: “O Brasil enfrenta uma nova onda de calor extremo que deve durar até o dia 21 de fevereiro, afetando as regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. De acordo com pesquisadores da USP, a sensação térmica pode atingir níveis alarmantes, chegando a 70ºC em Porto Alegre, onde a temperatura real pode alcançar 39ºC com umidade de até 95%. No Rio de Janeiro, a sensação térmica pode chegar a 66ºC, enquanto em São Paulo, pode atingir 56ºC“. O calor extremo aumenta os riscos de desidratação e outros problemas de saúde, especialmente para grupos vulneráveis. Fonte: USP, Climatempo, Inmet e Olhar Digital.

Adicionalmente, entende-se existir um risco social relevante, já que as mudanças climáticas em curso podem reduzir o acesso aos alimentos, afetar sua qualidade e, no limite, interromper a sua própria disponibilidade.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO), a segurança alimentar existe quando todas as pessoas, em todos os momentos, dispõem de acesso físico, social e econômico a alimentos suficientes, seguros e nutritivos para atender às suas necessidades para uma vida ativa e saudável. Estudos da FAO e do Programa Mundial de Alimentos (WFP), indicam que os principais efeitos das mudanças climáticas para produção primária seriam:
1. Aumento de temperatura do planeta, com reflexos na produtividade agropecuária;
2. Mudanças nos padrões de precipitação;
3. Mudanças nos padrões climáticos e hidrológicos;
4. Surgimento de padrões climáticos sazonais;
5. Mudanças remotas nas condições climáticas com efeito em outras regiões;
6. Eventos climáticos extremos: eventos mais intensos, frequentes, anormais e mais duradouros, como secas, inundações e ciclones tropicais.
Com a elevação da temperatura, muitas culturas poderão ter perdas significativas, ocorrer dificuldades de financiamento rural e proteção aos produtores rurais, riscos de abastecimento e, no limite, vulnerabilidade de segurança alimentar, com risco de proliferação de patógenos, riscos de pandemias, cenário que pode ser acentuado na eventual escassez de água e ocorrência de fenômenos extremos, como seca aguda e tempestades torrenciais.
Em estudo recente usando modelo de equilíbrio geral computável, os impactos das alterações climáticas sobre a produtividade agrícola dos agricultores familiares e patronais para os períodos de 2021/2050 e 2051/2080, chegou a conclusão de que a mudança climática pode provocar perdas no Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 3,5 bilhões a R$ 8,1 bilhões por ano.
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) é responsável pela gestão das políticas públicas de estímulo à agropecuária, pelo fomento do agronegócio e pela regulação e normatização de serviços vinculados ao setor.
O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), realizado pelo Ministério, é um instrumento de política agrícola e gestão de riscos na agricultura. O estudo é elaborado com o objetivo de minimizar os riscos relacionados aos fenômenos climáticos adversos e permite a cada município identificar a melhor época de plantio das culturas, nos diferentes tipos de solo e ciclos de cultivares. A técnica é de fácil entendimento e adoção pelos produtores rurais, agentes financeiros e demais usuários.
Na realização dos estudos do ZARC são analisados os parâmetros de clima, solo e ciclos de cultivares, a partir de uma metodologia validada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e adotada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária. Dessa forma são quantificados os riscos climáticos envolvidos na condução das lavouras que podem ocasionar perdas na produção.
Práticas sustentáveis e seguro rural rendem crédito mais fácil e barato:
As operações de crédito rural são importantes para o desenvolvimento do agronegócio. É por meio delas que o produtor brasileiro tem fôlego para investir em tecnologias, insumos e manejos que aumentem a produtividade e a sustentabilidade das suas atividades, adquirindo o trator, construindo depósitos e até mesmo pagando salários.
