14 de Fevereiro de 2025

CULTURA Segunda-feira, 24 de Outubro de 2022, 09:33 - A | A

AS OBRAS DE PÁDUA

Efervescente nos anos 2000, galeria agora vai abrigar um teatro

Inaugurado nos anos 2000, local abriga um acervo de mais de 30 mil esculturas do artista

PAULA SHAIRA - Midia News

galeria padua

 

Idealizada e construída pelo artista e escultor Antônio de Pádua Nobre, conhecido como Pádua, a galeria que leva seu nome abriga mais de 30 mil esculturas. O local, conhecido ponto de efervescência cultural dos anos 2000 e hoje um dos monumento às artes plásticas, está prestes a se transformar também em um refúgio das artes cênicas. É que Pádua está concretizando o sonho de erguer ali um teatro. 

 Construir o teatro é o maior e mais caro desafio nesta trajetória de 22 anos de espaço. “A galeria enfim está pronta. Agora só falta o teatro, que é a parte de cima. Esse teatro é a parte que ficou naturalmente para o final, e é também a parte mais cara, porque é repleta de coisas que eu não tenho e não sei fazer, mas alguma coisa eu já fiz. As poltronas eu vou fazer!", projeta.

 De família humilde, e nascido no interior do Ceará, o artista foi morar no Rio de Janeiro aos 17 anos, com a intenção de estudar e viver da sua arte. Na “Cidade Maravilhosa” ele enchia uma sacola de plástico com suas esculturas, ia de porta em porta, e vendia suas peças em lojas, escritórios, universidades, como um “sacoleiro”.

 “Acreditando muito em mim eu continuei nesse processo, depois vim aqui para Mato Grosso, e senti que Cuiabá era uma cidade em crescimento, que tinha uma arquitetura bonita, existia um movimento de arte, porque o Rio de Janeiro é uma cidade muito grande, tem muitas pessoas, e vi que aqui iria desenvolver um trabalho mais tranquilo”, disse.

Já em Cuiabá, sua primeira investida foi alugar uma casa da Avenida Getúlio Vargas, próximo ao Choppão, onde inaugurou o que seria a versão prematura da “Galeria Pádua de Arte”.

 Um bar foi montado no espaço com o nome “Galeria Bar”, e aos poucos foi se tornando um ponto de encontro e confraternização de artistas, imprensa e pessoas que figuravam nas colunas sociais.

“Esse pessoal todo, quando eles pagam menos rola um certo constrangimento, porque eles gostam de pagar mais. Aí uma peça avaliada em R$ 5 mil, com lance inicial decrescente de R$ 10 mil, quando chegava aos R$ 7 mil já não abaixava mais, e se fosse abaixando, quando chegava no preço original eu batia o martelo e pronto. Então o trabalho era vendido pelo valor que era avaliado”, explicou .

 Naquela noite, o escultor conseguiu leiloar todas as obras presentes em sua galeria, e assim, em meados de 1985, deu entrada no terreno que hoje acomoda as instalações da atual Galeria de Arte Pádua, na Avenida Miguel Sutil, perto do Parque Mãe Bonifácia. Com a ajuda de engenheiros, ele conseguiu erguer a galeria desde os alicerces, uma estrutura icônica e singular assim como as suas obras.

 “O primeiro evento que eu fiz pra abrir (a galeria) mesmo foi no ano 2000. Eu tinha essa proposta de chegar no ano 2000; ainda faltava muita coisa (para finalizar a obra), mas aí com a chegada de um novo século eu comecei a fazer eventos”, conta.

 Pádua contou um pouco mais sobre os tempos áureos do espaço. “Já tivemos de tudo aqui. Nós já fizemos batizado, casamento, e até velório na Pádua. Recebíamos também eventos LGBTQIA+. Aí depois entrou o rock, era muito divertido. (Nos eventos) Havia muitos decoradores, muitos arquitetos, então aconteceram leilões de arte. E quando vinham os colunistas sociais, vinham também as ‘madames’”.

 A Banda Vanguart, conhecida pela canção “Meu Sol”, foi uma das atrações que puderam mostrar seu trabalho nos espaço da galeria e que, hoje, figura entre os grandes nomes na música nacional. 

 Muito se especula sobre os porquês da galeria, que antigamente já serviu de palco para shows, eventos, exposições, ter se recolhido e permanecido ‘quietinha’ já há algum tempo. Pádua explica suas razões de ter cessado o movimento.

Paula Shaira/MidiaNews

Galeria Pádua

Teatro ainda não finalizado da Galeria Pádua

 “Os eventos começaram a ficar muito grandes, a casa ficava cheia, e de repente começou uma história de que havia menores, droga... Com isso o Ministério Público veio, e não tínhamos ainda a documentação plena. Agora a gente faz alguns eventos mas são muito pequenos, na verdade a galeria nunca se fechou, apenas se reservou mais em relação à abertura”, confessou.

 Atualmente, o contato com a galeria tem sido possível quase que exclusivamente presencial, já que o escultor não faz uso do telefone para contato e redes sociais que a galeria dispõe na internet, por conta de uma dificuldade em utilizar o touch dos Smartphones.

 “Eu até comprei um telefone, fui acompanhando essa evolução, mas eu via que aquela coisa ficou muito digital, e as minhas mãos vivem com cimento e cola”.



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