Um dos abnegados pioneiros da antiga da Companhia de Saneamento do Estado de Mato Grosso – SANEMAT e construtor da Estação de Tratamento de Água II localizada na avenida São Sebastião, no bairro Quilombo, na capital, o eng. José Brunello Bombana, faleceu no último 28 de maio, do corrente ano, no Rio de Janeiro-RJ onde residia atualmente. Ainda falou comigo no dia 26 de maio. Sempre procurei buscar a memória da cidade por meio da água. Gosto de registrar essas histórias.
José Bombana informou que o saneamento em Mato Grosso iniciou em abril de 1967, no mesmo ano que chegou a Cuiabá. A sede da SANEMAT estava instalada numa sala constituída por divisória de madeira, de meia altura, no 4º andar do Palácio Alencastro, sede do Governo do Estado.
Enquanto esperava pela audiência para apresentar-se ao Governador Pedro Pedrossian, que estava viajando, ocupou-se em ler todo o material existente no arquivo da companhia, que não era muito, incluindo o Livro de Atas e outros livros fiscais. Manteve longas conversas com os engenheiros Sarkis Tchargian, Roberto Galvão (Secretário de Planejamento) e Paulo Fagundes (Secretário da Fazenda), que o introduziram junto às demais autoridades federais, estaduais e municipais de Cuiabá. Mais tarde a companhia mudou-se para um apto na Rua Barão de Melgaço esquina com a Avenida Ponce.
Seu nome está gravado na ETA I em sua homenagem. O projeto original da ETA I, localizada na Avenida Presidente Marques, em Cuiabá, hoje denominada “engenheiro José Brunello Bombana” foi construída pela empresa Coimbra Bueno e Cia. Ltda., no governo Júlio Muller (1937-1945) e faz parte das obras construídas da gestão Getúlio Vargas. Recebeu o nome de “Torre de Água” e foi inaugurada em 19 de abril de 1942, com 122 L/S. Hoje atende com uma vazão de até 132 l/s, no período da seca e 420 casas por hora, na capital.
A torre foi locada de acordo com o plano geral de abastecimento d’água da capital, obedecendo aos níveis determinados pelo projeto da parte hidráulica. As escavações para a fundação foram levadas até o terreno firme, o piso sob a caixa foi elevado de 0.20 m. sobre o terreno vizinho, onde o aterro foi feito com material limpo e homogêneo.
As fundações sob as sapatas e paredes foram executadas em alvenaria e, em concreto ciclópico. Os pilares em concreto armado, onde a taxa de trabalho do terreno não poderia ultrapassar a 1, 5 kg/cm. Se o terreno apresentasse heterogeneidade, seria modificado o tipo descrito, empregando-se processos especiais, tais como radieis vigas de fundação, etc.
Em toda a área coberta e mais numa faixa de 1 metro e, em volta da mesma, foi estendida camada de 10 cm de espessura de concreto de modo a formar a camada impermeabilizada, cujos trabalhos eram para dar o rápido escoamento das águas.
Toda a estrutura da torre compreendeu sapatas, pilares, vigas, percintas, lajes, escadas, paredes e cobertura, em concreto armado. O cálculo especificando no regulamento da Prefeitura do Distrito Federal, à época Rio de Janeiro (Decreto 6.000 de 01/07/1937), onde o concreto empregado foi do tipo 350 e a taxa de trabalho de aço não deveria ultrapassar a 1.000 kg/cm. No elemento da caixa propriamente dita foram tomadas todas as precauções para obter de um concreto compacto e impermeável.
O revestimento das faces aparentes do concreto foram chapiscadas com argamassa forte de cimento, sendo depois de feito o revestimento rústico do tipo “vassourinha”, e caiado em tom a escolher. A cobertura, o fundo e as paredes da caixa, foram impermeabilizados com capa de argamassa de cimento e areia fina traço 1:2 tendo adicionado tipo “sika”, de água ou equivalente.
O concreto geral, as escadas e as lajes do piso foram cobertas com cimentado áspero, tendo a argamassa a espessura de 2 cm. O guarda corpo, as escadas e os patamares foram protegidos de um lado, por grade de ferro com 0.90 de altura, formada por montantes de ferro redondo de 1/2” e peitoril e, rodapé de ferro chato 1-1/4”, onde a grade levou uma demão de zarcão e 2 de betuvia ou equivalente.
A caixa de ventilação foi disposta na cobertura e, é protegida por tela metálica. Os para-raios foram instalados com uma haste cordoalha de cobre e chapa enterrada profundamente no solo, onde a cordoalha foi protegida por tudo galvanizado até 2 m, a partir do solo. Foi instalada uma escada de ferro, tipo marinheiro, para acesso à caixa.
Atualmente, a ETA I faz parte do complexo do Memorial da Água “Eng. José Luiz de Borges Garcia”, cujo prédio foi reformado na gestão do ex-prefeito de Cuiabá Wilson Santos com apoio da Fapemat (Fundação de Pesquisa de Mato Grosso), Sanecap e Prefeitura de Cuiabá.
No meio disso tudo estava José Brunello Bombana, o pioneiro abnegado. Nasceu em Itu – São Paulo, descendente de italianos. Pai de Camila e Marcelo Bombana. Como engenheiro atuou em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Nestas duas últimas Nicia foi parceira de trabalho nos anos de 1983 a 1989. Bombana foi diretor da extinta CIBRAZEM, estatal de armazenamento. Da SILCO Engenharia LTDA, especializada na construção de silos. Era uma “joint-venture” com a Buffalo Beton Incorporadora, uma empresa Canadense, que forneceu a tecnologia dos silos construídos em Brasília, Uberaba, Uberlândia (MG) Cambé (Paraná) e Campo Grande (MS)
Competente, Bombana foi sócio e diretor da AMBITEC – inovações tecnológicas, especializada em projetos e construções de tratamento e distribuição de águas, sendo um dos seus maiores clientes a SABESP – Companhia de Saneamento de São Paulo. Foram seus sócios dois ex-funcionários da SANEMAT: Oscar Lacerda e Luís Augusto.
Atualmente convivia com uma antiga amiga, Magaly Andrade Leite, também viúva, como ele.
(*) NEILA BARRETO é Jornalista. Mestre em História. Membro da AML e atual presidente do IHGMT.
Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.aimprensadecuiaba.com.br