Igualdade de gênero e mudanças climáticas são dois temas importantíssimos que estão sendo cada vez mais discutidos na nossa sociedade. O novo relatório da ONU Mulheres mostra como o feminismo pode ser uma ferramenta poderosa para combater as mudanças climáticas.
Conforme texto da UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância, é fundamental entender como esses dois fatores são influenciados no nosso cotidiano e como afetam nossas vivências de diversas maneiras, pois, apesar de serem assuntos diferentes, eles estão relacionados entre si, uma vez que tanto o aquecimento global quanto a desigualdade de gênero atingem as pessoas de maneiras e proporções diferentes.
Segundo a ONU Mulheres, até 2050 as mudanças climáticas podem levar mais 158 milhões de mulheres e meninas para a pobreza e fazer com que 236 milhões enfrentem mais insegurança alimentar. A crise climática provoca aumentos nos conflitos e migração, bem como retórica política anti-direitos e excludente, afetando particularmente as mulheres, os refugiados e outros grupos vulneráveis.
As mulheres vêm desempenhando papéis essenciais na gestão dos recursos naturais e na luta e adaptação às mudanças ambientais ao longo da história, no entanto, são invisibilizadas em processos de tomada de decisão e na formulação de políticas relacionadas ao meio ambiente.
Vale ressaltar que as mulheres desempenham papéis-chave em comunidades sustentáveis, liderando iniciativas de conservação ambiental, gestão de recursos naturais e promoção de energias renováveis.
Importante ressaltar o ODS 5 – Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas. Portanto, reconhecer e promover o protagonismo feminino na agenda climática é essencial para construir um futuro mais justo e sustentável. Isso inclui garantir a participação equitativa das mulheres em processos de tomada de decisão, investir em programas de capacitação e educação voltados para as mulheres e criar políticas que levem em consideração as diferentes necessidades e realidades de gênero.
Vale ressaltar aqui o protagonismo da Txai Suruí – Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Txai Suruí, ou Walelasoetxaige Paiter Suruí, seu nome de batismo que significa “mulher inteligente”, é uma líder indígena e ativista da etnia Paiter-Suruí reconhecida mundialmente pela sua trajetória no ativismo climático.

Seu protagonismo na luta pela conservação da Amazônia é marcante, sendo eleita a pessoa indígena mais influente da lista “Forbes Under 30” da revista Forbes, em 2023. Além disso, Txai foi a primeira mulher indígena a discursar na Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas na COP26, no ano de 2021.
Importância do protagonismo feminino
Ao fortalecer o papel das mulheres na resposta às mudanças climáticas, não apenas aumentamos a capacidade das comunidades mais vulneráveis de lidar com as questões climáticas, mas também promovemos a justiça de gênero e construímos um mundo mais sustentável para as gerações futuras de meninas e mulheres.
Conforme depoimento da Coordenadora de Assuntos Internacionais do Governo de Mato Grosso (Rita de Cassia de Oliveira Chiletto): As mulheres desempenham um papel crucial no combate às mudanças climáticas devido à sua influência em diversas esferas da vida e em seus diferentes papéis de mãe, esposa, filha e como profissional que atua de forma proativa no combate às mudanças climáticas em sua vida diária conforme abaixo:
- Como mãe:
As mães são agentes fundamentais na educação ambiental das futuras gerações. Ao ensinar seus filhos sobre práticas sustentáveis, como economia de energia e água, redução do desperdício e reciclagem. - Como esposa ou parceira:
No contexto familiar, as mulheres podem contribuir para decisões conjuntas que favoreçam a sustentabilidade, como optar por alimentos orgânicos, reduzir o consumo de plástico ou investir em tecnologias verdes, como painéis solares. - Como filha:
No papel de filha, as mulheres podem incentivar suas famílias a adotarem práticas mais sustentáveis. Isso inclui compartilhar conhecimento sobre temas ambientais com os pais, avós ou outros parentes, ajudando a criar uma consciência intergeracional. - Como profissional:
No mercado de trabalho, as mulheres ocupam posições estratégicas em setores-chave, como meio ambiente, educação, saúde, ciência, tecnologia, política e negócios, entre outros. Ao liderarem iniciativas sustentáveis nas empresas ou em suas áreas de atuação, elas promovem mudanças significativas na forma como as instituições operam. - Conhecimento tradicional: Muitas mulheres possuem conhecimento tradicional sobre a gestão de recursos naturais, transmitido de geração em geração. Esse conhecimento pode ser fundamental para encontrar soluções sustentáveis para os desafios climáticos.
