03 de Outubro de 2024

CIDADES Segunda-feira, 04 de Março de 2024, 08:05 - A | A

VULNERABILIDADE SOCIAL

Bosque da Saúde vive migração de moradores de rua da região central de Cuiabá

Pessoas que frequentam a região da avenida do CPA, nas imediações do bairro, ficam com receio de passar por lá, principalmente à noite e especialmente as mulheres

SABRINA VENTRESQUI -HNT

bosque da saude cba

 

A demolição de um casarão na avenida Prainha, em Cuiabá, que abrigava pessoas em situação de rua, desencadeou um processo migratório desse público para outros bairros da cidade. Um deles é o Bosque da Saúde. Ao passar pela avenida Historiador Rubens de Mendonça - popularmente conhecida como do CPA - nas imediações do bairro, é possível observar um acúmulo de moradores de rua dormindo em frente a diversos estabelecimentos comerciais, o que pode causar uma sensação de insegurança aos demais que precisam, diariamente ou esporaricamente, frequentar a região.

É claro que quem faz o mesmo caminho todos os dias já está habituado à presença dos novos 'moradores'. Mas as pessoas que não frequentam a movimentada avenida da Capital ficam com receio de passar pela região e têm uma sensação de insegurança, principalmente à noite e especialmente as mulheres.

Como é o caso da confeiteira Vanusa Gomes, de 50 anos. Ela passa todos os dias pelo ponto de ônibus localizado embaixo do viaduto da avenida do CPA para ir à academia. “Medo, a gente tem medo.Tem que estar vigiando para ver se alguém não vai 'pegar' você. De dia, eu não tenho medo, porque está movimentado, mas a partir das 20h ou 21h, fica perigoso”, comentou.

 

A estudante Thaís Arruda, de 22 anos, contou que alguns andarilhos já chegaram a xingá-la, o que a deixou apreensiva. “Uma vez eu estava em um posto de gasolina aqui na avenida do CPA e uma mulher [em situação de rua] chegou para mim do nada, falando que eu queria matar ela. E outro homem que passa xingando as pessoas. Aí, fica todo mundo com medo. Lá no terminal do CPA 1, uma já tentou puxar meu cabelo e outro jogou um chinelo em minha direção. Graças a Deus, todas as vezes que mexeram comigo, eu estava acompanhada”, descreveu.

O balconista de uma farmácia da região, Wender Rodrigues, de 27 anos, narrou que já presenciou diversas pessoas em situação de rua abordando os clientes, o que ele atribuiu como um fator que contribui para que a população fique acuada.

Aqui, nessa área, é muito comum eles abordarem as pessoas, pedir fralda, leite, alimentos. E até acho que é isso que deixa as pessoas com medo, apreensivas. E é ruim até para o próprio comércio, porque as pessoas podem não frequentar determinado estabelecimento comercial por ficarem acuadas. Então, pode ser algo negativo para o próprio ponto”, pontuou. 

Na opinião dele, a presença de pessoas em situação de rua na avenida do CPA é negativa para os comércios da região. Wender ainda disse notar que a população se sente pressionada a contribuir com doações, por medo de represálias. “Aqui é algo muito negativo, porque ‘queima’ os pontos comerciais. As pessoas se sentem pressionadas a ajudar só para não ter uma represália. Então, é muito negativo para esse setor, farmácia, restaurante”, disse.

Contudo, o balconista informou nunca ter presenciado uma pessoa em situação de rua agredindo alguém ou promovendo algum ato de retaliação por não ter recebido doação, como furar o pneu do carro da pessoa, por exemplo. 

OUTRA VISÃO

Embora a população se sinta insegura, os trabalhadores da região têm uma visão diferente. A gerente de um salão de cabeleireiro que funcionou por muitos anos na avenida do CPA, mas que agora está instalado dentro do bairro Bosque da Saúde, algumas quadras à frente, Lídia Ribeirinho Arikawa, relatou que convive com algumas pessoas em situação de rua há muitos anos e que eles a protegem quando ela precisa ir para o ponto de ônibus à noite.

Eu vou tarde às vezes para o ponto de ônibus e muitas vezes eles me acompanham. Nunca fizeram mal para a gente. Esses que a gente conhece nunca tentaram arrombar o salão, por exemplo. Eu não tenho medo, porque eles sempre foram amigáveis com a gente. Eles até falavam para a gente ficar tranquilo porque eles não faziam nada. Eles pedem porque estão com fome, mas não posso falar que me dá medo. Eu não tenho [medo], mas muita gente tem”, relatou.

Lídia ainda contou que já presenciou um dos homens em situação de rua ajudando a evitar que uma caminhonete fosse roubada na avenida. “Tinha uma caminhonete no Japidinho e uns caras que foram assaltar. Eles vieram nos alertar e nós ligamos para o estabelecimento para avisar do roubo”, disse.

A presença de andarilhos não é exclusiva da avenida do CPA. É possível vê-los em diversos pontos da cidade, como na estação Alencastro e no Beco do Candeeiro, no Centro.

Procurada pelo HNT, a Prefeitura de Cuiabá informou que a capital possui quatro albergues, que podem abrigar 270 pessoas, e realiza uma série de ações para assistir à população que está em situação de rua, como o projeto “Quero te Conhecer”, que consiste na abordagem social da população em situação de rua para sensibilização e reconhecimento da importância do acolhimento em uma das quatro unidades do município ou, até mesmo, contribuir para que essas pessoas retornem às cidades de origem.

Além disso, a prefeitura acrecentou que Cuiabá conta com 14 unidades do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), que cadastram as pessoas em programas sociais, como o Bolsa Família, por exemplo. No entanto, a gestão municipal explicou que não existem ações compulsórias, ou seja, que obriguem a pessoa a sair da rua.

VEJA A NOTA

A Secretaria Municipal de Assistência Social, Direitos Humanos e da Pessoa Com Deficiência realiza de forma contínua projetos de busca ativa à população em situação de rua e ou vulnerabilidade social.

Trata-se do “Quero te Conhecer” Pop Rua que consiste na abordagem social da população em situação de rua para sensibilização e reconhecimento da importância do acolhimento em uma das quatro unidades do município ou até mesmo, contribuir para que essas pessoas retornem às cidades de origem; e Imigrantes para sensibilização desta população que utiliza das ruas na capital;

-O município conta com 14 (quatorze) unidades do Centro de Referência de Assistência Social- CRAS, que oferecem o serviço de fortalecimento de vínculos, bem como realizam o cadastramento de famílias junto ao Cadastro Único possibilitando o acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) e ao Programa Bolsa Família, dentre outros;

-Mediante Cadastro, aquelas famílias que necessitam de cestas básicas e caixas de leite, recebem benefícios eventuais, como cestas básicas mensalmente;

-Reitera que os serviços da política de Assistência Social são escopo de atuação e realizados de forma rotineira pela busca da garantia de direitos das famílias atendidas;

Possui ainda, unidades de Acolhimento para Adultos, da Guia, Manoel Miraglia, do Porto, cada uma com 50 vagas;

Além da Associação Terapêutica Paraíso, com 120 vagas. O município conta com toda estrutura. Os encaminhamentos são feitos pelos Creas e Centro Pop.

 


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