15 de Novembro de 2024

OPINIÃO Terça-feira, 29 de Outubro de 2024, 13:39 - A | A

Eleições 2024: o panorama político e a derrota histórica da esquerda

daniella barbato

 Danielle Barbato

Nas eleições municipais de 2024, pudemos acompanhar a derrota histórica do PT nas capitais, revelando o fortalecimento de partidos de direita e centro. O Partido dos Trabalhadores (PT) levou só uma prefeitura, sinalizando um enfraquecimento histórico da legenda.
 
Em São Paulo, a disputa pelo segundo turno se deu entre Guilherme Boulos (PSOL) - com apoio do PT - e o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) - apoiado por Bolsonaro e pelo governador Tarcísio de Freitas. Nunes levou a melhor com 59,35%.
 
Mesmo sem o apoio do Marçal, Nunes conquistou a vitória em São Paulo, o que só reforça a “fraqueza” do Marçal, mascarada pela fama artificial e forçada na internet. Afinal, ele nem chegou ao segundo lugar no primeiro turno e não conseguiu influenciar o resultado como pretendia. Enquanto o Marçal ficava de joguinho de ego, incentivando votos nulos e até o apoio ao Boulos, Nunes se mostrou a escolha mais inteligente. Primeiro, porque era o único com real força para enfrentar e vencer Boulos. Segundo, porque conta com um vice leal ao Bolsonaro, garantindo um alinhamento à direita.
 
O PT foi, de fato, varrido das eleições municipais, obtendo somente 6 prefeituras das 103 grandes cidades do Brasil. O Partido Liberal (PL), sob a liderança de Valdemar Costa Neto e com forte influência de Jair Bolsonaro, conseguiu 16 prefeituras, mas o conglomerado dos partidos do Centrão, controlado por Kassab foi o verdadeiro vencedor.
 
O PL foi o partido que mais venceu nas cidades com mais de 200 mil habitantes: serão 16 ao todo. O desempenho do partido de Bolsonaro nas capitais e grandes cidades indica um avanço relevante no cenário político nacional, possivelmente refletindo as preferências do eleitorado rumo a um espectro político mais conservador.
 
Por sua vez, o PSD, liderado por Gilberto Kassab, se destaca como o partido que conquistou mais prefeituras no Brasil a partir de 2025, totalizando 887 municípios. Logo atrás, o MDB e o PP ocupam a segunda e terceira posição, com 856 e 745 prefeituras, respectivamente. O PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, aparece em quinto lugar, enquanto o PT, do atual presidente Lula, ocupa a nona posição, com 252 prefeituras.
 
O PSD, depois de eleger 202 prefeitos no primeiro turno, venceu outras três prefeituras no estado neste domingo, 27 de outubro. Agora com 205 prefeitos, o PSD tem quase o dobro de eleitos do PL, que emplacou 104 candidatos nos dois turnos.

Nunes se distancia de Bolsonaro e decreta fidelidade ao governador Tarcísio, o candidato preferido de Gilberto Kassab – não de Bolsonaro - à Presidência da República em 2026, naquilo que podemos denominar de “direita permitida, moderada, fisiológica”... ah, e alinhada com a agenda progressista 2030.
 
A força demonstrada pelo PL no primeiro turno parece ter sido suprimida pelos holofotes do Centrão (ou Direita Moderada) no segundo turno.
 
Isso porque, nem esquerda, nem direita possuem maioria sozinhas.  Portanto, sempre que houver um candidato de esquerda ou de direita contra um de centro, o de centro tende a ganhar porque, junta, em torno dele, todos os eleitores que não são convictamente ideológicos nem para a esquerda nem para a direita (leia-se, muitos), somados a todos os eleitores do espectro contrário, fazendo com que juntem-se dois grupos contra um.
 
Foi o que aconteceu em São Paulo, onde o Nunes conseguiu juntar centro e direita contra a esquerda de Boulos, o que lhe garantiu tranquilidade no segundo turno.
 
Vamos aos números, após a consumação das eleições 2024:
 
Nas 26 capitais tivemos:
 
- 10 disputas entre centro e direita, o centro venceu 8 e a direita 2.
- 9 disputas entre centro e esquerda, o centro venceu 9 e a esquerda 0.
- 4 disputas entre direita e esquerda, cada uma levou 2.
- 3 disputas entre candidatos de centro.
 
Esses resultados mostram a ascensão do centrão. Ou melhor, das 19 disputas em que se tinha um candidato de centro contra um de esquerda ou direita, o centro ganhou 17.
 
Como dito no início, a direita se sagrou fortalecida no primeiro turno, emplacando muitos candidatos, inclusive em cidades que historicamente votavam mais à esquerda.Quando chegou o segundo turno, em confronto direto entre um centrista moderado e alguém que a mídia classifica como extremista, a maior parte do povo optou por rejeitar os extremos e consagrar o meio.
 
Uma coisa é você atingir a marca de 25% a 30% dos votos de modo a garantir uma vaga no segundo turno, mas isso é só a metade da disputa, na qual, quem quisesse ganhar precisaria dobrar a votação, furando a bolha e atraindo a atenção de outros eleitores.
 
Por isso, podemos dizer que o segundo turno é uma disputa de rejeições. Se no primeiro, ganha quem tem mais apoiadores, no segundo, ganha quem tem menos “haters”, ou aquele que incomoda menos, pois, quando os eleitores órfãos precisarem fazer suas escolhas, certamente irão naquele candidato que consideram “menos pior”.
 
Moral da história: se pegarmos os resultados de todos os municípios do Brasil (mais de 5 mil), teremos a seguinte proporção: o centrão levou 76% das prefeituras, a esquerda levou 14% e a direita levou 10%.
 
A direita ganhou de lavada da esquerda no embate PT x PL, isso é fato. Mas a esquerda tem muitos partidos; e se somarmos todos eles, acaba superando o resultado do PL, praticamente sozinho.
 
Não há nada para comemorar, essas eleições mostraram que as duas faces da mesma moeda brigam pelo poder. O teatro das tesouras está mais vivo do que nunca. Não esperamos nada, ou quase nada, da política há muito tempo. Quem entra no governo e quiser durar no jogo deve despolitizar-se, suavizar os limites da sua identidade e da sua proposta, mas depois deve neutralizar-se, integrar-se no fluxo da governança global.
 
Essas eleições mostraram mais uma vez que o sistema permanece firme e forte, toda diferença é supérflua, sem a menor percepção de que tal vazio não tem precedentes.
 
A única forma de mudar o sistema é ocupando espaços dentro dele para poder muda-lo por dentro. Foi isso que a esquerda fez ao longo de décadas, e quem quiser desfazer, precisará percorrer o mesmo caminho. 

*Danielle Barbato é advogada especializada em Direito Civil e Processo Civil, Direito do Trabalho e Processo do Trabalho, Direito Imobiliário e Gestora Condominial.



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