As políticas devem reconhecer que as mulheres podem oferecer conhecimentos e experiências únicas — incluindo entre as populações indígenas, rurais e jovens — que podem ser usadas para apoiar uma ação climática eficaz.
Segundo o PNUD – Programa das Nacões Unidas para o Desenvolvimento, as jovens negras compõem a maior parte do grupo conhecido como “Nem-Nem”. Esse termo se refere às pessoas que, segundo as estatísticas oficiais, não estudam nem trabalham. De acordo com o IBGE (2022), em 2021, as jovens negras entre 15 e 29 anos representavam 41,9% desse grupo, enquanto as jovens brancas eram menos da metade, com apenas 20,5%. Esses números revelam algo muito importante: jovens negras estão mais propensas a dedicar seu tempo a trabalhos de cuidado invisíveis e não remunerados.
A distribuição injusta das tarefas de cuidado é uma das principais causas da diferença de tratamento entre homens e mulheres, porque geralmente são as mulheres, principalmente as jovens negras, que ficam responsáveis por fazer a maior parte do trabalho.
Entretanto, mulheres e meninas ao redor do mundo estão na vanguarda do ativismo climático e usam uma variedade de métodos para proteger o meio ambiente e se opor a projetos de extração prejudiciais. Agricultoras também formaram cooperativas e grupos para compartilhar suas cargas de trabalho e aumentar sua produtividade e renda.
Vale ressaltar aqui que a ONU Mulheres planeja desenvolver uma nova ferramenta, o quadro de avaliação de políticas climáticas e igualdade de gênero, para monitorar sistematicamente as políticas climáticas sensíveis ao gênero, o que criará uma base sólida para futuras políticas climáticas inclusivas de gênero.
As recomendações no relatório de Justiça Climática Feminista são apenas os primeiros passos em direção a respostas climáticas globais que incorporam políticas sensíveis ao gênero. É essencial que os objetivos feministas continuem sendo integrados à resposta mundial à crise climática.
Segundo o UNICEF, é de extrema importância que mulheres no poder falem sobre as mudanças climáticas e a desigualdade de gênero, pois por estarem em um lugar de destaque, há uma grande chance de serem ouvidas. Porém, qualquer mulher pode se tornar uma ativista pelo meio-ambiente, aprofundando os seus conhecimentos no assunto e disseminando informações para a sociedade. No entanto, se você for uma pessoa mais reservada, não precisa necessariamente levantar a voz caso não se sinta confortável com isso, é só adquirir hábitos em seu dia a dia que diminuam os impactos das mudanças climáticas, o que já será de uma grande ajuda. Lembre-se: toda ação com propósito é mais do que válida!
Segundo o PNUD: Os eventos climáticos extremos devem continuar em 2025. A ciência climática é clara: a mudança do clima está acontecendo é causada pela ação humana. A mudança do clima é o maior desafio da humanidade. Agir para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e limitar o aquecimento global deve ser um compromisso de todos.
Como disse o Secretário-Geral das Nações Unidas – Antônio Guterres: “Os direitos humanos e os valores democráticos são a nossa melhor ferramenta para ajudar as sociedades a prosperar em liberdade“
Como eu já escrevi e volto a repetir… Como disse Mahatma Gandhi: “Seja a mudança que você quer ver no mundo“.
E volto mais uma vez a dizer, agora em especial para as mulheres e meninas: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer” (Geraldo Vandré: Para não dizer que não falei das flores).
Eduardo Cairo Chiletto
Arquiteto e Urbanista - Presidente da Academia de Arquitetura e Urbanismo-MT. Coordenador Nacional de Projetos da PAGE - Brasil (2018 - 2023). Secretário de Estado de Cidades-MT (2015-2016)... Conselheiro e Vice-presidente do CAU/MT - Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso (2015-2017)