Idealizada e construída pelo artista e escultor Antônio de Pádua Nobre, conhecido como Pádua, a galeria que leva seu nome abriga mais de 30 mil esculturas. O local, conhecido ponto de efervescência cultural dos anos 2000 e hoje um dos monumento às artes plásticas, está prestes a se transformar também em um refúgio das artes cênicas. É que Pádua está concretizando o sonho de erguer ali um teatro.
Construir o teatro é o maior e mais caro desafio nesta trajetória de 22 anos de espaço. “A galeria enfim está pronta. Agora só falta o teatro, que é a parte de cima. Esse teatro é a parte que ficou naturalmente para o final, e é também a parte mais cara, porque é repleta de coisas que eu não tenho e não sei fazer, mas alguma coisa eu já fiz. As poltronas eu vou fazer!", projeta.
De família humilde, e nascido no interior do Ceará, o artista foi morar no Rio de Janeiro aos 17 anos, com a intenção de estudar e viver da sua arte. Na “Cidade Maravilhosa” ele enchia uma sacola de plástico com suas esculturas, ia de porta em porta, e vendia suas peças em lojas, escritórios, universidades, como um “sacoleiro”.
“Acreditando muito em mim eu continuei nesse processo, depois vim aqui para Mato Grosso, e senti que Cuiabá era uma cidade em crescimento, que tinha uma arquitetura bonita, existia um movimento de arte, porque o Rio de Janeiro é uma cidade muito grande, tem muitas pessoas, e vi que aqui iria desenvolver um trabalho mais tranquilo”, disse.
Já em Cuiabá, sua primeira investida foi alugar uma casa da Avenida Getúlio Vargas, próximo ao Choppão, onde inaugurou o que seria a versão prematura da “Galeria Pádua de Arte”.
Um bar foi montado no espaço com o nome “Galeria Bar”, e aos poucos foi se tornando um ponto de encontro e confraternização de artistas, imprensa e pessoas que figuravam nas colunas sociais.
“Esse pessoal todo, quando eles pagam menos rola um certo constrangimento, porque eles gostam de pagar mais. Aí uma peça avaliada em R$ 5 mil, com lance inicial decrescente de R$ 10 mil, quando chegava aos R$ 7 mil já não abaixava mais, e se fosse abaixando, quando chegava no preço original eu batia o martelo e pronto. Então o trabalho era vendido pelo valor que era avaliado”, explicou .
Naquela noite, o escultor conseguiu leiloar todas as obras presentes em sua galeria, e assim, em meados de 1985, deu entrada no terreno que hoje acomoda as instalações da atual Galeria de Arte Pádua, na Avenida Miguel Sutil, perto do Parque Mãe Bonifácia. Com a ajuda de engenheiros, ele conseguiu erguer a galeria desde os alicerces, uma estrutura icônica e singular assim como as suas obras.
“O primeiro evento que eu fiz pra abrir (a galeria) mesmo foi no ano 2000. Eu tinha essa proposta de chegar no ano 2000; ainda faltava muita coisa (para finalizar a obra), mas aí com a chegada de um novo século eu comecei a fazer eventos”, conta.
Pádua contou um pouco mais sobre os tempos áureos do espaço. “Já tivemos de tudo aqui. Nós já fizemos batizado, casamento, e até velório na Pádua. Recebíamos também eventos LGBTQIA+. Aí depois entrou o rock, era muito divertido. (Nos eventos) Havia muitos decoradores, muitos arquitetos, então aconteceram leilões de arte. E quando vinham os colunistas sociais, vinham também as ‘madames’”.
A Banda Vanguart, conhecida pela canção “Meu Sol”, foi uma das atrações que puderam mostrar seu trabalho nos espaço da galeria e que, hoje, figura entre os grandes nomes na música nacional.
Muito se especula sobre os porquês da galeria, que antigamente já serviu de palco para shows, eventos, exposições, ter se recolhido e permanecido ‘quietinha’ já há algum tempo. Pádua explica suas razões de ter cessado o movimento.
“Os eventos começaram a ficar muito grandes, a casa ficava cheia, e de repente começou uma história de que havia menores, droga... Com isso o Ministério Público veio, e não tínhamos ainda a documentação plena. Agora a gente faz alguns eventos mas são muito pequenos, na verdade a galeria nunca se fechou, apenas se reservou mais em relação à abertura”, confessou.
Atualmente, o contato com a galeria tem sido possível quase que exclusivamente presencial, já que o escultor não faz uso do telefone para contato e redes sociais que a galeria dispõe na internet, por conta de uma dificuldade em utilizar o touch dos Smartphones.
“Eu até comprei um telefone, fui acompanhando essa evolução, mas eu via que aquela coisa ficou muito digital, e as minhas mãos vivem com cimento e cola”.