A data de 30 de setembro, este sábado, será histórica para a Academia Mato-Grossense de Letras-AML. Pela primeira vez uma presidente passa o cargo para outra mulher, promovendo mais que uma revolução de gênero na instituição, que pela quarta vez, em 102 anos, terá uma representante feminina no comando da gestão, isso porque a nova gestora é também a primeira negra a ocupar tal cargo no país. Sai a jornalista, escritora e empreendedora Sueli Batista, que passa a fazer parte do Conselho Superior, e entra Luciene Carvalho, que se dedica quase que totalmente à literatura, porque ela é também diretora teatral. A presidente eleita costuma dizer, com orgulho, que vive da poesia.
Sueli Batista, que durante duas gestões tem cumprido uma intensa agenda, destacando-se como a presidente dos 100 anos da Academia Mato-Grossense de Letras e, na pandemia, conseguiu abrir a casa. Com extremo espírito voluntário, afastou-se praticamente de suas atividades empresariais à frente da Studio Press Comunicação, Portal Rosa Choque e Instituto Ecogente para entregar toda experiência de gestora para estruturar a instituição, tanto na parte financeira, administrativa quanto no âmbito cultural, abrindo a sede da instituição, a Casa Barão de Melgaço, para a sociedade, incluindo-se a comunidade artística e escolar.
Cada presidente sempre deixa uma revista em suas respectivas gestões. Na primeira vez que assumiu, em pleno período da pandemia, optou pela obra que homenageou os 100 anos do poeta João Antonio Neto e dois acadêmicos que faleceram, Benedito Pedro Dorileo e a ex-presidente Marília Beatriz de Figueiredo Leite. Diversos acadêmicos contribuíram com a publicação com artigos carregados de histórias e de sentimentos, cujos trabalhos foram coordenados pelo vice-presidente Aclyse de Mattos e pela conselheira editorial Elizabeth Madureira.
No segundo mandato, na esteira das comemorações do centenário, Sueli Batista iniciou um trabalho desafiador, que ela mesmo cuidou da direção e organização, que foi a Revista 100. A obra de seiscentas páginas em capa dura é um dos maiores registros do legado deixado pela presidente. Isso porque integra o conjunto de ações compartilhadas, no qual as trajetórias de vidas de todos os patronos e ocupantes das 40 cadeiras ao longo do centenário ficaram indelevelmente registradas, com biografias, fatos e fotos.
Teve ainda contribuições com textos históricos do conselheiro editorial, Sebastião Carlos Gomes de Carvalho, e de pesquisas fotográficas com contribuições de Mariza Bazo, Neila Barreto e Francisco das Chagas Rocha. Junto a isso, o resumo do que ocorreu nos 100 anos, com eventos comemorativos, cápsula do tempo a ser aberta em 2121 estão em suas páginas. O pensamento da contemporaneidade sobre o amanhã se materializou em pequenos escritos e será conhecido pelos que virão.
A obra centenária foi pesquisada e em partes escrita pelos ocupantes das cadeiras e editada pela Studio Press Comunicação e somente foi possível sair do site da instituição, para impressão, numa articulação da acadêmica presidente, com a acadêmica Lindinalva Rodrigues junto dos deputados, Janaina Riva, vice-presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso e do presidente, Eduardo Botelho, através do setor do Patrimônio da casa de leis. A Revista 100 comemorativa do centenário será entregue gratuitamente nos eventos da instituição, para bibliotecas e Academias de Letras de diversas capitais do Brasil.
Outro ponto alto da gestão foi usar sua expertise para captação de parcerias, tendo ajuda fundamental de sua sócia Mariza Bazo. Iluminou toda a casa com um trabalho luminotécnico oferecido com a expertise da empresária Zilda Zompero. Sueli deixou a Academia mais preparada para se apresentar para a sociedade e para a realização de projetos importantes com a Secretaria de Esporte, Cultura e Lazer-Secel MT, para a abertura da sede visando a realização de oficinas literárias e apresentações musicais e ainda para ajudar na gestão do edital Estevão de Mendonça, que formou um grande banco de pareceristas em nível nacional. De janeiro até a conclusão de sua gestão, neste ano, os trabalhos foram intensos e ocorreram duas atividades todos os meses.
