A cidade de Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso é repleta de cursos d’águas límpidas e naturais, as quais a evolução urbana engoliu transformando-os em eternos canais de esgoto, onde as suas fontes naturais de água foram poluídas pelo homem.
O processo de crescimento e expansão da cidade de Cuiabá ocorreu sem que houvesse um planejamento adequado, tendo como principal característica à ocupação de Área de Preservação Permanente – APP. Nesse contexto, essas áreas devido a retirada parcial ou total da vegetação, aterramento e edificações, vem experimentando diversas alterações ambientais prejudicando a preservação dos recursos hídricos, a estabilidade geológica e a biodiversidade.
A exemplo, podemos citar o córrego do Urubu, um canal de esgoto a céu aberto totalmente poluído pela ação do homem, conforme informação do engenheiro Noé Rafael da Silva, professor aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso-UFMT e, ex diretor da Companhia de Saneamento do Estado de Mato Grosso – Sanemat, extinta no governo Dante de Oliveira.
Sempre que posso converso com o engenheiro Noé sobre esses nossos compromissos com o meio ambiente, uma vez que somos oriundos do saneamento no estado de Mato Grosso. A companhia foi extinta, mas, nós ainda estamos aqui para alertar as autoridades. Hoje lembramos do córrego do Urubu, um recurso hídrico cujo trajeto encontra-se inserido na região leste da zona urbana de Cuiabá. É afluente da Bacia Hidrográfica do Rio Coxipó e está inserida na sub bacia do Rio Cuiabá, pertencente à Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai.
Geograficamente, a localização da nascente deste córrego está situada no bairro Jardim Universitário, na capital, nas coordenadas geográficas 15.12.12.99.S e 56.01.39.33W, cuja área é composta de um fragmento de cerrado gramíneo-lenhoso totalmente degradado. Este córrego tem uma extensão de 1.700 km dos quais, 560 metros estão canalizados e atravessa os bairros Recanto dos Pássaros, Jardim Imperial I, Jardim Imperial II e Parque Universitário, na capital, totalmente poluído.
No sentido de mitigar a degradação ambiental na área de APP do Córrego do Urubu, a Prefeitura de Cuiabá, deu início a um Projeto de Revitalização por meio do planejamento municipal para a implantação de um Parque Linear, tornando uma das alternativas mais viáveis de projeto urbanístico, visando proteger e/ou recuperar os ecossistemas junto a esse corpo d´água, frisou Rafael.
O Parque Linear, também é conhecido como “Corredor Verde”, onde o comprimento do Parque é maior que a largura, constituindo dessa forma, um espaço de proteção ambiental e lazer para a comunidade.
O novo equipamento público, denominado de Parque Linear do Córrego do Urubu, possuirá 1.200 metros de extensão e será composto por pista de caminhada, iluminação e calçadas, incentivando a prática de atividades físicas e inclusão social.
Segundo Rafael, a mobilização contará ainda com o apoio da empresa concessionária Águas Cuiabá e Rotary Club. A criação do Parque Linear é uma das formas encontradas para garantir de forma sustentável o uso e a ocupação de áreas urbanas.
Hoje, quando contextualizamos essas áreas dentro do território nacional brasileiro, elas são designadas pela legislação ambiental como unidade de conservação, ou seja, áreas protegidas, coberta ou não por vegetação, com a função ambiental de preservar os recursos naturais. Ao longo dos anos, as APP’s urbanas vêm se deteriorando devido às ocupações urbanas irregulares às margens dos cursos d’água e, sem nenhuma proteção por parte dos governantes. A fome imobiliária é maior do que a proteção ao meio ambiente.
Cada vez mais os municípios brasileiros estão buscando implementar medidas de proteção para evitar a degradação dessas áreas. Em Cuiabá o esforço da Prefeitura de Cuiabá para revitalização e conservação do Córrego do Urubu, ainda não saiu do papel, isto é, ainda não se tornou realidade, informou Rafael da Silva.
Dessa forma, torcemos para que futuros administradores da cidade abracem essa causa. O rio Cuiabá e o pantanal mato-grossense agradecem em retirar dos seus ombros o imenso peso da imundice e das sujeiras que vem engolindo ao longo dos anos.
*) NEILA BARRETO é jornalista, historiadora, membro da AMLe presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.