A capela de NS do Bom Despacho materializou o dar graças pelos sobreviventes do primeiro grande confronto com os Paiaguá em 1725. E sintetizou a continentalidade multiétnica da história daquela e desta nossa Cuiabá.
É sempre bom lembrar nossa espacialidade: a parte mais central da América do Sul. Economicamente, o morro da capela de NS do Bom Despacho, comunicava-se com outro, que se erguia até o Tanque do Ernesto e com o promontório onde mais tarde foi erguida a capela (depois igreja de Nossa Senhora do Rosário) e capela de São Benedito.
Volto à capela de NS do Bom Despacho. Em todo o seu entorno (como em todo o arco elevado da margem esquerda do córrego depois chamado "Prainha"), houve intensa mineração. Então: não é estranhável que em suas proximidades se fosse erguendo, com trabalho escravo, forro e livre, no mínimo desde os primeiros anos 1720 (ou antes), um bairro da Vila do Senhor Bom Jesus do Cuiabá, denominado Mundéu, na bocaina entre o atuais morros "Seminário" e "Luz". Com sua "Rua do Mundéu", com suas "Fontes do Mundéu", com sua "Ponte do Mundéu".
Há uma espécie de tradição, que define a palavra "Mundéu" como arapuca. E pode ser. Para vários linguistas a palavra Mundéu é ligada ao tupi. E no Vocabulário Lusitano, de Raphael Bluteau (1ª metade do século XVIII), não aparece a palavra Mundéu. Mas é, por outro lado, frequente no Brasil, seu uso em documentos que tratam de mineração. De mineração grande, complexa, em área rochosa, em aclive/declive, com muito uso de alavancas e outros instrumentos de ferro, madeira “de lei”, concentração de trabalhadores escravos e livres. E muita água, muita lama, tanques de decantação; forte agressão ambiental.
E esta nossa Cuiabá, principalmente nas margens chãs e elevadas do sinuoso córrego que avançados os anos do século XVIII, passou a ser chamado de "Prainha", as atividades mineradoras foram muito assanhadas.
Na mineração brasiliense, o Mundéu era empreendimento que podia exigir grande investimento. Era reservatório grande: 40 a 60 palmos de largo, 15 a 25 de alto; erguido em morros, montes e montanhas, no flanco ou no sopé. Às vezes alimentados por aquedutos de madeira firme.
Muitas pedras, ligadas com argamassa de barro e areia. Então: o nome do Bairro que surgiu naquela parte do Arraial, depois Vila do Cuiabá, era o de componente decisivo em mineração grande. As duas (ou mais) fontes de água existentes no Bairro, certamente foram úteis no desmonte e na lavagem de mineração.
Pesquisas arqueológicas na área podem ainda, talvez, localizar indícios do que digito agora, para postar daqui a pouco.
Juntei fotos, riscos de projetos, para sustentar e visualizar o que escrevo.
Seria interessante a formação de grupo de interessados/as na história do Bairro do Mundéu.
O professor Carlos Rosa, que é doutor em História Social
Benedito João de Santana 15/10/2023
Querido Professor Carlos Rosa...nosso querido doutor em História de Mato Grosso..autoridade incontestável no assunto....me interesso no Mestrado nesse tema...
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