A TRANSIÇÃO
Os caminhos sinalizam que a transição será muito tranquila entre as presidentes. Luciene Carvalho destaca a gestão estruturante de Sueli Batista, atribuindo que contribuiu para abrir caminhos para que ela se candidatasse. Aceitou o desafio porque algo mudou dentro de sua percepção, passando pela análise do trabalho que vem sendo feito, na instituição centenária e isso não somente pela longeva Academia Mato-Grossense de Letras manter uma tradição, mas também por algo que a deixou muito a vontade, que foi o fato a mesma ter passado por uma revisão estatutária na atual gestão.
“O novo Estatuto bem escrito, bem construído deu um norte, uma pauta muito importante, clara e evidente”, disse Luciane. Dentre as mudanças muito aguardadas, a exemplo da eliminação do voto pelo Correio, contemplou a criação do Conselho Superior, composto por ex-presidentes, sendo que terá na sua formação: Sueli Batista, Sebastião Carlos Gomes de Carvalho, Eduardo Mahon, Nilza Queiroz Freire e Ubiratã Nascentes Alves. Pessoas que estarão próximas de Luciene e ela terá a humildade de compartilhar suas dúvidas, garante.
Ao falar da presidente Sueli Batista, Luciene diz que ela fez um trabalho estruturante, apontando que a gestora não só estruturou a casa enquanto instituição, observando-se a parte administrativa e financeira, mas que também dialogou com as outras casas do gênero, com uma dimensão interestadual e nacional. Tal representatividade, na sua avaliação mostrou que ter um grupo de suporte faz toda diferença na realização de atividades, e diz que teve também a questão de seu talento de comunicadora, pois a divulgação da instituição foi muito abrangente e ela nunca viu nada igual nos anos que passou a ocupar uma cadeira.
“A Sueli é uma mulher valente, corajosa e atuante. Ela ultrapassou barreiras, soube muito bem ocupar territórios, uma mulher de jornada, confiante do trabalho que precisa ser feito, e não é uma sucessão o que ocorrerá, mas sim uma transição. Eu quero contar com sua expertise na analise de caminhos que nos poderemos seguir, pois sou imensamente grata porque estamos fazendo esse episódio único na casa, quando uma mulher passa o bastão para outra, quando passa a cadeira para outra, isso é um sinal dos novos tempos, uma ousadia da contemporaneidade, isso é ousadia de fazer o não feito, o não criado. É um momento de emoção, de importância e de empoderamento feminino, que tão bem combina e condiz com a jornada que a gestora vem construindo em Mato Grosso e no país”.
Integram a nova mesa diretora, junto da presidente eleita: Flávio José Ferreira, na vice-presidência; Maria Cristina de Aguiar Campos, como secretária e Agnaldo Rodrigues da Silva, na tesouraria; e o conselho editorial, que conta com Elizabeth Madureira Siqueira, Olga Maria Castrillon Mendes e Marli Walker; conselho fiscal que conta com Eduardo Mahon, Lorenzo Falcão, Marta Cocco, reúnem um “time de craques, quanto talento junto quanta experiência, competência produtividade no conjunto pessoas”. Quando assumir, pelo novo Estatuto, Luciene deverá apresentar dois membros, que ocuparão como vices a secretaria e a tesouraria, estes não passam pelo processo eleitoral.
A posse ocorrerá às 19h30, no Salão Nobre da Casa Barão e terá transmissão ao vivo através do canal da AML no You Tube da instituição: https://youtube.com/live/PNYkwu3JYss?feature=share