Comerciantes e moradores que transitam na Rua 27 de dezembro, conhecida como Beco do Candeeiro, no Centro histórico de Cuiabá, reclamam da sensação de insegurança e do aumento na depredação da região.
O Beco, um lugar de importância histórica para a cidade, havia sido revitalizado e entregue pela Prefeitura de Cuiabá à população em maio de 2021, após décadas de abandono.
Agora, volta a ter presença constante de pessoas em situação de rua que são usuárias de drogas e que depredam o local.
“Já degradaram corrimão, bancos, placas de estátuas, até vasos de planta. Não sei mais o que falta ali no Beco, tudo já acabou”, denuncia uma moradora que frequenta a região e prefere não se identificar.
A área fica próxima ao tradicional calçadão, região de forte comércio popular de Cuiabá e que abriga muitas lojas. Os comerciantes relatam que os clientes às vezes ficam com medo e preferem não ir mais até as lojas.
“Ninguém mais vem pra cá, ficam com medo. Está muito feio, o Beco voltou a ser o que era [antes da revitalização]”, reclama uma comerciante da região, que também preferiu não se identificar.
Uma vendedora de outro estabelecimento também reclama do impacto nas vendas. “Acaba atrapalhando bastante o movimento. Muito cliente fica com medo de vir para cá. Semana passada um cara entrou aqui na loja por uma das portas laterais e ele só saiu por perceber a presença de uma viatura da Polícia perto. Agora não abrimos mais essa porta”, relatou.
Pessoas no local relataram que uma loja de artesanato que ficava no beco precisou ser fechada pelos donos e vai mudar de local, pois não tinham condições de continuar abertos com a situação da região.
Decadência
Logo depois de restaurado, o Beco do Candeeiro voltou à cena cultural da cidade. Comerciantes e frequentadores da região contam que o poder público realizava diversas ações, como show e eventos culturais, mas que isso acabou com o tempo.
“Havia muitos eventos, muitos turistas frequentando, mas de dezembro pra cá aproximadamente, ficou totalmente abandonado. Os moradores de rua voltaram e há uns dois meses começaram a levar os bancos, quebrarem os candeeiros para roubar os fios de luz... E por último começaram a roubar os postes de ferro de estilo antigo que haviam sido colocados. Por fim os corrimões de inox foram arrancados e levados”, relatou uma comerciante.
A mesma comerciante também conta que a região virou um point de diversos grupos sociais, uma opção de lazer aos cuiabanos, mas hoje com a situação de abandono, as pessoas perderam o interesse e têm medo de frequentarem o local.
“Depois que foi restaurado, aqui voltou a ser frequentado. A cuiabania antiga, os jovens vinham muito, muitas filmagens e gravações e agora acabou. Os turistas mesmo, que antes vinham, não vêm mais. Perdemos muito com isso. O nosso Centro Histórico, que era pra ser tão bonito, está abandonado”, lamenta.
Uma moradora de uma rua próxima relata que eventuais ações policiais fazem as pessoas em situação de rua que vivem no Beco depredarem mais ainda a rua. “Depois do inicio do ano houve um abandono na região e os moradores em situação de rua voltaram. Quando há alguma ação da polícia eles ficam mais revoltados e depois quebram tudo”.
Segundo ela, a situação só piora porque a maioria dessas pessoas são usuárias de drogas. “Às vezes oito, nove horas da manhã tem cerca de 100 aqui consumindo drogas”, diz.
Uma vendedora de um comércio vizinho reclamou da eficiência das ações de segurança. “Acho que o que falta é investir na segurança, colocar alguém para ficar sempre, 24 horas. Porque não adianta nada reformar e não vigiar que eles voltam e depredam tudo”, disse.
Porém ela pontua que de meia noite às seis da manhã, a polícia já passou a fazer rondas, pois era o período que não ficava mais nenhuma viatura monitorando e os vândalos se aproveitavam disso.
Em nota, a Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer de Cuiabá esclareceu que as atividades na localidade estão temporariamente suspensas, em razão da reorganização de ações para enaltecer a cuiabania e o Centro Histórico de Cuiabá.
A Pasta admite que o logradouro vem sofrendo furtos (como das arandelas) e demais materiais de iluminação e que isso acarreta em prejuízos à utilização do espaço mas diz que mantém diálogo junto à Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) buscando uma parceria para a retomada das atividades.
A restauração
A região passou recentemente por uma restauração e voltou a ser frequentada e servir de espaços para diversos eventos culturais e gravações televisivas. A obra de revitalização contou com apoio do Instituto Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan).
Com o objetivo de chegar o mais próximo de sua construção original, os paralelepípedos foram mantidos, todas as fachadas das casas restauradas com cores originais e candeeiros antigos recolocados com uma iluminação moderna.
Em outubro, três vereadoras de Cuiabá assinaram “A Carta do Beco”, um documento que faz apelo por políticas públicas do poder público para a população que vive em situação de rua e usuária de drogas que vive no Beco do Candeeiro e também em outros pontos da cidade como o Morro da Luz e o bairro do Porto.