Agricultura do Carbono: Como o Setor pode ser Parte das Soluções para as Mudanças Climáticas:
Uma forma de potencialmente manter o carbono no solo é rever a prática de plantio. Segundo matéria publicada pela Agro Metrópole: em vez de revirar grandes quantidades de solo para plantar sementes ou mudas, os agricultores poderiam utilizar equipamentos que criam um canal estreito ou um buraco onde a semente ou muda pode ser plantada. Os resíduos da safra anterior – restolho e talos, por exemplo – ficam no solo e na superfície. A ideia é que isso reduza a perturbação da estrutura do solo e deixe mais carbono orgânico do solo no próprio lugar.
Outro processo interessante é chamado de intemperismo aprimorado. Um estudo de quatro anos, sobre a enorme região do cinturão do milho dos Estados Unidos, descobriu que a aplicação de basalto triturado em campos de milho e soja estava associada ao sequestro de 10 toneladas extras de CO2 por hectare por ano, ao mesmo tempo que aumenta o rendimento das colheitas em 12–16%.
Vale aqui ressaltar que o governo brasileiro pretende aprovar até 2026 a Taxonomia Sustentável Brasileira. Inspirada no modelo da União Europeia, essa taxonomia definirá critérios claros para que uma atividade econômica seja considerada de fato sustentável. Isso significa que, a partir de 2026, produtos e serviços só poderão se promover como sustentáveis se realmente contribuírem para objetivos ambientais concretos, como a mitigação das mudanças climáticas e a proteção da biodiversidade.
Apesar do agronegócio ser responsável por 74% das emissões de gases do efeito estufa (GEE) do país, sendo que 80% disso vem da produção de carne bovina, segundo o Observatório do Clima, ações estão sendo implantadas para combater as mudanças climáticas: A agrofloresta, a rotação de culturas e as culturas de cobertura são algumas dessas práticas que promovem a regeneração do solo, aumentando sua capacidade de retenção de água e sequestro de carbono, além de fomentar a biodiversidade local.
Importante ressaltar que a atividade agrícola para exportação tem sido um importante propulsor para o crescimento do produto interno brasileiro. O agronegócio hoje é responsável por 50,8% de tudo exportado no Brasil, e este resultado está ligado à alta produtividade motivada por incrementos tecnológicos usados no campo.
O aumento da produção representa desenvolvimento, mais empregos e renda, mais alimentos e fibras, mais exportação e mais energia.
A agroindústria de Mato Grosso emprega 47% do total dos trabalhadores que atuam no setor industrial em todo o estado. Nesse segmento, estão 77,9 mil pessoas ocupadas em empresas responsáveis pela transformação de matérias-primas agropecuárias provenientes da agricultura, pecuária, aquicultura ou silvicultura. Percentual este significarivo.
Importante ressaltar que Mato Grosso é o Estado que mais produz para o AGRO no Brasil. Dos 100 principais municípios produtores, 36 são de Mato Grosso. Sendo Sorriso o principal município. Segue abaixo uma tabela com os principais 5 estados exportadores. Fonte: https://www.poder360.com.br

Importantíssimo ressaltar nesse contexto, que várias instituições entendem seu relevante papel na produção sustentável e reunem iniciativas de produção e conservação. Dessa forms, a Aprosoja-MT (Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso) atua na recuperação de nascentes por meio do Projeto Guardião das Águas. O projeto já mapeou 26 municípios, identificou 41. 548 nascentes e apontou que, em média, 95% das nascentes localizadas em áreas agricultáveis estão intactas, no Estado.
O projeto visa garantir a segurança hídrica e o abastecimento de água potável, cujo objetivo é: identificar, recuperar e preservar nascentes; orientar os produtores rurais sobre a importância da manutenção, preservação e restauração das nascentes; proporcionar evidências tangíveis do compromisso dos produtores com a sustentabilidade.
Resultado do Projeto: Em 26 municípios de Mato Grosso, 95% das fontes estão localizadas em propriedades rurais e estão completamente preservadas. O projeto demonstra que os produtores rurais estão conscientes da importância da preservação ambiental. O projeto também contribui para um futuro mais sustentável e equilibrado.
Parabéns Aprosoja-MT: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer” (Geraldo Vandré: Para não dizer que não falei das flores).
Eduardo Cairo Chiletto