O escritor cuiabano Firmo Rodrigues publicou em 1953, a obra Figuras e coisas da nossa terra, a saga de Estela Vilá Pitaluga, ocorrida em 1943, onde essa jovem comandou para o Norte, uma caravana de 400 homens, com destino aos seringais do Amazonas.
Rodrigues conta que já havia percebido que a educação da mulher brasileira havia sofrido ritmo vertiginoso de crescimento, à época, ou seja 1943. Havia mais mulheres no mercado de trabalho, mais mulheres nas caixas registradoras dos comércios, senhoras e senhoritas como escriturárias, datilógrafas, secretárias e, que, nos concursos públicos, sempre havia uma maior participação delas e, ao mesmo tempo, sendo aprovadas em sua maioria.
Porém, o que chamou a atenção de Firmo Rodrigues foi uma mulher, jovem, polida, educada dirigindo uma expedição de trabalhadores, homens, rumo a seringais, no Amazonas. Era simplesmente, Estela Vilá, uma cuiabana experimentando essa nova arte de comandar expedições composta somente por homens. O fato causou tanta sensação que acabou sendo publicado em um jornal de circulação nacional.
No jornal o Globo, uma comunicação do Belém do Pará, foi publicada informando que: “ o índice de disciplina e de entusiasmo observado nos homens, que constituíram a caravana comandada por uma senhorita, não foi superado por nenhuma das caravanas anteriores. Prestavam à dona chefe uma obediência sem limites e lhe dedicavam um respeito tão grande que, ao desembarcar, interrogada a esse respeito, Estela Vilá respondeu: “ nunca me senti em maior segurança. São homens leais, bons, companheiros decentes, que apenas pedem um pouco de bondade, um tratamento digno, nada mais”.
E, Estela Vilá ao ser entrevista respondeu que: “ Estou muito satisfeita em ser mulher. Só agora, como está vendo, fujo um pouco à vulgaridade, porque o momento é de luta e exige contribuições de todos, dos homens e das mulheres. Estou ajudando um pouco, dentro das minhas possibilidades, concluiu”. Pensamento que também combina com os dias atuais.
Em 1943, Estela Vilá já tinha conhecimento da conquista do voto feminino, em 1932. Logo, era uma mulher inteligente e politizada. Acompanhava, por certo, as informações de rádios e jornais. O exemplo de Vilá serviu para que Estevina Abalem se armasse de coragem e caminhou para enfrentar a luta rumo à câmara municipal de Cuiabá e, em 1951, fosse eleita e diplomada em 17 de janeiro de 1950, a primeira vereadora de Cuiabá e talvez de Mato Grosso, fato este que merece à atenção de pesquisadores, com certeza. Pela Constituição de 1934, o voto feminino ganhou bases constitucionais. Se considerarmos que em 1893 a Nova Zelândia já concedia às mulheres o direito de voto, parece uma conquista tardia, mas, na França, isso só aconteceu em 1944 e, na Suíça, em 1971. Desta forma, mulheres cuiabanas saíram à frente das mudanças e dos acontecimentos.
Com essa atitude, para Rodrigues, Estela Vilá lavrou um título honroso para à mulheres cuiabanas e para outras mulheres que por aqui aportam, migrantes e imigrantes, revelando o de que ela é capaz, e ao longo do tempo vão colhendo louros no esforço tanto nos seringais, à época, como nos dias atuais, na agricultura familiar, nas hortas, nos pomares, no magistério, na medicina, no espaço, na justiça, no jornalismo, na escrita da história, na literatura, na política, dentro ou fora das matas, na segurança pública, na aviação, na marinha, nas religiões, etc; vão alegres, cheias de vida, confiantes no futuro e na sua capacidade de trabalho, seus saberes e fazeres adaptados aos novos tempos, às novas metodologias, às novas leis, de modo a garantir a saúde da sua família e da sociedade em geral, na sua comunidade, na cidade, nos seus estados, no país.
Para Estela Vilá a “autoridade de opinião não está na força “, mas no conhecimento adquirido de cada uma ao longo do seu aprendizado.
Para Margareth Rago, vivemos profundas transformações nas relações de gênero, mas ainda há muito em que progredir. A violência de gênero, por exemplo, não diminuiu, mas ganhou visibilidade na mídia. Por outro lado, homossexuais e mulheres, deixaram de ser tão estigmatizados e já têm espaços conquistados e garantidos a cada dia. Aquele pensamento de que a mulher era um ser inferior, impedido de certas profissões e marcado por comportamentos muito mais emocionais do que racionais ruiu há tempo, garante Rago.
(*) NEILA BARRETO é Jornalista. Mestre em História. Membro da AML e atual presidente do IHGMT.