A Independência do Brasil é comemorada nacionalmente neste 7 de setembro, data que remete ao dia que Dom Pedro I deu o famoso grito do Ipiranga com a frase “Independência ou morte”, às margens do Rio Ipiranga, atualmente cidade de São Paulo (SP). Em Mato Grosso, o clima era de disputa que se acirrava entre os grupos políticos de Vila Bela da Santíssima Trindade, então capital do Estado, e Cuiabá.
Marcus Cruz, professor do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), relembra que a Província de Mato Grosso tinha sido criada havia pouco tempo, em meados do século XVIII. Ela havia sido formada em função da descoberta do ouro, diamante e para proteção das fronteiras, a fim de evitar invasão dos países vizinhos.
O governo tinha definido Vila Bela da Santíssima Trindade, a 562 km de Cuiabá, como capital da província, principalmente para proteger a fronteira. Os grupos políticos das duas cidades eram formados pela elite local, como servidores públicos, militares, comerciantes, brasileiros e portugueses. Os polos tinham suas próprias governanças, chamadas de “juntas de governo”, com interesses diferentes.
A junta de Cuiabá tomava força por conta do forte poder econômico da região e a região de Vila Bela ficava defasada em razão da fronteira não ter mais grandes ameaças de invasão, já que os países vizinhos também se tornavam independentes.
O maior enfraquecimento de Vila Bela se deu por uma tentativa falha de anexação de territórios espanhóis. “Isso vai levar posteriormente que a capital seja transferida para Cuiabá de forma definitiva”, explica Cruz.
Dependência do latifúndio e escravidão
O processo de Independência não trouxe grandes alterações na base econômica e de trabalho do Brasil, assim como em Mato Grosso. O país sumariamente continuou com base no latifúndio e na mão de obra escrava.
“Com relação a Mato Grosso, a Independência traz o fim da proibição de se buscar novas lavras de diamantes nas regiões ao Leste do estado. E também para aumento do tráfego com a província de Goiás”, diz. Na análise do professor, isso levou a um alento para economia do Estado, que passava por instabilidades.
“O processo de Independência do Brasil vai se acelerar devido a questões europeias, a expansão napoleônica, que faz com que a Família Real Portuguesa venha para o Brasil. O país deixa de ser uma colônia e passa a ser um reino unido”.
Instabilidade política em todo país
Apesar da Independência trazer para Mato Grosso a definição do núcleo de Cuiabá como detentor da maior força política, no período a seguir, em todo país, houve muita instabilidade e lutas políticas.
Se por um lado, os políticos de tendência liberal defendiam a autonomia política das províncias e a reforma das antigas práticas, de outro os portugueses queriam uma estrutura política centralizada e a manutenção dos privilégios que desfrutavam antes da independência do Brasil.
Mato Grosso viveu a Rusga, movimento nativista. (Imagem: Moacyr Freitas)
Um desses movimentos ocorreu em Mato Grosso, na região de Cuiabá, é conhecido como Rusga. O evento histórico ocorreu em 30 de maio de 1984, quando cuiabanos saquearam, maltrataram e até mataram portugueses, com o grito de guerra “Morram os bicudos, pés de chumbo”.
Segundo o professor, essa instabilidade só é superada quando Dom Pedro II sobe ao trono e com a melhora do setor econômico.
7 de setembro e a identidade nacional
A data de 7 de setembro é conhecida hoje pela Independência do Brasil e é tida como um símbolo nacional. Em Brasília, nas capitais e cidades de todo país são realizados desfiles com uso de bandeiras, marchas e execução de hinos.
No entanto, a celebração desse dia não era comum ainda no período Imperial, descreve o historiador Marcos Cruz. “A data da Independência não era o 7 de setembro, era 12 de outubro, quando imperador foi aclamado, subiu ao trono”.
Quadro Grito do Ipiranga. (Pintura: Pedro Américo)
Mais próximo ao final do Império é quando a data ganha relevância, devido o imperador ter encomendado o quadro “Grito do Ipiranga” ao pintor Pedro Américo.
A data de Independência, assim como a da Proclamação da República (15 de novembro) e Tiradentes (21 de abril) são importantes para a construção da identidade nacional. Segundo Cruz, essas comemorações são relevantes para a identificação do “ser brasileiro”.
“Para a criação desse sentimento de se sentir brasileiro, de pertencimento de uma nação, são fundamentais essas datas para compartilharmos de um passado comum”, completa.
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